Visita ao Faial (1) - O Passado que determina o presente

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jose_decq_motta.jpgAs minhas próximas colaborações com o “Tribuna” procurarão ser uma “visita ao Faial” feita por quem, embora cá vivendo, não se cansa de encontrar potencialidades de desenvolvimento para a nossa ilha.

Infelizmente também deparamos, a cada passo, com posturas desadequadas de uns, desanimadas de outros e cépticas de muitos, quanto às possibilidades, de desenvolvimento futuro do Faial. Nesta “visita”, guiada pelas minhas preocupações, procurarei levantar questões que possam suscitar debate e reflexão porque o futuro só se constrói com o empenhamento dos cidadãos. Vivemos numa ilha que é a 5ª em dimensão do território, mas que teve um povoamento facilitado pela existência de uma boa baía natural e pela benignidade dos seus terrenos. O povoamento do Faial fez-se com relativa facilidade, em comparação com outras ilhas. A natureza encarregou-se de arranjar um local onde o núcleo populacional principal se devia estabelecer. Naturalmente que esse local teria de ser junto à baía que dava abrigo aos navios. Os séculos foram passando e a baía fronteira à ilha do Pico foi-se transformando num porto que rapidamente começou a figurar no mapa. A localidade que nasceu com o povoamento junto a essa baía, passou a ser o núcleo urbano do Faial e o maior núcleo urbano para oeste da Terceira.

O porto que foi nascendo recebeu o nome da terra que ao pé dele cresceu. Assim o nome da Horta foi circulando porque nessa pequenina localidade havia um porto que, com o tempo, foi sendo procurado. A vila da Horta passa a cidade no século XIX e a Horta passa a capital de distrito pouco depois, certamente por ser o meio urbano maior nas Ilhas agrupadas no novo distrito e de dispor de um bom porto natural, nesse século já muito procurado. Não foi também por acaso que nos finais do século XVIII e no século XIX se fixaram na Horta comerciantes estrangeiros muito virados para actividades ligadas à escala de navios e à venda para o estrangeiro de produtos das nossas ilhas. Foi a existência do porto da Horta que motivou, de entre outros, os Dabney a instalarem-se durante várias gerações na nossa terra.

A ilha do Faial, pelas suas características naturais, ganhou importância no contexto do Arquipélago e nela nasceu a 3ª cidade açoriana. É necessário recordar a génese das situações porque a história é um processo complexo que molda as realidades. A nossa realidade de hoje é consequência da nossa história e a construção do nosso futuro tem que ser pensada com os pés bem assentes na nossa realidade. A Horta é hoje uma pequena cidade, com um porto muito bem especializado na recepção da navegação internacional de recreio. A Horta é também um dos três centros político-administrativos regionais e nela está sediada a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores. Na Horta existe um dos três Hospitais Regionais. Na Horta está um dos três pólos da Universidade dos Açores. Esta realidade dos dias de hoje, enraizada num passado que remonta ao povoamento dos Açores, torna bem clara a responsabilidade e importância que tem tudo quanto se faça, ou não faça, pelo desenvolvimento do Faial. A descentralização da estrutura político-administrativa regional foi uma das estratégias para a implantação do Sistema Autonómico; a criação de três Hospitais Regionais, no novo Serviço Regional de Saúde, resultou da dispersão; a criação de três pólos da Universidade dos Açores, sediados nas três cidades históricas, resulta do papel que, ao longo da História, todas elas tiveram no ramo da Educação.

Temos assim que a Horta, sendo como é, uma muito pequena cidade, não deixa de ser uma cidade que tem muito a ver com a vida da Região e uma cidade que, pelo seu porto, é falada por esse Mundo na razão inversa do seu tamanho. Cabe a nós faialenses fazer o que pudermos para que, no quadro do desenvolvimento harmónico e equilibrado que se deseja para todas as nove ilhas, esta pequena cidade possa continuar à altura de dar o contributo positivo que deu ao longo da nossa História de 5 séculos. Para que seja assim temos que saber o que queremos. Temos que pensar no que podemos fazer. Não podemos ser submissos a interesses maiores. Não podemos ser arrogantes com os concelhos e ilhas vizinhas. Na realidade dos dias de hoje o único pensamento possível é que o desenvolvimento geral interessa-nos, o desenvolvimento dos que nos estão próximos é importante para nós e o nosso desenvolvimento é importante para todos eles. A ilha do Faial e a sua cidade da Horta tem um papel a desempenhar, no seguimento daquele que historicamente lhe foi cabendo. Negar isso, como já ouvi de bocas bem “responsáveis” é negar tudo. Dizer-se que não temos qualquer papel, porque somos pequenos, é o mesmo que dizer que tudo isso que somos deve ser transferido para alguma das ilhas maiores. Construir o futuro a partir de um presente que o passado ergueu é o nosso desafio.

José Decq Mota no “Tribuna das Ilhas” 18 03 05