No último dia 28 de Março, celebrou-se mais um dia nacional da Juventude. A Interjovem/CGTP-IN assinalou este dia com uma manifestação em Lisboa, onde participaram milhares de jovens descontentes com as políticas do governo, particularmente em relação a quem tenta entrar no mercado de trabalho, cujo objectivo de conseguir um posto de trabalho que lhe confira alguma estabilidade, é quase (infelizmente) um sonho impossível de concretizar.
Se os números gerais do desemprego são assustadores, aumentando todos os dias de uma maneira exponencial, fruto de uma crise estrutural da sociedade portuguesa, devido ao abandono a que está votado o aparelho produtivo nacional e o abandono do consumo interno, mas também fruto da crise internacional, bem como da demora do governo em aplicar medidas que promovam o emprego com direitos, os algarismos relativos ao desemprego dos jovens trabalhadores, são (mais) uma clara derrota para o governo, que, há muito, optou por manipular estatísticas, por um lado, e precarizar a vida aos jovens que tentam ingressar numa profissão, com o objectivo de saírem de casa dos pais, e estabeleceram a sua vida por conta própria, por outro. Hoje em dia, este é um propósito cada vez mais adiado.
No que aos menores de 25 anos diz respeito, a taxa de desemprego situava-se nos 18%, em relação ao último trimestre do ano transacto. Falamos, nesta faixa, de todos aqueles que abandonam os estudos, que concluem o ensino secundário, profissional ou um curso superior, e não encontram, na sua área ou noutra, um lugar para o exercício da sua actividade. Aqui, também se incluem milhares de jovens que, devido às alterações à atribuição de subsídio de desemprego, e apesar de terem trabalhado durante algum tempo, não o fizeram durante o período necessário para acederem àquela prestação, ou mesmo ao subsídio social de desemprego, ou ainda os muitos milhares que, trabalhando em condições extremamente precárias, como é o caso dos falsos recibos verdes, não têm direito, segundo a legislação em vigor, a qualquer auxílio monetário por parte do Estado.
Enquanto os responsáveis pela condução das políticas do país continuam a acenar com estágios profissionais e outras medidas semelhantes que deveriam ser limitadas no tempo e no público-alvo, pois constituem a eternização de situações de precariedade, o desemprego dos jovens com qualificação superior continua a aumentar, sendo que esta realidade deveria envergonhar qualquer responsável político deste país, nomeadamente o primeiro-ministro. Quem acaba o curso superior, tantas vezes o sonho de uma vida conseguido com enorme esforço por parte de pais e filhos, encontra agora uma taxa de desemprego (até aos 25 anos) de 27,3%, sendo que esta indicação desce para os 9%, se falarmos da faixa entre os 25 e os 34 anos.
Num país como o nosso, que precisa de desenvolvimento humano como pão para a boca, os dirigentes políticos com responsabilidades governativas, continuam a desperdiçar estes recursos, acenando-lhes com o terrível fardo do desemprego, ou com a exploração em “call-centers”, sendo que estes optam, tantas vezes, por aquilo que os seus avós há muito também fizeram: emigrar para onde possam trabalhar, e onde vejam reconhecidas as suas capacidades, bem como as suas habilitações. Perante este cenário, o ministro do Ensino Superior diz que não há licenciados no desemprego (amigos seus, talvez não).
Cada vez mais se utiliza o contrato não permanente, em detrimento do contrato permanente. O primeiro cresceu mais de 20 por cento, nos últimos quatro anos, firmando-se nos 883 mil trabalhadores, aqueles que não têm vínculo permanente, representando cerca de 22,3 por cento do total de trabalhadores assalariados.
Não bastando este negro cenário como pano de fundo para o futuro de milhares de jovens portugueses, e as dificuldades não teriam maiores proporções. De facto, as más notícias (para todos os portugueses, mas principalmente para os jovens) não se ficam por aqui. Tendo em linha de conta os jovens desempregados, mais de metade (57%) não tem direito a qualquer prestação social, nomeadamente, como já referi, devido às alterações à legislação protagonizadas pelo PS.
A precariedade atinge mais de 40 por cento dos jovens trabalhadores, o que significa que mais de 450 mil vivem diariamente na corda bamba, sendo que, para agravar a situação, os jovens (precários) têm como remuneração base cerca de 76,8% da remuneração geral.
Hoje em dia, todos conhecem casos de discriminação, relativamente aos jovens trabalhadores. Todos já ouviram histórias, comentários e relatos de jovens trabalhadores que, perante graves situações de exploração por parte do patronato (e até do Estado), onde cabe o não pagamento de horas extraordinárias, a redução unilateral de férias, a exigência de mais e mais tarefas, pela mesma (miserável) remuneração, apenas receberam da entidade empregadora a seguinte resposta:” se não queres, há muito quem queira”. Mesmo que aceitar tamanha carga de exploração seja a diferença entre fazer algo, ou não ter nada para fazer, este não pode ser o caminho.
Em época de distorções semânticas, apelidando o governo de regalias e privilégios, direitos consagrados na lei, à custa do esforço dos trabalhadores durante os últimos trinta anos, caberá também aos jovens trilharem o seu caminho, não virando as costas à luta, que também e principalmente, é deles, mas, e em primeiro lugar, tomarem consciência da sua importância e alcance na sociedade, não descurando, nem ignorando que o futuro será deles: com mais, ou menos direitos, conforme a sua dinâmica ou passividade perante os cenários dados como certos, que, a cada dia que passa, lhes asseguram não terem alternativa possível.
Fernando Marta, no blog
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