Ausências

Imprimir
anibal_pires.jpgAlguns cientistas sociais caracterizam o homem português (esposo e pai) como o “outro ausente” chegando mesmo a considerar que a sua afirmação, enquanto homem, só atinge a sua plenitude no local onde se fixa nas suas ausências.

Descansem os leitores e continuem até ao fim do texto porque não vou dissertar sobre a ausência do homem português. Aconselho, no entanto, a que façam uma reflexão sobre o tema que, por certo, encontrarão motivos de discussão bem curiosos. O próprio ditado popular “santos da terra não fazem milagres” terá, porventura, alguma relação com o desafio que vos fiz. Não acham? Mesmo considerando as excepções que confirmam a regra, sejam elas de base científica ou da sabedoria popular. Não prometo voltar ao assunto embora seja deveras interessante e por ele me interesse particularmente. Mas, também não digo que não. Quem sabe um dia, quando a minha própria reflexão, sobre “o outro ausente” e a sua afirmação longe da omnipresença da mãe portuguesa, tiver sido aprofundada não venha a este espaço ou outros discorrer sobre tão aliciante e, quiçá, controverso tema. Duvido que alguma vez tenha tempo para o fazer tal é o rol de tarefas que tenho agendadas para “um dia destes”. Mas nada como fazer planos e projectos para amanhã. Os projectos ajudam-nos a permanecer activos, participativos e, sobretudo, a sonhar e, como “o sonho comanda a vida” vou continuar a dar-lhe asas, mesmo sabendo que da minha agenda vão ficar muitos sonhos por cumprir.

Se ainda estão a ler este texto já se terão perguntado mas o que é que este escriba pretende com tal arrazoado? Está na altura de ir ao cerne da questão que afinal é mais simples e concreta que qualquer sonho ou discurso psicanalítico sobre homem português e da sua necessidade intrínseca de se ausentar (não levem isto muito a sério) até porque hoje essa necessidade não é, de todo, tão evidente assim. Bem a verdade é que me vou ausentar, não definitivamente e muito menos para buscar a minha afirmação em qualquer outro espaço ou local, até porque me sinto muito bem aqui. Este é o mais antigo jornal português e se outras razões não houvessem esta seria, por si só, mais do que suficiente para me sentir honrado por fazer parte dos seus colaboradores. Voltando à questão central vou ausentar-me. Volto daqui a três semanas. Esta ausência, que tanto custou a anunciar, é voluntária e de ordem pessoal e vai ser aproveitada, não apenas para descansar mas, sobretudo, para reflectir sobre esta actividade de cidadania activa que aqui assume a forma de partilha, com os meus concidadãos, de algumas preocupações sobre o presente e o futuro da Região, do país e do Mundo, sem nunca, obviamente, esquecer o passado. Voltarei ao vosso convívio na edição de 27 de Maio (se entretanto o Director não me dispensar. É que ainda o não informei de que vou, temporariamente, ausentar-me). Até lá. Fiquem bem e para que o sonho se cumpra celebrem Abril em Maio.

Aníbal C. Pires em “Olhares” No Açoriano Oriental em 29 /04/05