Fazer crescer o porto da Horta

jose_decq_motta.jpgNa ampla baia da Horta, na qual nos finais do século XIX foi construída a doca, encontra-se o Porto da Horta, conhecido há muito e que já foi porto de escala para muitos tipos de navios, base de actividade para alguns, ponto de apoio militar-naval, local de amarração de cabos submarinos, aeroporto de hidroaviões pioneiros e de hidroaviões comerciais.

Neste porto muito doentes desembarcaram, muitos navios foram reparados, algum contrabando se fez, muitas coisas se pensaram e fizeram. Hoje, para além da normal actividade comercial com navios de carga e passageiros (de Verão), para além da actividade piscatória geradora de bom rendimento, o Porto da Horta é o porto português mais conhecido da navegação internacional de recreio. Já não são os navios baleeiros a encher a baia, ou as escunas e brigues ao serviço dos Dabney e outros, ou os vapores com avaria ou a carregar carvão, ou os navios de guerra ingleses nas duas grandes guerras, ou os navios do cabo submarino, ou ainda os rebocadores holandeses da Smith a dar colorido ao nosso porto. Hoje, de Abril a Agosto, são mais de 1000 os barcos de recreio que aqui entram, atracam ou ancoram quando a Marina está cheia e lançam vários milhares de homens e mulheres que a partir do Peter, animam esta ilha e a sua economia. Hoje vêm regularmente os porta-contentores, com contentores cheios mas com pouca mercadoria para levar, o navio tanque com os combustíveis, o butaneiro com o gás e um ou outro navio frigorífico com peixe congelado importado pela indústria de conserva.

De Verão entram e saem os “ferry-boat” que por aí andam e volta e meia aparece algum navio de cruzeiro. Este movimento comercial do nosso porto corresponde ao nosso tamanho e corresponde ao nosso grau de desenvolvimento. O movimento de embarcações de recreio, resultante da nossa posição geográfica e resultante da divulgação desta terra que alguns fizeram, nomeadamente os Senhores Henrique Azevedo (Janeiro) e José Azevedo (Peter), o Clube Naval da Horta e alguns outros, constitui a grande actividade de fundo deste grande pequeno porto. Não nos podemos também esquecer das 400.000 pessoas que hoje circulam entre o Faial e o Pico e, também, São Jorge e isto apesar da gare marítima que temos não ter préstimo sequer para 4.000! Não nos podemos ainda esquecer que nesta cidade existe um prestigiado Departamento Universitário de investigação do mar (DOP) e que, com naturalidade, este porto terá que ser cada vez mais uma base de apoio aos navios e meios que se dedicam a esses trabalhos de investigação do mar. Quem hoje entra na Praça Manuel de Arriaga, vindo da Travessa do Borratem, dá de caras com um objecto amarelo, com uma forma semelhante a um barco, que está varada ao pé de barcos a motor e à vela. Os menos informados ficam a pensar o que será aquilo e se questionarem algum dos muitos cidadãos que diariamente andam por ali, ficam a saber que se trata do submarino de investigação “LULA”, da Fundação Rebikoff-Nieggeler, com sede na Horta.

O simples facto do “LULA”, ser da Horta e ser o único submarino de investigação português, diz muito sobre a potencialidade deste porto como porto que no futuro próximo ganhará destaque nessas actividades de investigação. O DOP e tudo o que ele atrai, a Fundação Rebikoff e o seu submarino, as características da dorsal médio-atlântica, apontam para que essa potencialidade se desenvolva realmente, desde que se criem condições para isso. Há ainda que referenciar melhor a actividade piscatória, que precisa de mais espaço útil dentro do porto e as novas actividades marítimo-turísticas que já movimentam apreciável número de embarcações de vário tipo utilizadas no “whale-watching”, no apoio ao mergulho turístico, no apoio a modalidades náuticas diversas e no simples passeio no mar. Este nosso Porto da Horta, da Primavera ao Outono é já pequeno para as suas actividades, dispõe de pouco espaço útil em terra e precisa, com urgência, de ser reordenado e alargado nos seus espaços abrigados de mar, nos seus molhes e nas suas infraestruturas de apoio. Não basta dizer que isso vai acontecer, como hoje se diz já com alguma ênfase.

É preciso trabalhar para que isso aconteça e que se não tenha que esperar dezenas de anos por obras essenciais. Precisamos de mais espaço no mar e em terra para iates de recreio; precisamos de uma zona condigna para o tráfego local de passageiros e para operação de “ferry- boats”; precisamos de zonas interiores melhor protegidas para a frota de pesca; precisamos de ter espaço de atracação e amarração para navios ligados à investigação do mar; precisamos de criar condições de funcionamento para as muitas empresas marítimo-turísticas e de apoios técnicos que começam e aparecer; precisamos de dotar o Clube Naval da Horta com uma sede compatível com a dimensão e a actividade daquela instituição. É para mim liquido que o Porto da Horta precisa de um contra molhe, lançado a norte, para que novos espaços abrigados sejam criados e para que o espaço existente seja reordenado. É urgente que se projecte esse vasto conjunto de obras, para que comecem pela ponta certa no espaço de tempo mais breve possível. O Porto da Horta ainda é hoje e será no futuro essencial ao Faial e aos Açores, mesmo que haja quem não queira perceber ou aceitar isso. Por tudo isto temos que continuar a lutar pela ampliação e reordenamento do nosso porto, contra os ventos do imobilismo, as marés da acomodação, os vícios dos seguidismos e o marasmo dos indolentes.

José Decq Mota no "Tribuna das Ilhas" 1 04 05