Os partidos não se diluem nas autárquicas

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mario_abrantesExceção feita às candidaturas independentes, propostas por cidadãos eleitores, quem concorre às autárquicas são os partidos. O voto, nos boletins respetivos, não é apenso a caras mas a partidos (coligados ou não).

É habitual dizer-se que para as autarquias locais, os votantes dirigem o seu voto mais para as pessoas que para os partidos, desvalorizando portanto o ícone partidário em que de facto votam.

Esta situação levanta no entanto duas questões que me parecem importantes:

1. Em muitos casos, como se sabe, os cabeças de lista (por vezes até apresentados como independentes) frustram de seguida as esperanças neles depositadas e utilizam-se em proveito próprio do cargo que conquistam. Ou, em sentido inverso, transformam-se em marionetas do partido que os utilizou como “chamariz”, deixando cair a “pessoa” que atraiu o voto do eleitor.
Aqui já estamos perante um desajustamento entre a intenção do eleitor, a ética política do eleito e o potencial oportunismo do partido que o suportou.

2. Qualquer que venha a ser o desempenho futuro em benefício das comunidades dos candidatos ganhadores, os partidos que os suportam, para a prossecução dos seus interesses partidários, especialmente quando ocupam o poder político em outras instâncias (Região ou República), usarão de imediato o direito da vitória para justificar as suas políticas, apesar das pessoas eleitas o terem sido com muitos votos ditos não vinculados partidariamente.

E aqui se coloca, a meu ver, a muitos cidadãos que irão votar nas autárquicas de 29 de Setembro, a principal questão quanto à natureza habitual do seu voto em eleições deste tipo, isto é, a intenção de dar prioridade aos “candidatos/pessoa” em detrimento dos “candidatos/partido ou coligação de partidos”.

É que, no quadro atual, o país está governado por uma coligação PSD/CDS cheia de “coragem” para combater o Tribunal Constitucional, mas totalmente submissa a compromissos com uma troika estrangeira (igualmente assumidos pelo PS) impossíveis de satisfazer e de natureza socialmente catastrófica para os portugueses que, ao longo dos últimos 2 anos, transformaram Portugal num inferno de onde não se encontra saída com as políticas atualmente praticadas.

Por mais santo que pareça, por mais disfarces que invente (coligações PSD/CDS/PPM, por exemplo), por mais independente que se afirme, um “candidato/pessoa” que se propõe vestir a capa do diabo (neste caso a capa dos partidos troikistas, em particular a do PSD e CDS) para se apresentar ao eleitorado nas próximas autárquicas, deverá merecer, em legítima defesa, a desconfiança dos crentes, pois está deliberadamente a ser cúmplice e avalista das políticas partidárias que o país rejeita e cujos executores se têm escusado com veemência, com o apoio da Presidência da República, a submeter à consideração direta do voto popular.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 13 de setembro de 2013