Separatismos

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anibal_pires.jpgNo fim da semana em que a Ministra da Educação “separou” a Região Autónoma dos Açores da República Portuguesa, mais precisamente no dia 25 de Junho e num Hotel da capital, a Federação de Andebol de Portugal (FAP) fez aprovar em Assembleia Geral um regulamento de provas que limita a participação das equipas da Madeira e dos Açores às fases finais dos campeonatos nacionais.

Se o acto de Maria de Lurdes Rodrigues apenas prejudicou a sua própria imagem e a do governo que integra (tinha-lhe ficado bem pedir a demissão e o país agradecia), já a decisão tomada pela FAP tendo, igualmente, um objectivo político subjacente prejudica o desenvolvimento desportivo nas Regiões Autónomas, para além de infringir princípios consagrados na Lei de Bases do Sistema Desportivo. Estes dois acontecimentos o primeiro com grande cobertura mediática mas sem nenhum efeito prático, a não ser a demonstração da ignorância e má fé da ministra, o segundo sem direito a cobertura pelos grandes meios de comunicação mas com graves consequências para o desporto regional. Embora em contextos e com objectivos diferentes os factos que venho a referir têm, no entanto, um denominador comum – isolar os Açores do todo nacional. E, se relativamente à declaração da “independência” dos Açores feita pela titular da pasta da Educação nada há a acrescentar ao que tem sido dito e escrito, já a posição da FAP merece alguma reflexão não só pelo significado mas, sobretudo, pelo que de retrocesso pode representar no processo de desenvolvimento do desporto regional. A FAP tem um longo historial de marginalização do andebol regional e que os dirigentes associativos conhecem muito bem, mas que nem sempre têm sabido contrariar. A criação de um modelo organizativo e competitivo – União das Associações e Série Açores de Andebol – a meados da década de 90 e nos quais a então Federação Portuguesa de Andebol se empenhou cedo se revelou um presente envenenado.

Ao fim do primeiro ano de funcionamento da Série Açores a Federação retirou o apoio financeiro concedido alegando falta de qualidade e competitividade da prova. Alguns dos dirigentes associativos já tinham percebido para os restantes ficou então claro que o objectivo da FAP tinha sido apenas e só retirar a possibilidade à equipa dos Açores de participar no campeonato nacional da 3.ª divisão (à época o Boa Viagem da Ilha Terceira). Mais recentemente (época 2003/2004) a tentativa, frustrada, de impedir a participação dos “Marienses” na 2.ª divisão, ou melhor, o ensaio para que as despesas de deslocação das equipas continentais fossem suportadas pelo orçamento regional e, a decisão de impedir que o clube vencedor da Série Açores de acedesse à fase final da 3.ª divisão comprovam, em definitivo, que a FAP não quer as equipas insulares nos seus campeonatos. A não ser que os orçamentos regionais suportem os custos inerentes à deslocação das equipas continentais nas suas deslocações às “ilhas”.

Subjacente à discriminação das equipas insulares está uma questão de financiamento às deslocações das equipas do continente que deve ser assegurado pela FAP pois, para isso lhe são afectas verbas pelo Instituto do Desporto. Até posso compreender que a FAP e outras federações estejam com alguma asfixia financeira motivada por grandes investimentos em infra-estruturas desportivas feitas pelo estado português, mas passar esse ónus para as Regiões Autónomas não é, por certo, a forma de resolver uma questão que se funda na falta de regulamentação da Lei de Bases do Desporto e que cabe ao Governo da República resolver, para além de representar uma afronta ao estado unitário e às especificidades das Regiões Autónomas. A recente aprovação do novo regulamento de provas da FAP que impede as equipas insulares de participar por inteiro nos campeonatos nacionais pode, se não for travada, servir de mote a outras Federações para enveredarem por opções semelhantes. O centralismo que sempre caracterizou a capital parece agora ter evoluído para teses separatistas. Enfim! Mudam-se os tempos mudam-se as vontades.

Aníbal C. Pires em “Politica” No Açoriano Oriental em 08/07/05