
A capacidade agrícola e pecuária é indesmentível e se foi, ao longo da história, responsável pela subsistência, tem sido nos últimos 30 anos responsável pelo desenvolvimento da qualidade de vida do mundo rural. A existência da cidade da Horta, nascida de circunstâncias históricas e geográficas já referidas, implica a existência de serviços de todo o tipo, uns dimensionados para a ilha, outros concebidos numa perspectiva regional ou sub-regional. A proximidade de zonas de pesca importantes constitui outra potencialidade histórica e presente desde que o respectivo aproveitamento seja efectivado de forma racional e sustentada. Na minha óptica o desenvolvimento económico e social do Faial depende, em primeira instância, da boa articulação que se saiba e queira fazer entre a capacidade de ter economia produtiva e a capacidade de ter uma economia de serviços. Nem sempre se tem sabido e querido encontrar esse ponto de equilíbrio. Mas o desenvolvimento em sentido amplo e socialmente útil não se faz só de economia, mas faz-se essencialmente com e para as pessoas, o que determina a urgente necessidade de se resolverem velhíssimos problemas locais ligados ao ensino, ao aproveitamento das múltiplas capacidades culturais existentes e ligadas, principalmente, à criação de vontade colectiva de encontrar soluções adequadas. Vivemos um momento da nossa história muito marcado por desânimos que resultam de um objectivo “passar para trás” que tem marcado a postura dos poderes regionais em relação a esta ilha.
Sofremos também todas as consequências resultantes do facto de, maioritariamente, termos vindo a escolher um poder autárquico carente de estratégia e carente de qualidade. A ultrapassagem destas situações e a afirmação de um claro processo de desenvolvimento económico e social, se é verdade que não depende só de nós, é também verdade que está muito ligada à nossa própria capacidade de fazermos mais e melhor e de lutarmos por mais e melhor. Se a tivermos ou a criarmos daremos passos para diante, se não a tivermos ficaremos a andar ao ritmo de caracol que nos tem sido imposto. 2. A partir deste mês andamos pelas ruas principais da Horta e até nos esquecemos que muitas daquelas casas não estão aproveitadas, pois o que vemos é o multicolor movimento que resulta desse tipo especial de visitantes que são os iatistas. Falam-se muitas línguas, trocam-se muitas divisas, compram-se e vendem-se muitos bens e serviços. De Abril a Setembro a antiga e pequena cidade da Horta assume-se de facto como sendo um dos mais importantes portos nacionais de recepção da navegação internacional de recreio e esse facto é hoje determinante para a economia desta ilha, deste conjunto de ilhas próximas e desta Região. Esquecer ou minimizar esta situação seria um grave “tiro no pé” que tem que ser evitado.
Para evitar qualquer retrocesso nesta situação é não só necessário reordenar o nosso porto, como se referiu em artigo anterior, como é necessário recuperar muito depressa da situação inclassificável de abandono a que chegaram a rede viária e os espaços urbanos. É também essencial que os empresários locais e a economia local não voltem a ter os seus “judas”, como aconteceu em vários momentos, nomeadamente com o programa PROCOM. 3. Em qualquer ilha as entradas e as saídas são essenciais. Já falámos do porto e em breve falaremos do aeroporto, mas temos que ter a ideia clara de que se essas entradas e saídas são determinantes, não é menos determinante a dinâmica económica, social, cultural que se cria ou que se não cria internamente. O nosso “calcanhar de Aquiles” tem sido esse e é esse ponto fraco que tem que ser corrigido. Está demonstrado que as capacidades existem em todos os níveis. Falta demonstrar que há vontade em as potenciar. Está demonstrado que o auto-isolamento não é solução. Falta demonstrar que temos capacidade de agir em cooperação com outros. Está demonstrado que é urgente haver mudanças de comportamentos internos. Falta demonstrar que é possível, no plano político, construir uma verdadeira alternativa que vise valorizar e desenvolver o Faial. Sá assim desaparecerá o nosso “calcanhar de Aquiles”.
José Decq Mota em Visita ao Faial (3) No “Tribuna das Ilhas” em 15 /04 / 05