Opinião

Paulo SantosArtigo de opinião de Paulo Santos:

A despolitização da vida social no ocidente parece doença sem remédio. Fica bem glorificar o entretenimento estupidificante veiculado pelos “reality shows” e afins. Sempre em detrimento dos “aborrecimentos” associados à participação cívica.

Não admira que os critérios competitivos do mercado massificado se vão transferindo para o debate público. Ganha quem “berrar” mais alto, quem for mais contundente, quem causar mais e maior sensação; sempre sobre as maiores irrelevâncias. A populaça diverte-se e resulta cumprida a aspiração dos mandantes do mundo. Enquanto poucos enriquecem à custa da apropriação indevida da propriedade pública, muitos sucumbem à miséria e à desgraça, inebriados pelo “colorido” da publicidade mediática.

Mário AbrantesArtigo de opinião de Mário Abrantes

“De joelhos perante a Comissão Europeia” tal foi a trágico-cómica expressão utilizada por um ex-primeiro ministro, que entrou em paranóia com a perda do cargo, para criticar o Orçamento do Estado da responsabilidade daquele que o sucedeu e relativamente ao qual, violando os mais elementares deveres de isenção jornalística, muitos órgãos da comunicação social não disfarçaram a ânsia de que fosse chumbado explorando até ao último minuto as verdadeiras mas também as imaginárias divisões entre os partidos que o votaram favoravelmente na generalidade e que constituem a maioria dos deputados da Assembleia da República.

MAbrantes2Tem-se vindo a colocar, por iniciativa do Presidente do Governo Regional dos Açores (a que as eleições deste ano não são certamente alheias), a questão do sistema autonómico e da eventual reformulação ou racionalização das suas estruturas, aproveitando a legislatura iniciada em Outubro e que decorre com poderes de revisão constitucional.

De entre as questões levantadas e que se articulam com as especificidades arquipelágicas da nossa realidade distante do continente, destacam-se em demasia as do sistema eleitoral: ora falando na redução do número de deputados, ora falando nos círculos uninominais, ora falando numa coisa menos conhecida e que dá pelo nome de voto preferencial ou nominal.

Disse em demasia, por me parecer que o sistema eleitoral vigente (círculos por ilha com um mínimo de dois deputados e um círculo único de compensação regional) constitui uma solução minimamente equilibrada para conciliar a representatividade de ilha com a representatividade proporcional. Deste sistema resulta que todas as ilhas têm obrigatoriamente assento no Parlamento dos Açores, mas também que se desperdiça a menor quantidade possível de votos que não elegem efectivamente deputados garantindo maior pluralismo e legitimidade representativa entre os eleitos.

Reduzir o numero de lugares do parlamento implicaria maior quantidade de votos impossibilitados de eleger deputados ou implicaria reduzir a representatividade das ilhas caindo-se assim eventualmente nos círculos uninominais, círculos estes que só aproximariam os eleitores dos eleitos no caso de um ou dois partidos, gerando no todo regional a probabilidade da máxima bipolarização dos eleitos a partir de um mínimo de votos, ou seja, a eleição de uma grande maioria de deputados cujos nomes a grande maioria dos eleitores teriam rejeitado ou em quem nunca se conseguiriam rever...

Quanto ao voto preferencial ou nominal, para além da Autonomia pouco ter a ver com essa opção, mais uma vez traz consigo a motivação (bem pouco consequente) da aproximação entre eleitores e eleitos. Com este sistema permite-se ao eleitor ordenar por dentro de forma preferencial os nomes integrantes das listas partidárias ou outras (coligações ou até listas de independentes). Por exemplo: no círculo de S. Miguel, que elege 19 deputados, cada um de entre 10 partidos concorrentes, apresentaria, mais os suplentes, até 28 nomes. Com o voto preferencial, o eleitor teria de votar sobre uma lista de 280 candidatos... Se já pouca vontade há para ir votar, muito menos haveria para ordenar listas, e como o eleitor não conheceria muitos dos nomes, acabaria por escolher os mais populares, ou artistas, ou desportistas, ou até família...que entretanto entraram em campanha pessoal uns contra os outros, mesmo dentro do próprio partido, diluindo as propostas políticas em confronto. Isto teria tudo a ver menos com a vontade representativa do eleitorado.

A grande abstenção pouco se deve ao sistema eleitoral. Ela é grande porque as pessoas não encontram respostas, e porque muitos dos eleitos, com este ou outro sistema, não se responsabilizam perante elas.

