Saltando de ilha para ilha, de terra para terra, de pessoa para pessoa, o “Bom Dia Açores”, consegue ser uma espécie de espelho da nossa vida colectiva, com o que ela tem de criativo e bom e também com os problemas com que nos confrontamos. Pedro Moura, jornalista, conseguiu demonstrar de forma cabal que a informação “oficiosa” que está tipificada e marca os telejornais só existe porque é imposta por quem manda. Demonstrou isso fazendo outro tipo de informação mais ampla, mais viva, mais concreta, mais ligada à vida e mais equilibrada. Um dos mais apreciados e ouvidos programas da chamada Antena 1- Açores é o “Inter-Ilhas” de Sidónio Bettencourt e tal também não acontece por acaso. Sidónio Bettencourt, jornalista e profissional da rádio, animador cultural e homem de cultura, entre um disco, uma conversa, uma entrevista e uma notícia, também consegue reflectir no seu programa a nossa realidade viva e vivida.
Ambos estes comunicadores, Pedro Moura e Sidónio Bettencourt, quiseram e conseguiram transferir para as respectivas actividades uma perspectiva de valorização da comunicação, que muito os honra, que se afastam dos padrões dominantes. Quando, manhã cedo, ligo a RTP/Açores e tomo o pequeno almoço com a companhia do Pedro Moura, vou vendo e ouvindo aspectos, episódios e questões da nossa vida colectiva. Quando ligo o rádio e ouço a voz conhecida do Sidónio sei que o que vem a seguir tem qualidade e está ligado à vida. Não vejo nesses programas aquele seguidismo em relação aos poderes que se vêem, ouvem e se lêem noutros sítios. Não vemos nem ouvimos situações que se percebem que são “fretes” que se prestam. O “Bom dia Açores, o “Inter-Ilhas” e alguns outros programas, mas não muitos, são a demonstração de que vale a pena ter serviços públicos regionais de televisão e rádio. São programas que estão em sintonia com a liberdade em que vivemos. São programas que não existem como factor de condicionamento da liberdade de cada um de nós.
São, por isso, bons programas e é importante que tenham longa vida. 2. É essencial que se continue a trabalhar para assegurar a existência, nos Açores, dos serviços públicos de televisão e rádio, dotados de meios indispensáveis à realização da respectiva missão. O ex-Ministro Morais Sarmento fez tudo quanto pode para dificultar esse processo de consolidação. Agora é tempo de avançar e não há desculpas para que não se avance. A RTP/A e a RDP/A, precisam de ter orçamentos adequados, meios adequados e orientações compatíveis com a sua natureza de serviço público. Temos que ter a consciência clara e precisa de que as nossas especificidades não se compadecem com a ausência de debate e divulgação pública dos nossos problemas. Por isso não podemos vacilar na defesa do nosso direito em termos, ao mesmo tempo, serviço público nacional e regional de rádio e televisão.
José Decq Mota – em “Palavras com Sentido” na Revista "Factos"