Mancomunados

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Mário Abrantes“Conluiados, concertados, combinados para um acto repreensível”… Tal é, como nos diz o dicionário, o significado da palavra em título, a qual reflecte por si só, e exactamente, a vileza que se abateu sobre os portugueses a 13 de Maio passado.

PS e PSD abraçaram-se, não (como dizem) para salvar o país, mas para agravar (de forma desprezível) a crise portuguesa, apresentando-se em parelha de cócoras perante interesses alheios e pressões externas.

 

Nessa ridícula posição, de mãos bem estreitadas uma à outra, decretaram para Portugal e para a maioria dos portugueses um conjunto de medidas (mais impostos sobre os mais desfavorecidos, cortes nas transferências, nos apoios sociais e no investimento público, reduções salariais, etc.) que, aliadas às anteriores do PEC, obrigatoriamente irão fazer alastrar o desemprego e provocar nova recessão económica.

E, apesar da fome de poder que os separa, PS e PSD gostaram tanto de se reencontrar, mão na mão, nas políticas comuns, que agora já vão abrindo campo a um meloso namoro, de prolongamento dessas políticas, até 2013…, e para a retroactividade (inconstitucional?) dos aumentos de IRS.

Senão vejamos o que dizem:

CARLOS CÉSAR – “Concordamos com as medidas. Iremos contribuir para o esforço de restrição”.

BERTA CABRAL – (Silêncio cúmplice…assobiando para os cabo-verdianos).

PASSOS COELHO – “Peço desculpa aos portugueses” (pelo meu acto premeditado), “é preciso salvar…” (a política do governo!)

MÁRIO SOARES – “Passos Coelho é um homem muito responsável. Estas medidas eram imprescindíveis. Todo o Portugal culto acha isso”

JOÃO JARDIM – “Não estou de acordo, mas concordo.”

MANUEL ALEGRE – “O Primeiro-Ministro tem de falar verdade. Mas eu compreendo…”

PRESIDENTE DA REPÚBLICA – “Estou aqui para acompanhar o Santo Padre. Espero que a visita do Papa ajude o País a vencer as dificuldades” (…para sustentá-las, estou cá eu!)

PRIMEIRO-MINISTRO – “Espero que tenham o menor efeito recessivo possível. O compromisso com o PSD foi da maior importância, para tomar estas medidas…”

E assim, com insistentes desejos de melhoras (e 5% de corte aspirínico a políticos), se vai envenenando o doente (“inculto”, segundo M. Soares)!

Medidas extraordinárias sobre os lucros da banca e sociedades gestoras? Tributação de todas as mais-valias obtidas na bolsa? Combate extraordinário à fraude fiscal? Reforço do investimento público produtivo? Nem pensar!

Alimentadas exclusivamente pela vontade de disputar o mesmo osso, a Moção de Censura apresentada ao Parlamento Nacional, aí está para revelar ao país, por inteiro, quão fúteis e senis são as divergências entre PS e PSD, e quão verdadeiras e profundas as convergências mancomunadas entre os dois!

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes,  publicado no jornal "Diário dos Açores" na sua edição do dia 20 de maio de 2010