Ao contrário do resto do país, Madeira incluída, a suprema dependência objectiva que a Região (arquipelágica, distante e pulverizada) tem dos transportes, é um constrangimento permanente que se repercute, da pior forma, em toda a vida económica e social dos açorianos.
Se, como advogam alguns dos nossos “vanguardistas” da economia de mercado, devêssemos caminhar no futuro para uma economia regional exclusivamente auto-sustentada e auto-regulada, bastaria o constrangimento dos transportes (alguns opinam que talvez também o da energia) para eternizar, nos Açores, produtos mais caros e rendimentos menores. Bastaria o constrangimento dos transportes para introduzir uma tendência irreversível de desertificação em algumas das ilhas. Bastaria isso para, todo o sempre, fadar os Açores com o agravamento das desigualdades e o enfraquecimento da coesão regional e nacional (tal como, por todos sabido, já aconteceu em tempos), eliminando potenciais possibilidades de oposição à tendência objectiva para o afastamento dos níveis e qualidade de vida dos açorianos em relação aos seus compatriotas do Continente e mesmo da Madeira.
Por isso se diz, com propriedade, que a questão dos transportes é, nos Açores e para o seu desenvolvimento integrado, uma questão vital e do interesse de Portugal no seu todo.
Não é portanto legítimo, ao nível institucional, que relativamente aos transportes se aligeirem as palavras e se criem falsas expectativas, em particular quando tais expectativas incidem direitinhas sobre a eliminação da raiz primeira do sufoco no nosso desenvolvimento.
Passagens aéreas promocionais mais baratas que as regulares, já as havia. Pareceria então ridículo que uma medida praticamente de gestão corrente da SATA (um possível maior abaixamento do custo dessas passagens promocionais) atingisse o alcance e a honra de grande anúncio político, feito pelo líder do partido no poder, no seu congresso regional de Abril passado. Mas, para espanto geral, por esclarecimento oficial e público desse mesmo partido, foi passados dois meses, repentina e inopinadamente, dada a garantia absoluta de que foi mesmo aquilo o que efectivamente aconteceu!
Não se confirma o que muitos entenderam, confirma-se o ridículo, portanto. Mas o que não passaria de mais um episódio político jocoso para esquecer, trouxe entretanto por arrasto consequências inquietantes.
É que, desta forma, voltamos então à estaca zero, donde, pelos vistos, só por ilusão saímos. Enrodilhado em palavras, nasceu um imenso vazio no respeitante às reais intenções e empenho, tanto da Região como da República, sequer para colocar na ordem do dia a abordagem a fazer para a resolução de um grave e profundo problema que persiste em praticamente toda a sua dimensão, o problema do sobrecusto dos transportes aéreos para a economia regional.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado no jornal "Correio dos Açores" na sua edição do dia 24 de Junho de 2010