O combate pelo desenvolvimento, pelo emprego, pela diminuição do número de pobres ou pelo aumento dos rendimentos das famílias consegue-se com uma acentuada mudança de políticas no exercício dos poderes legislativos e executivos autonómicos muito mais do que com a mudança do sistema eleitoral vigente. Que esta verdade quase lapaliciana não venha a ser ofuscada por debates fúteis sobre questões de segunda ordem, nos meses que nos separam das próximas eleições para o Parlamento dos Açores...

Artigo de opinião de Mário Abrantes

Paulo SantosArtigo de opinião de Paulo Santos
Há mais de 2 décadas que se vem formando o consenso de que é imperativo compatibilizar o funcionalismo inerente à vida citadina com a preservação do ambiente e  qualidade de vida dos cidadãos. A componente humana no contexto da urbe foi tomada como um avanço civilizacional, e nessa senda foram-se configurando nas cidades áreas (centrais) em que a mobilidade dos cidadãos prevalece sobre a circulação rodoviária. Foi assim em Aveiro, Évora, Braga, com ganhos ambientais e económicos.

MAbrantes2Sem dúvida que não é bom o aumento dos impostos que aí vêm sobre os combustíveis, sobre a circulação automóvel ou sobre o crédito ao consumo, para não falar do tabaco, previstos no Orçamento do Estado para 2016. Sem dúvida que faltam medidas mais arrojadas, e socialmente mais justas, nomeadamente ao nível das pensões e salários, de reversão do esbulho continuado de que foi vítima a esmagadora maioria dos portugueses, a uma dimensão nunca vista depois de Abril de 74. Sem dúvida que é insuficiente a tributação prevista no OE 2016 que irá incidir sobre o grande património imobiliário. Tudo isto é censurável e certamente só resolúvel com a rejeição do travão discriminatório que é o Tratado Orçamental ou o Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE. Contas equilibradas à moda do atual directório de Bruxelas são, como mais uma vez se comprova, entrave garantido ao investimento público e ao crescimento económico socialmente útil. Mas gritar a plenos pulmões que este OE representa uma desmesurada escalada fiscal, como têm feito Passos Coelho, o demissionário Portas e os seus partidinhos ainda ressabiados com os resultados das eleições de Outubro, logo secundados por dezenas de comentadores tendenciosos ou distraídos, não passa de uma eminente farsa vinda de quem não tem um pingo de vergonha.
Começaram por acusar o novo governo da República de estar a desbaratar e a escangalhar a sua tão querida austeridade com a velha receita do despesismo e do desperdício financeiro, para logo de seguida, numa reviravolta de 180º, o criticar porque está sendo demasiado austero.
A verdade é que não há nenhum aumento de impostos superior aos rendimentos que se devolvem aos portugueses, e senão vejamos: A previsão do acréscimo da receita fiscal para 2016, na ordem dos 400/500 milhões de euros é muito menor que em 2015 ou 2014, quase metade, e muito menor ainda (cerca de um terço) do que no célebre e execrável choque fiscal aplicado em 2013 e antes anunciado pelo então ministro das finanças Vitor Gaspar. Entretanto serão devolvidos aos portugueses 430 milhões da sobretaxa do IRS, 450 milhões de salários da função pública, 230 milhões de aumento do salário mínimo, e 200 milhões de reposição dos mínimos sociais e das pensões, totalizando mais de 1.300 milhões...Estamos conversados portanto.
E quanto aos Açores, o que nos diz este OE?
Diz-nos que ao fim de quatro anos de incumprimento expresso por parte do governo de Passos e Portas, a Lei de Finanças Regionais é para cumprir.
Diz-nos que, ao contrário do que acontecia até agora por decisão injusta do anterior governo do PSD/CDS, os encargos com os cuidados de saúde prestados pelo Serviço Nacional de Saúde aos açorianos no continente deixam de ser cobrados à Região, tal como são despesas do Serviço Regional de Saúde os cuidados prestados nos Açores aos continentais ou madeirenses.
Diz-nos que acabaram as restrições e condicionantes administrativas impostas pelo poder central quanto ao acesso dos Açores aos fundos comunitários, ou quanto ao recrutamento pela Região dos funcionários da Administração Regional.
Diz-nos que o novo estabelecimento prisional de Ponta Delgada é para avançar, ao fim de dezenas de anos de indecisões e recuos do poder central.
Diz-nos que a Autonomia não existe para ser violada ao virar de cada esquina do poder central. Resta saber o que "dirão" os deputados do PSD eleitos pelos Açores na Assembleia da República quando este OE for a votos...
Artigo de opinião de Mário Abrantes

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