Na inauguração da exposição do bicentenário do nascimento de Karl Marx, patente na Biblioteca Pública de Ponta Delgada, Aníbal Pires, do Secretariado da DORAA do PCP, recordou o papel de Marx na explicação dos mecanismos que permitem a acumulação das riquezas monstruosas na mão de muito poucos e que são a razão de existir do capitalismo. Ao fazê-lo, indicou também as formas de superar este sistema económico, do qual resulta a pobreza, a miséria e os problemas da grande maioria da Humanidade. Da superação do Capitalismo será construido um sistema onde a economia seja colocada ao serviço de todos e onde cada um tenha as condições para ser feliz, sem com isso impedir a felicidade de outros!
Numa fase da Humanidade, onde nunca como hoje se conheceu tanta injustiça na distribuição da riqueza, onde o trabalho de quase todos permite o enriquecimento irracional de muito poucos, torna-se urgente abrir caminho para derrubar um sistema que mais não faz do que gerar crises e guerras, cada uma mais violenta do que a anterior e apenas com o fim de garantir a sua própria sobrevivência.
Ao abordar o caráter antidogmático do Marxismo, Aníbal Pires afirmou que esta teoria, "(...) pela sua própria natureza materialista e dialética é antidogmática, ou seja, não se cristaliza em conceitos abstratos e intemporais, é expressão do próprio movimento da sociedade, enriquece-se constantemente com os progressos da ciência e a ação e reflexão do movimento comunista e revolucionário internacional. (...)"
A exposição estará patente até dia 31 de julho, terminando com uma sessão de debate sobre o Marxismo, em torno do livro de Marx e Engels, Manifesto do Partido Comunista.
Exposição – Bicentenário do nascimento de Karl Marx
Intervenção na abertura da exposição – Ponta Delgada
Caros amigos e camaradas,
Senhoras e senhores
Fui incumbido de, na inauguração desta exposição, proferir algumas palavras, que prometo desde já, serem breves. Estamos aqui para ver, Ver mais do que ouvir, contudo este momento exige que se teça um enquadramento desta iniciativa nacional do PCP, iniciativa que visa celebrar o bicentenário do nascimento de Karl Marx.
Mas, antes disso e como é avisado importa agradecer, em nome do PCP Açores, à Direção da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada a total disponibilidade manifestada na cedência deste espaço para que durante os próximos dias os seus utilizadores e visitantes, regulares e ocasionais, possam ter contato com alguns aspetos da vida e obra Karl Marx que, em conjunto com Émile Durkheim e Max Weber, é referenciado como um dos três principais arquitetos da ciência social moderna.
Quero, também, deixar uma palavra de agradecimento aos militantes e simpatizantes do PCP Açores que com o seu trabalho procederam à montagem desta exposição. Por fim agradeço a Vossa presença, agradecimento ao qual associo um pedido, Divulguem junto dos vossos amigos reais e virtuais esta exposição e com isso estarão, também, a contribuir para que o conhecimento da obra de Karl Marx possa sair da opacidade em que nas últimas décadas a tentaram mergulhar com o propósito de esconder um pensamento e entendimento do Mundo que, quer se queira quer não, quer se goste quer não, está na origem das grandes transformações e avanços sociais que marcaram o século XX.
O PCP durante o presente ano e por todo o território nacional tem promovido um conjunto de iniciativas para assinalar, por um lado II Centenário de Karl Marx, mas também com o intuito de divulgar a atualidade do seu pensamento, a sua obra e combater algumas ideias preconcebidas sobre a teoria marxista. Teoria que pela sua própria natureza materialista e dialética é antidogmática, ou seja, não se cristaliza em conceitos abstratos e intemporais, é expressão do próprio movimento da sociedade, enriquece-se constantemente com os progressos da ciência e a ação e reflexão do movimento comunista e revolucionário internacional.
Álvaro Cunhal num texto sobre a passagem dos 150 anos do Manifesto Comunista (de Marx e Engels), em 1998, é claro quanto à atualidade da teoria marxista e à sua natureza antidogmática e passo a citar, “O Manifesto Comunista é um extraordinário libelo acusatório contra o capitalismo.
Não apenas indicando a situação da classe operária e das massas trabalhadoras: os salários injustos, o desemprego, o tempo e intensidade de trabalho, as discriminações e falta de direitos da mulher, o trabalho infantil, os problemas da habitação e da saúde, o alastramento da pobreza e da miséria. Não apenas apontando medidas necessárias de carácter imediato. Mas também desvendando a natureza e as leis do capitalismo e apontando a necessidade e possibilidade histórica de superá-lo.”
O tempo tem vindo a demonstrar que esta é uma realidade cada vez mais dramática e que se acentuou com mais uma das cíclicas crises do capitalismo que Marx identificou e referiu como sendo uma caraterística intrínseca do capitalismo.
Quanto ao caráter antidogmático da teoria marxista diz, no mesmo texto, Álvaro Cunhal – “ As teorias de Marx e Engels, das quais o Manifesto Comunista faz uma primeira síntese, revolucionaram o pensamento e as sociedades no século XX.
A sua expansão mundial foi possível por explicar o que até então não tinha explicação. Sobre a relação do ser humano com a natureza que o envolve. Sobre as contradições e história das sociedades. Sobre a economia capitalista e suas leis. Sobre a atualidade da construção revolucionária de uma nova sociedade. Porque científicas e dialéticas, teorias abertas à reflexão e contrárias à própria cristalização.
As conquistas das ciências, as transformações provocadas pelas novas tecnologias, a internacionalização a nível mundial dos processos produtivos, as alterações na composição do proletariado, obrigaram e obrigam a novas respostas e a um novo rigor dos princípios teóricos.
Curioso que certos estudiosos, quando falam do marxismo, investigam o pensamento de Marx antes de este ter formulado as grandes conclusões teóricas. Ou seja: de quando Marx ainda não era marxista. O marxismo há que considerá-lo em movimento, acompanhando a vida.” Fim de citação.
Com estes dois exemplos sobre a atualidade e o caráter antidogmático da teoria marxista cumpro o que me comprometi no início desta intervenção. Prometi ser breve e julgo que cumpri o compromisso. Resta-me agradecer a Vossa atenção e convidar-vos a fruir desta exposição com que assinalamos em Ponta Delgada o II centenário do nascimento de Karl Marx.
Anibal C. Pires, Ponta Delgada, 20 de Julho de 2018