Mais do que um feriado

Mário AbrantesArtigo de opinião de Mário Abrantes.

Mais do que um feriado, o dia 1º de Maio chama-nos a uma reflexão ponderada sobre cidadania, participação, luta e conquista de direitos libertadores da exploração por parte de quem está na origem da criação líquida de riqueza, mas geralmente desligado do seu usufruto ou posse: o trabalhador.

O trabalhador a partir da revolução industrial (finais do século XIX), tem sido objeto de exploração patronal, fonte do lucro, mas simultâneamente sujeito da história, fonte de cidadania e de transformações sociais.

 

Da exploração rezam séculos de regimes esclavagistas e de ausência de direitos (humanos e laborais) que, com exceção da heróica Comuna de Paris, se prolongaram até ao histórico dia 1 de Maio de 1886 quando nos Estados Unidos da América se declarou uma greve geral pelas oito horas de trabalho que desencadeou manifestações imensas e violenta repressão policial não só nos EUA mas também em muitos outros países do Mundo (Europa em particular), e definitivamente se inaugurou uma nova era em que o trabalho passou a ter direitos consagrados e o trabalhador passou a usufruir da condição humana/cidadã que até aí lhe tinha sido completamente negada.

Na sequência de incontáveis lutas emancipadoras, o século XX acordou assim para o fato de que, em geral, trabalhar mais de oito horas seria inconcebível, de que aos deveres do trabalhador deveriam ser acrescentados os seus direitos, de que a existência de sindicatos e da segurança social fariam parte da normalidade corrente em muitos países, de que os trabalhadores poderiam participar até na gestão das empresas e se poderiam organizar inclusivamente ao nível político, constituindo-se em partidos.

Mas o século XX também acordou com a reação partilhada nos mesmos países a este novo estatuto laboral por parte do patronato das grandes empresas que via no trabalho estável e com direitos, na liberdade de organização dos trabalhadores, e até na democracia política, uma ameaça aos seus lucros, aos seus previlégios e até à sua própria existência.

Foi nessa sequência que a ditadura se instalou em Portugal em 28 de Maio de 1926 e que os trabalhadores portugueses e suas famílias atravessaram um período negro e prolongado de esbulho de direitos e de intenso aumento da exploração, embora sem nunca baixar os braços. Por isso a magnitude impressionante (1 milhão de pessoas) do primeiro 1º de Maio após o golpe dos capitães que derrubou a ditadura em 25 de Abril em 1974.

Depois do sacrifício e do sangue derramado, os direitos laborais, sociais e cívicos foram reconquistados, e até alargados, e a legalidade democrática restabelecida. Por esta via aumentaram os rendimentos do trabalho e melhoraram as condições de vida de muitas famílias portuguesas.

O capitalismo explorador, agora na sua versão financeira, reconquistou entretanto inúmeras posições pela mão dos partidos ditos do arco da governabilidade (ou seja, das políticas da troika). As injustiças sociais voltaram a imperar, o poder em Portugal voltou a estar ao serviço de uma minoria privilegiada e aqueles que trabalham ou chegaram à idade da reforma voltaram  a ser os principais perseguidos e espoliados.

Neste 1º de Maio lembremos o que a história está aí para demonstrar: Se os trabalhadores e os seus aliados não baixarem os braços, as dificuldades serão ultrapassadas e o futuro estará de novo ao seu alcance…