A grande reforma do Estado cuja proposta de apresentação conceptual ficou a cargo do vice-primeiro irrevogável dissimulador do governo do CDS, recém-nomeado pelo primeiro-ministro do PSD que nunca falta à verdade, e empossado pelo salvador da República da Troika, afinal tem por base a privatização da Segurança Social Pública.
Com a privatização dos CTT, agora praticamente esgotadas em 30 anos as privatizações diretas, o segredo, que outros governos anteriores afinal já tinham tentado aplicar, é, além de as cortar ainda mais (10%?), “plafonar” as pensões e reformas pagas pelo Estado, entregando às seguradoras privadas o resto, o que não faz senão ajudar a descapitalizar ainda mais rapidamente a Segurança Social Pública. Regressamos à pantomina do “corte nas gorduras” que apenas significa retirar ao Estado despesas com serviços essenciais, para os quais todos pagámos e pagamos cada vez mais, enquanto uns tantos se apropriam do capital assim libertado para finalidades diversas que pouco têm a ver com a boa administração desse Estado e muito mais com grandes negócios particulares e especulativos.
Já não se servem só dos cargos governativos para ir para as grandes empresas, já vêm também das grandes empresas para se servirem dos cargos governativos. Não vamos outra vez falar da Ministra das Finanças, Maria Luis Albuquerque. Foi a vez de um Secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge, que depois de estar a fabricar (com documentos mais ou menos manipulados), em nome da banca, trafulhices lesa-milhões ao Estado (via contratos SWAP) com o governo de Sócrates, entrou no governo PSD/CDS para renegociar esses contratos em nome de todos nós…Foi um novo Ministro de Negócios Estrangeiros, Rui Machete, que, tal como o Presidente da República da Troika, andou antes a cavar inocentemente, com 150% de lucro pessoal, um pouco mais do maior buraco - o BPN, com que o governo anterior acelerou o mergulho do défice público.
Afinal os verdadeiros culpados dos gastos a mais, que sempre cobiçaram as “gorduras” do Estado para saciar os seus apetites negociais e pessoais, estão lá todos (neste governo e nas instituições nacionais) bem representados e até, nalguns casos, de corpo inteiro.
Este governo não apenas negociou em prejuízo nacional as PPP’s e os contratos SWAP, como é ele próprio uma PPP (parceria público-privada) e um contrato SWAP, já que representa a negociação entre os portugueses e os partidos que assumiram o poder, em coligação abençoada pelo presidente, da assinatura de um contrato altamente lesivo para os portugueses.
Resta-lhe, em tempo de autárquicas, apresentar muitos “resultados positivos” na economia e “menos cortes” na despesa pública, substituir no seu seio uns trafulhas por outros trafulhas, para se justificar perante os sacrificados e impedir a queda abismal em número de votos dos partidos que o suportam.
As vitórias em eleições autárquicas, apesar de serem de menor envergadura e salvo devidas e honrosas exceções, têm constituído, como todos sabemos, excelentes oportunidades de negócio para muitos outros da mesma estirpe que se apresentam a concorrer quer pelo PSD, quer pelo CDS, quer mesmo pelo PS.
Compete à outra parte contratante (que são os portugueses enquanto eleitores) tomar cuidado com as carapuças que pode enfiar e que tantos prejuízos lhe têm causado, retificando, ou pura e simplesmente rasgando, os contratos que tem assinado à falsa fé com este tipo de gente.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 7 de agosto de 2013