Um dia destes vi um episódio da série televisiva de Joaquim Furtado sobre a guerra colonial e, apesar de ter vivido essa época, não me deixei de espantar com um célebre e triste discurso do General França Borges, Presidente da Câmara de Lisboa nos anos sessenta, no qual, respondendo aos oposicionistas que defendiam a autodeterminação das colónias, dizia que “depois de Portugal ter descoberto o Mundo tudo ficou determinado e nada mais há a determinar”….
Felizmente, nove anos depois deste discurso, tudo o que dizia respeito
a Portugal e aos Países colonizados por Portugal foi determinado de
novo. Nesse tempo tudo o que o poder politico instalado discordava e
combatia era obra “dos comunistas”.
Já lá vão quarenta anos desde esse tempo em que todos os discursos
oficiais eram tão ocos como o que referi de França Borges e a vida
publica era comandada por mentes dominadoras e distorcidas e, apesar de
muitas transformações positivas, voltam a surgir posições e discursos
que me provocam um grande espanto. Está neste caso a reacção do 1º
Ministro Sócrates à enorme manifestação convocada pela CGTP-IN e que se
realizou na passada 6ªfeira, dia 13 de Março.
Sócrates desvalorizou a
manifestação de duzentos mil trabalhadores, jovens, mulheres, homens,
reformados, desempregados, todos unidos pela necessidade e urgência que
há em ser mudada a politica de direita que há muito vem marcando
negativamente a vida da maioria dos Portugueses; Sócrates ressuscitou o
espantalho da “manipulação comunista”; Sócrates, pobre de ideias e
completamente transformado num dirigente europeu da elite eurocrata
vendida ao neo-liberalismo, fez-me lembrar esse França Borges do outro
tempo. Apesar de tudo, espanto-me!
José Decq Mota, no Jornal "Diário Insular", no dia 17 de Março de 2009