Afinal o que somos nós…?!

lurdes_branco.jpgHá uns anos, não muitos, os açorianos conseguiram uma grande vitória com o início da transmissão do Canal 1 da RTP para a Região. Não foi totalmente o que se desejava, mas foi um princípio.

Passados muitos anos de reivindicações da população, sempre acolhidas e consagradas em primeiro lugar por proposta dos deputados regionais do PCP, o Governo Regional de Carlos César, anunciou, o início da transmissão gratuita em canal aberto dos canais generalistas nacionais. É óbvio que este anúncio foi motivo de satisfação para a grande maioria dos açorianos que, assim, viam reconhecido e aplicado aquilo que é um direito que nos assiste, nomeadamente no que respeita à igualdade entre quem reside em território continental e quem reside nos Açores e Madeira. Contudo, ao que parece, a saga está longe de terminar, pois mais uma vez o Governo Regional do PS transforma aquilo que é um direito, numa obrigação e mais uma vez se subjuga não se sabe bem a que interesses do capital. O facto de termos de pagar 50 euros pela instalação de uma caixa que nos permita aceder aos canais nacionais não só é inconcebível como ainda nenhum responsável governamental teve a coragem de explicar que raio de acordo foi celebrado com a TV Cabo Açores e porque razão o Governo Regional se subjuga aos interesses dessa empresa. Desde logo, é inaceitável que os cidadãos açorianos não tenham acesso, em pé de igualdade, aos canais de televisão generalistas.

E não se trata apenas da discriminação de ter de efectuar um pagamento para aceder a um serviço que no território continental é gratuito, como se trata também de quererem restringir a nossa liberdade de escolha e de acesso aos meios de informação. Mais grave ainda é o facto o Governo Regional, que deveria zelar pela garantia dessa mesma igualdade, ter aceite condições e assinado um protocolo que a viola. São inconcebíveis as restrições impostas pelo acordo celebrado entre o Governo Regional e a TV Cabo, não só por transformar aquilo que é um direito, num favor que o Governo nos faz; como também pelo facto de não existir nenhuma razão tecnológica que sustente este mesmo acordo. Se é verdade que há uns anos atrás, existiam questões técnicas e tecnológicas que nos impediam de aceder aos canais nacionais, neste momento esta situação está ultrapassada pois a Região já tem cobertura pelo cabo de fibra óptica, investimento esse efectuado com dinheiros públicos, logo, pago por todos os contribuintes. Tendo em conta todas estas constatações, está na altura do Governo Regional explicar aos açorianos a razão pela qual continuamos a ser cidadãos de terceira ou quarta. É esta a transformação que o PS quer para os Açores?

Quais os interesses que estão por trás do acordo entre o Governo e a TV Cabo? Porque razão têm os açorianos que pagar um serviço que deve ser gratuito?! Qual a razão que levou o Governo Regional a assinar um acordo que não só prejudica os açorianos, como também limita a liberdade de acesso aos meios de informação?! Afinal, o que somos nós…?!

Lurdes Branco em "Politica" no Açoriano Oriental em 29/11/05