É comum vermos plasmados nos jornais, nas rádios e televisão, e restantes órgãos de comunicação social do arquipélago e do país, argumentos vastos de comentadores, comentaristas e críticos acérrimos dos caminhos que a política nacional, e até regional, têm percorrido nos últimos anos, particularmente desde as aclamadas vitórias de Carlos César para a presidência do governo regional, bem como desde o primeiro mandato do primeiro-ministro, secretário-geral do PS, e cujas opções de governação são postas em causa, diariamente, pela luta dos trabalhadores e das populações, mas não só.
Não obstante, o citado e estafado aligeirar de responsabilidades conhece, por vezes, momentos em que, quem não conheça o país, ou quem há muito emigrou deste jardim à beira-mar plantado, há-de sentir-se mais do que confuso, confundido. Na verdade, é um fartote de intervenções escorreitas de quem, do mesmo partido ou do partido do mesmo, passa os dias e as noites a tecer comentários (inscritos nos discursos do 25 de Abril) contra uma política que esses (os mesmos) levaram a cabo, apoiaram ou, não tendo apoiado, pagam quotas para o mesmo propósito. É isto mesmo, clarinho como água.
Na Região Autónoma dos Açores, é vê-los a contradizerem-se a si, e aos seus partidos, em textos e mais textos de muita letra, mas pouco conteúdo. Criticam aquilo que ajudaram a construir, com o objectivo primeiro de mistificar quem lê, quem ouve, quem vota. Se assumissem as suas malfeitorias como executantes de uma política que tem levado à degradação das condições de vida dos portugueses, como reagem àquilo de que discordam concordando, as populações saberiam escolher quem as governa de outra forma, atendendo a outro futuro. Mas dizer uma coisa, e o seu contrário, esperando que se torne verdade, acaba por ser mais seguro.
Nos discursos do 25 de Abril, aconteceu, a este respeito, o receituário de sempre: ex e actuais ministros, presidentes da república, governantes vários a tecerem críticas de ocasião ao trabalho que deixaram do tempo em passaram pelos corredores do poder. Muito se falou sobre salários de gestores, lucros dos grupos económicos e financeiros, disparidades salariais. Para “português ouvir”, diria. Estes foram precisamente os mesmos que, quando puderam, deixaram tudo na mesma.
Artigo de opinião de Fernando Marta