No seguimento de outras reflexões aqui feitas, ocorre-me chamar hoje a atenção para uma tendência política regional que, teimosa e irracionalmente, se tem acentuado nos últimos tempos. Estou a referir-me à claríssima tentação centralista que marca, agora de forma cada vez mais forte, as atitudes, o pensamento e, principalmente, a prática dos governantes açorianos.
Este é um problema velho, que se viveu já no tempo da maioria PSD, que contribuiu muito para o, na altura inesperado, crescimento eleitoral do PS em diversas ilhas mais pequenas, mas que se instalou no poder PS de forma, agora, quase dominadora. Esse centralismo está presente no Plano Anual, está presente em inúmeras atitudes aparentemente avulsas e está presente, cada vez mais, em propostas legislativas.
Esse centralismo interno acomoda-se na cabeça de alguns “economistas modernos” que procuram “teorizar” sobre as alegadas vantagens em concentrar investimentos nas duas ilhas maiores, em concentrar serviços e funções diversas nessas duas mesmas ilhas e em diminuir ou anular o papel que muitas infra-estruturas e condições naturais têm nas outras. Mas esse “esforço teórico” não consegue nunca disfarçar os interesses concretos que se movimentam na sombra e que procuram tirar fáceis vantagens desse concentracionismo centralizador.
Em artigos de outra dimensão procurarei contribuir para a desmontagem dessas tentativas para, à custa do desenvolvimento e do equilíbrio de sete ilhas, propiciar vantagens absurdas a restritas faixas das restantes duas.
Por hoje e aqui fica apenas a profunda convicção de que o futuro dos Açores, enquanto Região Autónoma una, não se constrói por este caminho e de que os autores destas políticas concentracionistas e centralizadoras seriam, se elas vingassem, os verdadeiros coveiros do sistema autonómico. É assim porque o todo só se constrói se todas as partes estiverem justamente inseridas nesse processo construtivo. Não sendo assim o edifício cai!
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado no jornal "Diário Insular" na sua edição do dia 6 deAbril de 2010