O Sr. Professor-comissário europeu Olli Rehn, com uma desfaçatez e falta de rigor que só a impunidade pouco democrática do cargo torna possíveis, virou-se para os manos portuguesinho e espanholito, e disse-lhes: “Meus meninos, vocês não sabem a lição nem apresentaram os trabalhos de casa. Que é feito dos cortes nas pensões e nos direitos dos trabalhadores que eu vos mandei fazer?”
E o portuguesinho-vieirinha da silva logo se sentiu da injustiça: “Mas, senhor professor, não fui eu que fiz mal, não só já cortei nas pensões como até adiantei trabalho para a lição de amanhã, e mandei fechar uma data de escolas do interior portuguesinho. Foi o meu mano-zapaterinho! Ele é que ainda não cortou nas pensões!”
“Portuguesinhos e espanholitos, é tudo a mesma coisa!” – retorquiu o Sr. Professor-comissário euro-apátrida - “Se já cortaste nas pensões, não cortou o teu mano, e tratem mas é os dois de atacar forte e rápido nas leis do trabalho, para porem os vossos párias a produzir mais, com menos despesa!”
Já o Sr. Professor-banqueiro ex-português Victor Constâncio, parece menos irritado com os seus alunos, pois seguiu descansado para a Alemanha, onde irá ganhar mais do que a cascarrilha de 17.817 euros/mês que lhe pagava a sua ex-pátria, deixando no lugar, apesar dessa miséria de ordenado, um aluno trabalhador e aplicado, o portuguesinho transfuga - carlos costinha, que de imediato e em bicos de pés decidiu recomendar a todos os párias, que (embora não gostem) se vêem obrigados a trabalhar, um travão generalizado aos seus salários “…para aumentar a sua baixa competitividade…” (justificou).
Mas afinal o que é isso de “portuguesinho” (já que hoje se comemora o seu dia) para os Srs. Comissários-banqueiros apátridas? Um povo herdeiro de longa história, por Camões relatada, feita de muitos personagens, filho de lusitanos, de romanos, de visigodos e suevos, de árabes e berberes, de escravos negros e outros, reunido num estado soberano, numa nação quase milenar? Ou um joguete e aluno mal aplicado de um curso especial para ineptos mediterrânicos, ministrado pelas agências “socialistas” e “social-democratas” (só mesmo por apelido) das finanças europeias?
E estas sucessivas (e recessivas) restrições sociais injustas, porquê? Nem para “salvar” Portugal (por mais que os portuguesinhos sócratinos e passos-coelhinhos insistam na mentira), nem sequer para “salvar” a Europa, mas tão simplesmente - esclarecem os nossos Comissários-banqueiros - para salvar a moeda!
Direi eu então: Alguém parece estar profundamente equivocado e quer fazer com que os outros também fiquem. A verdade é que, do outro lado do Atlântico, o Governo dos EUA tem hoje uma dívida em dólares maior do que a totalidade dos dólares existentes naquele país (se esvaziasse as algibeiras a todos os norte-americanos, nem assim a saldaria). Uma dívida pública (directa e indirecta) que está nos 110% do PIB e é matematicamente impossível de liquidar, mas nem por isso o Governo Norte-americano deixa de a agravar todos os dias, sem apoquentações, despendendo recursos imensos em investimentos não produtivos, como bases militares e actos de guerra estendidos pelo mundo inteiro…
Defender a moeda acima de tudo, Srs. Comissários-banqueiros? Ou estará esta história, a nossa história contemporânea (portuguesinha ou não) a ser muito mal contada?
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado no jornal "Diário dos Açores" na sua edição do dia 11 de Junho de 2010