Uma sede condigna para o Clube Naval da Horta

jose_decq_motta.jpg1. Quando nesta série de artigos, tratei de questões relacionadas com o Porto da Horta referi que era necessário encontrar-se uma solução adequada para a sede do Clube Naval da Horta.

Quem conhece a realidade que é o Clube Naval da Horta sabe que o chamado Pavilhão Naútico não oferece um mínimo de condições para aquilo que são a actividade desportiva, o papel turístico e as necessidades sociais do nosso Clube Naval. Quem conhece a realidade sabe também que a reformulação e ampliação das instalações do CNH estão prometidas pelo Governo Regional já há longos anos, tendo inclusivamente chegado a constar no Plano de Médio Prazo uma verba para o efeito. Entretanto o tempo foi passando, as promessas foram sendo retardadas e o Clube Naval da Horta hoje dispõe de instalações que além de pequenas e claramente insuficientes, tem claros sinais de uma prematura degradação, muito visível depois do sismo de 1998. Acontece entretanto que o Clube Naval da Horta, que continua num claro processo de expansão, necessita de dispor de instalações, constituídas por edifícios e espaços livres, adequados à sua actividade e necessita de voltar a ter acesso ao mar para a sua frota ligeira. O tema ganhou, subitamente, grande actualidade porquanto a APTO, SA (Administração Portuária) enviou ao Clube Naval da Horta, para consulta, um projecto relacionado com as instalações, projecto esse que os Órgãos Sociais do Clube Naval da Horta resolveram pôr à consulta dos sócios com a finalidade de recolher opiniões.

2. É certo que este é um problema de especial interesse da massa associativa do Clube Naval da Horta, mas não é menos certo que é uma questão muito importante para a nossa Terra e o nosso futuro. Por essa razão quero registar aqui, neste espaço público e livre, algumas opiniões sobre a matéria. Nos anos em que desempenhei funções na Direcção do Clube Naval da Horta (Novembro de 96 a Abril de 2001) o problema das instalações já estava na ordem do dia e teve sempre um tratamento atento, envolvendo a então JAPH e mesmo, directamente, o Governo Regional dos Açores. A questão que sempre foi levantada pelo Clube Naval da Horta foi a da melhoria das instalações e de crescimento acentuado, quer do espaço coberto, quer do espaço aberto a ser gerido pelo Clube Naval da Horta. Nesse tempo o espaço aberto a Norte da cancela que existia a seguir à grua de pesca era gerida pelo Clube Naval da Horta, situação que deixou de ser assim depois de Abril de 2001. Acontece porém que esse espaço já era na altura, claramente insuficiente face às necessidades de um Clube que tem um elevado número de sócios com embarcações próprias, para além de ter uma frota própria em franca expansão.

Em todas as memórias descritivas enviadas, nessa altura, à Junta Autónoma do Porto da Horta e Governo, defendia-se a ampliação das actuais instalações, a construção, para Sul de um novo espaço coberto e o alargamento da área livre. Acontece entretanto que o actual edifício (Pavilhão Náutico construído no final dos anos 80 pelo Governo de então sem qualquer consulta ao Clube Naval da Horta), para além de todas as suas conhecidas limitações e insuficiências parece ter problemas estruturais prematuros dadas as largas infiltrações de água de que padece. Por outro lado, a transferência da pesca local para outra localização dentro do Porto, foi substituída pelo aparecimento de empresas de actividades marítimo turísticas que foram sendo instaladas no espaço em terra da bacia Sul da Marina, incluindo uma parte da área que entre 90 e 2001 foi gerida pelo Clube Naval da Horta. Hoje, depois da construção da bacia Sul da Marina toda a actividade do Clube Naval da Horta está condicionada pela distância do acesso ao mar e pela falta de espaço e são esses problemas que tem que ser resolvidos.

3. Foi pois com alguma perplexidade que tomei conhecimento que as obras que constam do projecto mandado elaborar pela APTO, SA, se limitam ao actual edifício. Ao que parece os armazéns crescem para a frente, aumentando o espaço em 35% e no 1º andar haverá um crescimento por cima dos armazéns para ambos os lados ficando o Clube Naval da Horta com espaço, nesse andar para serviços Administrativos, Bar e Restaurante. Devo dizer, com toda a franqueza, que essa proposta concebida para ser executada depois de 2007 pouco ou nada tem a ver com a realidade e com as necessidades do Clube Naval da Horta. O aumento de espaço no 1º andar é benvindo, como benvindo é o aumento de espaço dos actuais armazéns, mas isso que já era insuficiente em 1998, hoje ainda o é muito mais. O Clube Naval da Horta precisa de mais espaço coberto e livre; precisa de ter acesso ao mar; precisa de uma área que possa gerir.

Respeito totalmente todos os interesses envolvidos, nomeadamente das importantíssimas empresas de actividades marítimo turísticas, mas penso que haverá soluções que compatibilizem esses legítimos interesses com os do Clube Naval da Horta. Apelo assim que todas as partes se disponham a dialogar sobre esta questão. O Governo Regional e a APTO, o Clube Naval da Horta, as empresas que necessitam ter proximidade ao mar, a Fundação Rebikoff e o DOP são partes interessadas no vasto processo de ordenamento da parte em terra da bacia Sul da Marina e da parte em terra da bacia Norte da Marina, que está claramente desaproveitada. Sei que há opiniões muito interessantes da parte de alguns cidadãos sobre estas matérias e será muito importante que elas venham a público e sejam integradas no diálogo necessário. Do diálogo há-de nascer a luz!

José Decq Mota em Visita ao Faial (5) No “Tribuna das Ilhas” em 13 /05 / 05