Crónica revisitada

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anibal_pires.jpgA próxima segunda feira é dia de celebrar a liberdade e a democracia em Portugal. O texto que publiquei o ano passado para celebrar Abril retrata um estado de alma que, para além de se manter é-me difícil descrevê-lo de outro modo, assim, e perdoem-me os leitores, vou republicá-lo depois de feitas as necessárias e adequadas alterações de ordem cronológica e política.

«Nas primeiras horas do dia 25 de Abril de 1974 em Portugal dava-se início a um golpe militar. Golpe que a manhã desse dia e o povo transformaram em Revolução. Revolução portuguesa, dos cravos e de Abril. Os acontecimentos desse dia, e dos seguintes, constituíram uma ruptura com o passado e marcaram essa data como a mais importante do século XX português. A ruptura foi com um passado em que o horizonte dos jovens não ia para além de uma guerra que mutilava e matava, em que as canções, os livros e os filmes eram proibidos e as artes, a televisão, as rádios e os jornais censurados, um passado com uma taxa de analfabetismo de 34%, e em que mais de 50% dos lares portugueses não tinha água e 36% não dispunham de electricidade, um passado em que a emigração era o triste sonho e destino de centenas de milhar de portugueses. A ruptura foi contra um regime que prendia, torturava e assassinava quem ousasse dizer: - Não. Não concordo. A ruptura foi, com o atraso e o ostracismo a que o regime do Estado Novo votou Portugal. E, porque os acontecimentos de 25 de Abril de 1974 constituíram uma insurreição que bruscamente modificou o sistema político e as instituições do Estado português e não uma alteração lenta e gradual dentro do mesmo sistema político, o 25 de Abril é Revolução. Volvidos que são 31 anos da Revolução de Abril é tempo de comemorar.

Comemorar Abril é celebrar o dia em que Portugal se libertou do atraso, da censura, da guerra, do isolamento internacional a que estava votado, de uma polícia política que perseguia, torturava, prendia e assassinava. Comemorar Abril é celebrar a Revolução que libertou Portugal da ditadura que fez desta terra uma pátria madrasta. Comemorar Abril é celebrar a liberdade de expressão e associação, é celebrar a autonomia, é celebrar a democracia. Comemorar Abril é celebrar os soldados e oficiais que naquela madrugada saíram à rua, é celebrar as mulheres e homens que durante a ditadura deram o melhor de si para que um dia, a Revolução, fosse possível. Comemorar Abril é sorrir porque somos livres. Comemorar Abril é olhar para o presente e preparar o futuro. Mas, volvidos que são 31 anos da Revolução dos Cravos é também tempo de lutar. Lutar por Abril é não deixar fechar “...as portas que Abril abriu. ” Lutar por Abril é travar o assalto aos sectores sociais do estado, é combater a especulação financeira, é lutar contra a precarização do trabalho, é lutar pelo trabalho com direitos, é lutar contra a pobreza e a exclusão social, é lutar pelo desenvolvimento equilibrado e socialmente justo. Lutar por Abril é celebrar a autonomia. Lutar por Abril é defender a democracia, é participar, é ser cidadão a tempo inteiro. Lutar por Abril é lutar pela Paz e pelo reconhecimento da diferença. Lutar por Abril é celebrar a Revolução. Celebrar Abril é passear com um cravo vermelho na lapela.»

Aníbal C. Pires em “Olhares” No Açoriano Oriental