
Se no seu congresso promocional da candidatura às próximas regionais o PSD preferiu trocar o paradigma institucional e real da Autonomia por uma panaceia que dá para tudo e para nada ao mesmo tempo, chamada “região económica”, e com ela se propõe resolver os problemas dos açorianos, já o PS, na sua recente conferência promocional da candidatura, para o mesmo fim, optou por uma outra figura, igualmente genérica, a “agenda açoriana”…
Não estou demasiado preocupado com as diferenças entre um e outro conceito, e certamente as haverá, estou preocupado sim é com a semelhança da atitude política que a opção de ambos pelo imaginário e generalista, em detrimento do palpável e concreto adquirido autonómico e da Autonomia tal qual está regulamentada e institucionalizada, poderá querer dizer no futuro.
Desde logo, e tendo em conta o estrangulamento financeiro e o comportamento já explanado do governo da república para com os Açores, essa opção retira credibilidade a muitas das garantias eleitoralistas todos os dias avançadas pelos candidatos do PS e do PSD, seja por falta de sustentabilidade orçamental (restrições financeiras futuras, de momento imprevisíveis) ou de sustentabilidade político-jurídica (assunção pela Região de encargos da responsabilidade da República).
Mas também, o que é mais preocupante, poderá significar para os Açores, tal como já aconteceu na Madeira, o princípio do fim (atualmente quase suspenso) do relacionamento institucional normal, entre a Região e a República, por força da Autonomia, do seu Estatuto e da sua Lei de Finanças, e o ensaio da substituição destes, não por qualquer outra panaceia mas pela ressurreição pós-Outubro (por morte transitória e conveniente durante o período eleitoral) da assinatura concreta de um memorando tipo troikista de submissão regional entre o futuro governo açoriano e o atual governo da República.
Tal cenário, altamente indesejável, seria no entanto o mais provável caso se formasse nos Açores um governo PSD ou PSD/CDS. Mas, em caso de nova maioria do PS, nada garante que isso não possa também acontecer. Daí que, para defender a Autonomia no parlamento, seja essencial que, pela não obtenção de uma maioria absoluta de deputados por qualquer das forças nele representadas, Passos Coelho se veja obrigado a negociar, nos Açores, com todas elas, e não apenas com um governo sustentado na Assembleia Legislativa por mais de 50% dos deputados de um só partido ou coligação…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 5 de julho de 2012