Opinião

Paulo_Santos_webArtigo de opinião de Paulo Santos:

O aumento do salário mínimo na região, embora insuficiente para gerar vida condigna a todos os que o auferem, representa uma importante viragem. O Governo Regional, em tom de propaganda, chama a si o mérito da medida, como se ela resultasse da sua ação. Nada mais falso. Decorre automaticamente da lei, por aplicação de 5% sobre o salário mínimo nacional, aumentado em função dos entendimentos estabelecidos no quadro da AR.

Clarifiquemos. O “animus” que subjaz ao governo de Cordeiro é distante da natureza daqueles entendimentos, e por vezes próximo da ideologia professada pela dupla Passos-Portas. É que, a exemplo destes, já por várias vezes, o poder de cá rejeitou as propostas do PCP orientadas para melhoria das condições de vida. Assim foi com o acréscimo ao salário mínimo e com a atualização do valor base da remuneração complementar.

Paulo_Santos_webArtigo de opinião de Paulo Santos:
Até dia 24 teremos arruadas e conversas de circunstância com a populaça impostas pela presença das câmaras. É o folclore mediático, ilustrando o intensivo processo de infantilização a que se sujeitou o povo. Marcelo é especialista na exploração disto. Ainda assim, o eleitorado de direita pura não deixará de votar nele, reconhecendo o verdadeiro professor enquanto representante da sua área política. É oportunidade de mitigar os efeitos da derrota de Outubro.
Até teria todas as condições de ser candidato com linha política clara, apresentando-se com ideias e princípios “palpáveis”. Mas quer ser presidente a todo o custo, e é por isso que na substância o professor comentador não diverge do candidato. Não sabemos o que pensa do atual quadro da UE, da moeda única, das opções orçamentais ou sequer do exercício dos poderes presidenciais.

MAbrantes2De entre 10 candidatos, só um tem merecido "honras" de 1ª página nos jornais. O mesmo que nos canais televisivos informativos e generalistas (não apenas no que frequentou assiduamente durante 10 anos) aparece em constante destaque noticioso. E tudo isto com um hipocritamente proclamado orçamento de campanha presidencial mais baixo que os dos restantes. É caso para dizer: com jornais e televisões assim, para que precisa este candidato de orçamento de campanha? Que sinistra mancomunação anti-democrática e deformadora do pluralismo está por detrás desta comunicação social? Não será a mesma mão de quem, pretendendo ter ganho, queria pela convocação de novas eleições, anular as de 4 de Outubro? A mesma mão que chamou "golpe" à assunção democrática (com incidência governamental) da maioria parlamentar que se constituiu na Assembleia da República para viabilizar o actual governo? A mesma mão que norteou quem, no exercício do cargo que agora vai a votos, zelou pela continuidade de um governo anti-povo e anti-patriótico durante mais de 4 anos e pela prossecução de odiosas políticas que fizeram recuar o país quase 3 décadas?
Pode até ser diferente no sorriso, na simpatia ou no populismo daquele que está em fim de mandato, mas nem por isso este candidato será diferente no respeitante aos interesses que servirá, nem tão-pouco seria ele o presidente que tem faltado ao país...
Pode até ter sido um comunicador bem pago e de fortes audiências, popularizado pela tv, e transformado em "professor" que de tudo sabe muito, mas nem por isso será ele o presidente que tem faltado ao país. Antes pelo contrário, tal estatuto seria, como diz Sérgio Lavos num tweet a propósito, o combustível certo para uma magistratura de interferência e de confusão...
Fiado no seu inigualável suporte mediático, pode até auto-intitular-se como vencedor antecipado, mas precisamente pela carga anti-democrática e isenta de ética que tal espírito consubstancia, necessita de ser combatido e vencido pelas armas da democracia...
É outro o presidente que tem faltado ao país:
Um presidente que longe dos salões doirados da corte político-financeira e dos apoios de Passos e Portas, conheça as reais dificuldades e privações, por aqueles impostas, por que passam milhões de portugueses;
Um presidente que em lugar de ter sido um promotor de Cavaco e Silva (enquanto líder do PSD), ou que fez a defesa fanática dos cortes salariais e das isenções fiscais para banqueiros e grandes empresas transnacionais, venha a ser antes o que Cavaco Silva de facto nunca foi, um promotor da justiça social, da cidadania e da defesa do interesse e soberania nacionais;
Um presidente que, ao contrário do actual, assuma como prioridade da sua intervenção o cumprimento da Constituição da República Portuguesa colocando-a como eixo central do exercício dos poderes presidenciais.
Incluindo os atrás citados, há todo um conjunto de valores, posições e princípios inerentes ao exercício do cargo de Presidente da República que não combinam nem se coadunam com o actual ocupante do cargo e que, mesmo que de outra feição, continuarão a ser renegados por um seu eventual sucessor suportado pelas mesmas forças políticas.
A esperança que se reabriu em Portugal depois de 4 de Outubro passado não necessita na presidência da República de um fiscal, de um controlador ou de um potencial bloqueador, necessita isso sim de quem a cultive, acarinhe e ajude a concretizar. É esse o presidente que falta!
Artigo de opinião de Mário Abrantes

MAbrantes2Rompida que foi ao nível interno, após a tomada de posse do atual governo da República, a política da fatalidade dos sacrifícios e do empobrecimento continuados, o caminho a percorrer pelo país em 2016 confrontar-se-á necessariamente com o atual enquadramento europeu, bem como com os constrangimentos daí decorrentes, na base de uma certeza: algo terá de mudar após se constatar que, uma década e meia decorrida desde a adesão à moeda única, todas as promessas de convergência europeia se revelaram falsas, e que Portugal produz hoje menos riqueza do que quando foi introduzido o euro.

