
Outros motivos houve para que os açorianos rumassem para Oeste na procura do sonho americano, razões que permanecem no tempo embora o rumo já não seja apenas para Ocidente e com uma dimensão que, não sendo dramática, é característica de que o desenvolvimento harmonioso e o sonho estão aquém do desejado e, anunciado profusamente a cada entrevista dos membros do governo e do seu presidente.
Com as expectativas goradas por políticas nacionais e regionais que acentuam o fosso entre quem detém a riqueza e quem vive do trabalho e sublinham as assimetrias de desenvolvimento regional, esquecendo as ilhas que ficam fora do tradicional eixo Ponta Delgada, Angra e Horta, e, com o futuro a perspectivar que também este tradicional eixo perca importância, face à ideia fixa que mercado e dimensão económica só mesmo em S. Miguel. Opiniões e opções que, não partilho por considerar que o potencial económico açoriano, nomeadamente em relação ao turismo, vale pelo todo e não por, apenas, algumas parcelas da Região.
Mas antes dos visitantes interessam os autóctones, independentemente da ilha onde residem. Interessa que se dê prioridade ao que é essencial e se secundarize o acessório, interessa que se garantam às populações as condições para que a opção seja ficar, regressar ou, mesmo, a adopção daquele lugar, daquela ilha como uma escolha de residência, uma opção de vida. Ou seja, garantir atractividade a cada uma das ilhas e isso só é possível, desde logo, com uma política de transportes adequada às necessidades dos cidadãos e das economias de cada uma das ilhas mas, também que os serviços públicos sejam efectivamente garantidos e que a actividade económica revitalizada.
As ilhas de menor dimensão sofrem de um problema que se situa à cabeça das preocupações de quem se preocupa verdadeiramente com a Região e não está amarrado a preconceitos redutores que advêm de incompreensíveis “bairrismos”, nem à ideia dominante de que tudo deve ser conformado ao mercado e à competitividade da economia globalizada.
O declínio populacional, que afecta a maioria das ilhas, decorre do saldo natural mas não só. As migrações internas são também um factor de considerável importância e que a imigração não chega para colmatar.
Não considerar este como um grave problema de coesão para o qual têm de se encontrar soluções integradas e participadas é um erro de gravidade incomensurável do qual já se começam a sentir os efeitos.
Estive, recentemente, na Graciosa onde confirmei esta e outras preocupações para as quais já tive oportunidade de chamar a atenção noutros fóruns de intervenção política e de exercício de cidadania.
A ilha à qual foi dada a designação de Graciosa pelos seus encantos naturais, pela sua orografia e dimensão tem no presente um problema devidamente identificado e do qual já se começam a sentir os efeitos. Refiro-me à escassez de água potável. As rupturas de abastecimento já se fazem sentir e a qualidade da água já não é a melhor pois a infiltrações nos aquíferos subterrâneos por água do mar está a dar-lhe característica de salobridade. Quanto a isto o governo regional diz nada!
Os investimentos públicos na Graciosa os anunciados, por concretizar, e os concretizados também deixam muito a desejar. A construção do novo edifício escolar onde se pretende concentrar toda a população estudantil é caminho para a descaracterização do espaço rural e contraria qualquer política de coesão territorial e social. O porto da Praia e a intervenção que ali está a ser feita vai, a prazo, em nome de um segmento de actividade do qual ainda não se percebeu qual é a estratégia, acabar com a praia que lhe deu o nome.
Quando se atira dinheiro para cima dos problemas e não se procuram soluções integradas e sustentadas, apenas se adiam as dificuldades. Com o tempo só o dinheiro desaparece tudo o mais subsiste e se agrava.
Anibal Pires no Jornal "A União" em 19 de Agosto de 2008