Em tempo de guerra mentira é como terra. Nem tudo que reluz é ouro. Não faça aos outros o que não queres que te façam. Estes são alguns ditos populares que mais directa ou mais indirectamente estão relacionados com a mentira. Eu não poderei afirmar que nunca tenha mentido, mas abomino de tal forma a mentira que prefiro mil vezes uma verdade que me magoe, me seja desfavorável, do que uma mentira esfarrapada ou piedosa. A mentira tem, de facto, a perna curta, mais depressa se apanha um mentiroso que um côxo, e num meio pequeno como o nosso mais tarde ou mais cedo a verdade vem ter-nos à mão servida em bandeja e geralmente obra do acaso.
Quando confio numa pessoa e mais cedo ou mais tarde venho a saber que em qualquer altura essa pessoa deliberadamente me mentiu ou enganou, mesmo conhecendo-me e sabendo que eu detesto a mentira e que por me mentir me vai desiludir e magoar, essa pessoa pode ficar certa de que nunca na minha vida eu voltarei a ter a confiança cega que anteriormente nela depositava. Acabou e não há nada a fazer. Eu sei que é preciso “Tê-los” no sítio, como muito sabiamente, também, diz o nosso povo para se dizer sempre a verdade numa de doa a quem doer, ser frontal e cairmos em desgraça por o ser-mos. Mas nada como se dormir com a consciência tranquila, já que as agruras e “cinzenturas” da vida e…as mentiras dos amigos... nos tiram o sono em quantidades e qualidades suficientes para nos estragar a noite e azedar o dia. Bom, deixemos as considerações de carácter pessoal e vamos ao que interessa, embora aquilo que interessa esteja, de certo modo, ligado à questão da mentira: Eu tenho a mania das ecologias, como toda a gente sabe, e não é vício recente.
Já quando eu andava a estudar no Porto, há mais de vinte e cinco anos, portanto, andava de bilhete de autocarro na mão ou o papelinho da chiclete/gama durante metros bem aviados para não os atirar para o chão, até a um recipiente do lixo…mania mesmo… Agora tento separar o lixo que produzo em casa o melhor possível e meto-o no carro e vou levar até aos contentores que foram depositados para o efeito na rua atrás da minha…Tudo bem, eu parto do princípio de que esse lixo continua separado até ser entregue no destino para ser reciclado, oxalá que um dia destes eu não tenha a desilusão de saber que afinal depois de recolhido vai tudo para o mesmo saco…a ver vamos. Mas desilusão eu já a tive, pois quando vou ao terminal do nosso Aeroporto vejo lá uns recipientes todos bonitos e aerodinâmicos com cestinhos dentro com a finalidade de lá serem depositados, separados, os lixos dos passageiros e acompanhantes, porque a ANA é uma empresa que se preocupa com o ambiente. Depois vem uma das senhoras da empresa de limpeza e “dumpa-o” para o mesmo saco. Lá estou eu a ser enganada e não gosto, claro que não gosto…Mas parece que é apanágio das empresas nacionais que se dizem verdes e amigas do ambiente esquecerem-se de o ser aqui na ilha, e não saberem onde ficam os pontos onde se faz a recolha selectiva, não fazerem acordos com as autarquias e canalizarem, pelo menos, o papel e as garrafas de plástico para os contentores devidos. Para mim o que elas fazem é uma forma de mentira, de fuga à verdade de não serem verdes mas pretas por faltarem à verdade e terem a responsabilidade de não estragarem o bem comum que é o nosso frágil ecossistema e se demitirem das suas responsabilidades para com as comunidades em que estão inseridas.
Outra mentira deslavada e descarada é a estória da carochinha que o Governo Regional inventou e que veio substituir o best–seller dos Três Porquinhos sendo o Lobo mau substituído pelo próprio Governo vestido de pele de cordeiro e os três porquinhos nós os marienses todos: “Ilhas de coesão”. Pois fique o meu querido ouvinte e mariense atento a saber, que o bilhetinho que o vai leva a S. Miguel no novo barco que vem fazer as viagens no próximo Verão e nos vai trazer os Sanmiguéis, como nós carinhosamente chamamos aos nossos vizinhos do lado, a Santa Maria vai custar quase mais cinco Euros, quase mais mil escuditos. Este aumento está muito acima do valor da inflação e é uma vergonha virem contar-nos estas estórias de coesões, e de indemnizações compensatórias pagas com o nosso dinheiro para que as viagens sejam baratas e nos aumentem o preço dos bilhetes numa quantia tão elevada. Mas, mais uma vez, nós iremos aceitar porque não estamos para protestar, para nos chatear e mais uma e outra e mais outra vez eles nos vão mentir, escarnecer, dar caneladas e nós a votar neles e a cara alegre.
Pois é, detesto que me mintam, mas mais detesto é saber que essa mentira vem da boca de alguém em quem eu confiei e votei. Não é este o seu caso? Apesar de não ser o meu em relação aos nossos governantes, pois não votei neles, eu sinto que estou a ser enganada porque sou mariense. Para terminar vou contar-vos uma coisa que se contava quando o Professor Marcelo Caetano proferia na RTP as famosas Conversas em Família que tinham como objectivo convencer o Povo de que estava tudo bem na República Portuguesa, que a Guerra Colonial não existia, apesar de toda a gente ver os filhos, os irmãos e os amigos a embarcarem para as colónias…Ora dizia eu que no tempo em que as raposas falavam…desculpem, em que O Professor Marcelo Caetano proferia as tais conversas, num café, nesse tempo ainda não eram muitos os lares com aparelho receptor de televisão, estavam muitas homens a assistir e um deles de olhos pregados no aparelho dizia baixinho: “Beija-me…beija-me” os outros estavam boquiabertos com os ditos do amigo, mas como era o Senhor Presidente a falar calaram-se e o tal sempre a dizer baixinho o Beija-me, beija-me…Quando acabou a Conversa um perguntou-lhe: “olha lá, tu estás doido??? Que estória é essa de pedires beijos ao Nosso Presidente?” Responde o homem: “É que sabes? eu gosto que me beijem quando fazem amor comigo e eu sei, perfeitamente, que ele me estava a lixar”. Abraços marienses Santa Maria
Ana Loura, Rádio Asas do Atlântico 27 de Março de 2006