O nosso “Calcanhar de Aquiles”

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jose_decq_motta.jpgPercorrendo esta ilha do Faial rapidamente se percebe que ela tem múltiplas potencialidades, que estão na base da nossa vida actual, mas que são, também, as premissas essenciais do nosso desenvolvimento.

A capacidade agrícola e pecuária é indesmentível e se foi, ao longo da história, responsável pela subsistência, tem sido nos últimos 30 anos responsável pelo desenvolvimento da qualidade de vida do mundo rural. A existência da cidade da Horta, nascida de circunstâncias históricas e geográficas já referidas, implica a existência de serviços de todo o tipo, uns dimensionados para a ilha, outros concebidos numa perspectiva regional ou sub-regional. A proximidade de zonas de pesca importantes constitui outra potencialidade histórica e presente desde que o respectivo aproveitamento seja efectivado de forma racional e sustentada. Na minha óptica o desenvolvimento económico e social do Faial depende, em primeira instância, da boa articulação que se saiba e queira fazer entre a capacidade de ter economia produtiva e a capacidade de ter uma economia de serviços. Nem sempre se tem sabido e querido encontrar esse ponto de equilíbrio. Mas o desenvolvimento em sentido amplo e socialmente útil não se faz só de economia, mas faz-se essencialmente com e para as pessoas, o que determina a urgente necessidade de se resolverem velhíssimos problemas locais ligados ao ensino, ao aproveitamento das múltiplas capacidades culturais existentes e ligadas, principalmente, à criação de vontade colectiva de encontrar soluções adequadas. Vivemos um momento da nossa história muito marcado por desânimos que resultam de um objectivo “passar para trás” que tem marcado a postura dos poderes regionais em relação a esta ilha.

Sofremos também todas as consequências resultantes do facto de, maioritariamente, termos vindo a escolher um poder autárquico carente de estratégia e carente de qualidade. A ultrapassagem destas situações e a afirmação de um claro processo de desenvolvimento económico e social, se é verdade que não depende só de nós, é também verdade que está muito ligada à nossa própria capacidade de fazermos mais e melhor e de lutarmos por mais e melhor. Se a tivermos ou a criarmos daremos passos para diante, se não a tivermos ficaremos a andar ao ritmo de caracol que nos tem sido imposto. 2. A partir deste mês andamos pelas ruas principais da Horta e até nos esquecemos que muitas daquelas casas não estão aproveitadas, pois o que vemos é o multicolor movimento que resulta desse tipo especial de visitantes que são os iatistas. Falam-se muitas línguas, trocam-se muitas divisas, compram-se e vendem-se muitos bens e serviços. De Abril a Setembro a antiga e pequena cidade da Horta assume-se de facto como sendo um dos mais importantes portos nacionais de recepção da navegação internacional de recreio e esse facto é hoje determinante para a economia desta ilha, deste conjunto de ilhas próximas e desta Região. Esquecer ou minimizar esta situação seria um grave “tiro no pé” que tem que ser evitado.

Para evitar qualquer retrocesso nesta situação é não só necessário reordenar o nosso porto, como se referiu em artigo anterior, como é necessário recuperar muito depressa da situação inclassificável de abandono a que chegaram a rede viária e os espaços urbanos. É também essencial que os empresários locais e a economia local não voltem a ter os seus “judas”, como aconteceu em vários momentos, nomeadamente com o programa PROCOM. 3. Em qualquer ilha as entradas e as saídas são essenciais. Já falámos do porto e em breve falaremos do aeroporto, mas temos que ter a ideia clara de que se essas entradas e saídas são determinantes, não é menos determinante a dinâmica económica, social, cultural que se cria ou que se não cria internamente. O nosso “calcanhar de Aquiles” tem sido esse e é esse ponto fraco que tem que ser corrigido. Está demonstrado que as capacidades existem em todos os níveis. Falta demonstrar que há vontade em as potenciar. Está demonstrado que o auto-isolamento não é solução. Falta demonstrar que temos capacidade de agir em cooperação com outros. Está demonstrado que é urgente haver mudanças de comportamentos internos. Falta demonstrar que é possível, no plano político, construir uma verdadeira alternativa que vise valorizar e desenvolver o Faial. Sá assim desaparecerá o nosso “calcanhar de Aquiles”.

José Decq Mota em Visita ao Faial (3) No “Tribuna das Ilhas” em 15 /04 / 05