Embora o FMI venha agora (hipocritamente) a reconhecer para Portugal aquilo que para outros era óbvio há muito tempo, isto é, a ineficácia da austeridade e a necessidade da renegociação da dívida pública como forma de possibilitar o crescimento económico sustentável, nas cabeças do diretório da União Europeia esta tese continua a não fazer qualquer vencimento. Mas entretanto o certo é que a base de apoio institucional deste diretório se viu substancialmente reduzida com os resultados sucessivos das eleições gregas, portuguesas e espanholas em 2015. Por isso é justo augurar para o novo ano um saudável confronto institucional dentro da União Europeia que permita uma maior afirmação dos diferentes interesses nacionais no seu seio, em prejuízo das anteriores políticas unilaterais de abdicação face à integração capitalista e à liberalização e desregulação social e económica que fomentam o crescimento das desigualdades e o predomínio dos mais poderosos, expondo os países economicamente menos desenvolvidos à voracidade selvagem do capital financeiro transnacional.

Mas também no âmbito das regiões ultraperiféricas, no caso concreto dos Açores, a liberalização e a desregulação de que falámos desencadearam o fim da gestão portuguesa sobre os recursos vivos marinhos da sua ZEE, bem como a situação liquidatária da principal base produtiva regional, a agro-pecuária, anteriormente salvaguardada pelo regime específico das quotas leiteiras. Por isso é justo mais uma vez augurar para 2016 resultados positivos resultantes do necessário e desejável confronto institucional que vier a ser travado, a este propósito, com a atual directório da União Europeia e as suas orientações económicas ultra-liberais definidas na Política Comum de Pescas e na Política Agrícola Comum.

Tanto em relação ao país como aos Açores, apesar dos contributos decisivos no combate em 2016 aos constrangimentos decorrentes da integração europeia virem a resultar sobretudo das competências e da vontade política dos governos português e regional, não será no entanto indiferente ao maior ou menor sucesso desse combate o facto de no final de Janeiro próximo ser eleito este ou aquele cidadão para o cargo de Presidente da República.

E não é por alardear (demagogicamente) ter um orçamento de campanha inferior ao de outros, que um candidato presidencial, especialmente se em situação privilegiada face aos restantes por já ter a campanha feita, e bem paga, ao longo de mais de uma década, é o melhor para os portugueses. É antes pelo seu grau de comprometimento com a situação política dos últimos anos e com os ditames de um directório europeu que persiste cegamente, contra o interesse nacional e ao arrepio da Constituição da República, na defesa do rumo da austeridade e da desregulação socioeconómica ultraliberal favoráveis a interesses terceiros. É por isso igualmente legítimo augurar para 2016 que a escolha do próximo Presidente da República não venha a recair sobre o candidato apoiado pelo PSD e pelo CDS...

Bom ano e boas escolhas.

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 31 de dezembro de 2015

MAbrantes2Como dizia o chefe da Igreja Católica, o Papa Francisco aquando da inauguração da árvore natalícia na Praça de São Pedro em Roma: "Haverá luzes, festas, árvores iluminadas, presépios...mas é tudo falso. O mundo continua em guerra, fazendo guerras, não compreendeu o caminho da Paz".
De facto, por melhores que sejam as intenções de quem festeja, soa um pouco a hipocrisia festejar nesta quadra o "amor e a paz na Terra entre os homens" quando o imperativo da sua existência aparenta estar cada vez mais longínquo, exigindo antes, para lá dos festejos, o contributo empenhado de todos os cidadãos conscientes para que se torne possível inverter o perigoso rumo do alastramento dos conflitos violentos à face da Terra.
Mas, diria ainda que se torna importante compreender, e já não será hipocrisia apelar a que nesta quadra se reflicta sobre a questão, que as guerras e os conflitos violentos alastram nos quatro cantos do mundo porque alastram nesses quatro cantos as injustiças sociais, a exploração e a fome, e porque se alarga nesses quatro cantos o fosso entre ricos e pobres, bem como entre países ricos e países pobres. Enquanto não for possível reencetar o caminho da igualdade entre os homens, os povos e as nações, da justiça social e do combate vitorioso à exploração e à miséria, também não será possível alcançar a paz.
E não precisamos de ir muito longe reflectir na prática sobre estas questões, pois mesmo aqui no nosso país, nas nossas ilhas, os últimos anos têm sido de sofrimento colectivo, de empobrecimento, de aumento do desemprego e da emigração, de perda de direitos, de agravamento contínuo das injustiças sociais e de atrofiamento da autonomia.
Inspirados nos valores da quadra que atravessamos, depositemos esperanças e empenhemo-nos da forma que melhor soubermos e pudermos para inverter o gravoso rumo da situação que se vive em Portugal e nas suas Regiões Autónomas, procurando que os mais débeis e os idosos deixem de ser as suas primeiras vítimas, procurando que os jovens possam reencontrar o futuro na sua própria terra, procurando que o desemprego, o trabalho precário e o empobrecimento deixem de ser sombrias e constantes ameaças para quem está na vida ativa, procurando a recuperação dos rendimentos e da justa regulamentação laboral que foram sendo sucessivamente subtraídos àqueles que trabalham, procurando enfim a justiça essencial para que a paz social não permaneça como uma simples e hipócrita figura de retórica.
Mantenhamos acesas as luzes da árvore e do presépio, mas festejemos a quadra procurando que não soe a falso...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 26 de dezembro de 2015

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