A menos de um mês das eleições legislativas, que elegerão os 230 deputados que irão compor a Assembleia da República para os próximos quatro anos, e num momento em que foram já apresentados os programas eleitorais de todos os partidos políticos, bem como o da Coligação Democrática Unitária (CDU), é tempo de tecer alguns comentários acerca deste mesmo processo, bem como denunciar as mudanças de atitude de alguns partidos, mal começa a “cheirar” a eleições.
Após a realização do comício de encerramento da Festa do Avante, que reuniu largos milhares de jovens, mulheres e homens, no espaço da Atalaia, a CDU, com o seu programa apresentado já há algum tempo, apresenta-se às próximas eleições legislativas com candidatos que tudo farão para defender, não só os círculos eleitorais pelos quais forem eleitos, mas sim todo o território nacional e todo o povo português. Falamos de candidatos a deputados que fazem da competência e da honestidade, a sua imagem de marca, e não de pessoas que ninguém conhece, caídas de pára-quedas em distritos (como acontece em Aveiro, com os candidatos PS/PSD), onde, talvez, nem em férias tenham estado.
As próximas eleições legislativas serão tão mais importantes, quanto os portugueses saibam distinguir entre quem fala verdade, com acções e opções concretas, e quem, utilizando o discurso do costume, e os actos de sempre, pretende continuar e perpetuar as políticas dos últimos 33 anos, que têm levado ao crescente aumento das assimetrias, das dificuldades e contrariedades, cujos executantes têm nome, têm cara e, por muito que tentem, as memórias dos portugueses não esquecem. Não esquecem as promessas de Sócrates e do PS, não esquecem as opções de Ferreira Leite quando esteve nos vários governos em que participou, e as preferências do PSD pelos poderosos, pelos milionários e pela manutenção dos seus privilégios, em detrimento dos direitos e salários dos trabalhadores, dos jovens e reformados.
Foram estes políticos que, aparecendo agora de cara lavada, tentam fazer esquecer que foram eles que forçaram os portugueses a voltar a optar pela emigração em massa, que deixam mais de metade dos licenciados que acabam o seu curso no desemprego, que vendem a Galp ao desbarato a espanhóis, italianos e ao grupo Amorim que, mal se vê sem parte do lucro que esperava, não hesita em despedir mais de cem trabalhadores. A agora candidata a deputada e presidente do PSD propõe, no seu programa, o fim do pagamento especial por conta, depois de o ter introduzido em 2001, apesar da contestação de pequenos e médios empresários, refere que quer valorizar e motivar os trabalhadores da função pública, depois de lhes ter congelado os salários em 2003, fala em levar a paz às escolas depois de em 1994, depois de enormes protestos, os alunos lhe terem, inclusivamente, mostrado o traseiro como forma de desagrado pelas suas opções. É por situações deste tipo que a política perde credibilidade, pois a incoerência é por demais visível, sendo que quem a paga (a incoerência, a falta de cumprimento de promessas, a conversa para ganhar votos), são sempre os mesmos: quem vive do seu trabalho.
O que é preciso para a próxima legislatura que sairá das eleições de 27 de Setembro, é uma mudança e uma ruptura com as políticas que têm sido seguidas e que castigam, sem dó nem piedade, as famílias, os jovens, as mulheres e todos os que não são alinhados com o poder dominante. O que é necessário, é taxar as operações em bolsa, taxar a sério (90%) as indemnizações a gestores que, depois de destruírem as empresas, ainda levam para casa somas astronómicas; o que é fundamental é aumentar os salários e as pensões mais baixas, para que não tenhamos cada vez mais muito pobres e muito ricos (a este propósito, para que se veja como vai a crise, a Ferrari já vendeu mais carros este ano até Setembro, do que durante o ano transacto todo), deixando na desgraça grande parte dos primeiros.
O programa eleitoral da CDU, fruto das singelas reclamações e fundadas exigências do povo português, assume-se como a responsabilidade da palavra dada, que respeita cada voto que recebe, e que não defrauda, como nunca o fez, as expectativas que em si são depositadas. O objectivo de uma vida melhor para os portugueses não só é necessário, como é imprescindível, mas só será realidade quando os portugueses tomarem para si essa responsabilidade. Esperemos que o seja já no último fim-de-semana de Setembro.
Artigo de opinão de Fernando Marta, publicado no blog http://umapalavraparaoprogresso.blogspot.com