Em memória de um homem bom

salsa.jpgFaleceu, subitamente, no passado dia 15 de Abril o cidadão Manuel Adolfo Flores, popularmente conhecido por Salsa. A sua morte foi muito sentida por importantes faixas da nossa sociedade o que mostra que durante a sua vida soube, em vários domínios, ter uma acção e uma presença relevante. Muitos são os que ainda se lembram da vasta carreira futebolística que o Salsa fez, principalmente no seu Sporting Clube da Horta. Muitos são os que recordam dos anos em que o Salsa foi um diligente, atencioso e atento cobrador das antigas urbanas. Muitos são os que o conheceram como estivador do nosso Porto, profissão que exerceu muitos anos. Penso entretanto não errar ao dizer que o cidadão Manuel Adolfo Flores, estivador e trabalhador de vários ofícios, se notabilizou na nossa ilha por ser um persistente, atento e dedicadíssimo militante do PCP.

Não há nenhum aspecto do trabalho local do PCP ao qual o Salsa não tenha dado um contributo sempre activo, sempre esclarecido e sempre empenhado. Recordo-me como se fosse hoje do dia de Julho de 1978 em que fui apresentado ao Salsa como novo responsável do PCP na Região Autónoma dos Açores. Pessoalmente já o conhecia e admirava-o como futebolista do Sporting dos anos 60. Politicamente conheci-o nesse dia e percebi de imediato que a ligação dele ao PCP era muito sólida e muito fundamentada na profunda necessidade que ele sentia em lutar por uma sociedade mais justa. Como trabalhador Salsa conhecia muito bem o que era ser explorado até à medula; sabia quanto era difícil sustentar uma família e proporcionar-lhe o mínimo necessário; percebia que muitos autoprocalmados defensores da democracia nascida em 74 não eram defensores da justiça social; sabia e sentia que o conceito de democracia avançada que o PCP defende (democracia simultaneamente política, económica, social e cultural) era aquele que lhe interessava e que respondia às dificuldades profundas de vida que lhe foram impondo ao longo da vida.

A militância que desenvolveu no seio do PCP e no quadro mais alargado da CDU ficou marcada por uma claríssima lucidez política. Mesmo quando usava formas deliberadas de expressão marcadas por ritmos aparentemente “confusos” as intervenções políticas do Salsa eram sempre clarividentes e profundamente coerentes com os objectivos políticos que abraçou. A militância política do Salsa traduzia-se sempre em muita acção mas nunca esqueceu a outra vertente essencial que é a participação na definição das orientações e na construção dos processos de decisão. Quero deixar dito hoje e aqui, como testemunho mas também como homenagem justa a um Amigo e Camarada que desapareceu, que o contributo dado pelo Salsa ao crescimento da CDU/Faial ao alargamento da influência social e eleitoral foi um contributo que teve decisiva importância. A vida de Manuel Adolfo Flores foi, para os padrões de hoje, relativamente curta, mas foi uma vida de luta e de contributo dado no sentido de tornar mais justa a nossa sociedade. Desapareceu um Homem Bom, que teve a lucidez de ser um lutador.

Desapareceu um lutador que percebia muito bem que a construção de um futuro melhor implica uma intensa acção no presente. A memória de Manuel Adolfo Flores – Salsa ficará entre nós como um exemplo de coerência.

José Decq Mota no tribuna das ilhas