DOP/UA – O parente pobre?

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José Decq MotaArtigo de opinião de Jo´se Decq Mota

Estamos, aqui nos Açores, num tempo em que várias entidades públicas se atrevem a procurar mexer em questões de fundo, sem passar cavaco a ninguém.

A recente decisão interna da Universidade dos Açores (UA) de abrir, em Ponta Delgada, uma Licenciatura em Ciências do Mar, proposta pelo Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP), sediado na Horta, configura uma atitude grave, à partida contrária a um dos princípios fundadores da Universidade dos Açores, que é o princípio da tripolaridade.

Todos sabemos que o DOP, apesar de ter funcionado muitos anos em instalações altamente precárias, o que não sucede hoje; apesar dos cerca de 100 trabalhadores que tem só 25 terem um vinculo sólido à UA, sendo a maior parte dos investigadores altamente credenciados de que dispõe, trabalhadores precários de projectos; apesar de ter apenas sete doutorados catedráticos ou equiparados; apesar da última contratação definitiva se ter dado há mais de 20 anos; apesar de tudo isso, é a face científica pública, nacional e internacional, mais forte da UA, com trabalho de investigação bem feito, com mestrados prestigiados e com uma vasta rede de parcerias científicas.

Todos sabemos também que existiram Reitores que muito fizeram para retirar o DOP da Horta, como existiram outros que desenvolveram os mandatos, defendendo a tripolaridade. Actualmente, sem conversa prévia, o actual Reitor e os outros Órgãos da Universidade, procedem tal e qual o dentista que, sem avisar, tira um dente são ao paciente! Licenciatura sim, mas e S. Miguel! Os argumentos para essa decisão oscilam entre o fraco e o patético: Fraco: poucos catedráticos na Horta; patético: o DOP não tem refeitório.

A UA e o poder político só têm que consolidar a tripolaridade, criar condições nos três pólos (Ponta Delgada, Angra e Horta) e deixar de tratar qualquer dos pólos como parente pobre. Esta decisão tem que ser revista e a licenciatura em ciências do mar ser ministrada no departamento competente: o DOP.

Canto do Capelo, 18 de Abril de 2015

José Decq Mota