Camaradas, o objetivo desta breve comunicação é informar-vos sobre a Ilha de Santa Maria. Gostaria de dizer-vos que a organização existe e resiste, contudo isso não acontece, talvez sobreviva. Porquê?
A população de Santa Maria ronda os 5000 habitantes, a pecuária e a agricultura são as atividades económicas preponderantes, mas o setor onde encontramos mais trabalhadores(as) é o dos serviços – o Governo Regional é o principal empregador. Salários baixos e empregos precários são a regra, portanto. Poderíamos pensar que isto agregasse pessoas em torno das nossas lutas, mas a tradicional bipolarização partidária mariense prova o contrário.
Aliada a esta “tradição” democrática, outros dois pontos: o desinteresse na participação cívica e a desinformação sobre o PCP. O movimento associativo é incipiente no que respeita à ação pela comunidade, a cidadania concretiza-se em “desabafos” nas redes sociais – fonte, ao mesmo tempo, de alguma da desinformação relativa ao nosso partido, reforçada pela cobertura dos media tradicionais.
São vários os constrangimentos à ação da organização em Santa Maria, portanto, e isso talvez explique (ou até justifique) a fraca participação de militantes, simpatizantes ou amigos(as), no entanto, para que a organização intervenha precisa de pessoas, de uma equipa. Recrutar novos militantes. Como? Através do contacto direto com a população, mas, e tendo por base os resultados dos últimos três atos eleitorais, o contacto direto com a população não se tem revelado eficaz. Porquê? Por todos os motivos anteriormente referidos.
Alterar a tradição, combater o comodismo e contrariar a desinformação poderão exigir uma abordagem estruturada em redor de uma política de comunicação direcionada para a população e a realidade da organização, isto pressupõe, para além de uma presença regular e oportuna nas redes sociais, apostar nos media locais - importa ampliar a perceção da justiça das nossas reivindicações junto da população.
Um ponto crucial para a ação em Santa Maria é a área da educação. Certamente o mesmo se passará em outras das ilhas mais pequenas do arquipélago, mas, em Santa Maria, todas as crianças e jovens, entre os 10 e os 18 anos, frequentam a mesma escola, atualmente são cerca de 600. Estas crianças e jovens não têm a mesma possibilidade de escolha daqueles(as) residentes em outras ilhas, uma vez que dependem essencialmente dos recursos de que uma única escola dispõe. E os recursos são escassos.
O próprio edifício espelha a complacência do Governo Regional em relação a Santa Maria: o gradeamento está danificado, o telhado e a cobertura dos vários blocos necessitam de manutenção urgente, chove em vários espaços e muitas das salas de aula encontram-se em mau estado (infiltrações, soalho, janelas…), grande parte do mobiliário e equipamento encontra-se obsoleto.
A escola pública promove um modelo de aluno(a) radicado no debate e na discussão, mas como é possível trabalhar as novas competências de pesquisa e o tratamento da informação, quando o equipamento tecnológico disponível é insuficiente? Ou quando não existem verbas para a sua aquisição, independentemente das campanhas mediáticas da sua distribuição pela tutela…
O exemplo aqui referido diz apenas respeito ao material informático, mas poderíamos exemplificar também com a ausência de investimento em recursos educativos imprescindíveis como são, por exemplo, as bibliotecas escolares. A nossa biblioteca escolar não possui dotação orçamental por parte da escola, integra a Rede Regional de Bibliotecas Escolares, mas este organismo não possui uma política estruturada sequer semelhante à da Rede de Bibliotecas Escolares.
O nosso sistema educativo público é democrático e afirma-se comprometido com os valores da justiça social, no entanto, os alunos e alunas de Santa Maria estão obrigados aos programas curriculares e opções educativas existentes – que dependem dos critérios delineados pela Secretaria Regional da Educação, insensíveis às especificidades do território e das comunidades educativas. As escolas públicas existem para aprofundar a democracia e promover a justiça social, não para o oposto. Mas é isso que sucede.
Em termos de recursos humanos, na Escola Básica e Secundária de Santa Maria, por não existirem auxiliares, auxiliares técnicos, técnicos superiores e professores(as) em número suficiente, a própria instituição também faz parte do pernicioso sistema da perpetuação do emprego precário através dos programas governamentais.
A lógica de custo-benefício domina os serviços públicos, assim, as escolas são vistas como organizações que devem reduzir custos, maximizar resultados, gerar receitas próprias e serem rentáveis. Infelizmente, esta mesma lógica também se aplica ao outro ponto crucial para a ação em Santa Maria: a área da cultura.
Não existe uma verdadeira política cultural, isto é, uma estratégia que preveja a preservação das manifestações culturais locais e tradicionais, mas que integre também a produção de novas manifestações. Transmitir cultura e produzir cultura devem ser indissociáveis, caso contrário, apenas existe reprodução e nunca a transformação.
A própria tutela contribui para o triste panorama cultural na ilha, tomemos como exemplo a única sala de espetáculos existente, o chamado “cinema do aeroporto”, cujo edifício foi recentemente recuperado e permanece de portas fechadas. Recordo-vos aquilo que muitos(as) marienses já esqueceram: foram as reivindicações do PCP que possibilitaram a recuperação do cinema.
Camaradas, concluo esta breve comunicação reafirmando: a organização em Santa Maria talvez sobreviva. Porquê? Porque as condições objetivas e subjetivas necessárias, como bem sabemos, não são estanques ou imediatas. Mas também não são espontâneas e têm de ser o produto de um coletivo.