Gostaria de Vos falar da visita de Passos Coelho aos Açores, mas confesso que a tarefa não é fácil, já que, depois dessa visita, os meus ouvidos ficaram cheios de nada, ou melhor, de lugares comuns, de generalidades e descomprometimentos. Fico-me pois por aqui.
Quanto ao Orçamento Regional para 2011, é o próprio Presidente que, em lugar de um orçamento positivo, que combata o abrandamento da economia regional, como permite a Lei, me parece que lhe dá antes uma machadada financeira e diz que não pode apresentar melhor, dadas as incertezas no horizonte nacional. Fico-me para já, também por aqui.
Entretanto, veio do exterior a OCDE aconselhar o Governo PS, entre outras safadezas, a subir mais o IVA e o IMI: dinheiro fácil e rápido, sacável aos inocentes da crise, que apesar de empobrecidos, são em grande quantidade (espremendo deles mais qualquer coisinha, num ápice se pode arrecadar uma dezena de mil milhões, não é assim?). Seria mais um triste contributo externo para esquecer, não fora Portugal ser fundador da OCDE e ter lá um embaixador. E aqui a coisa começa a cheirar mal, isto é, cheira a Governo PS com rabo internacional de fora. Perante uma tal manobra de engodo, apadrinhada pelo capitalismo sôfrego e pela banca especuladora, para impor aos portugueses mais um orçamento contra os seus interesses, por aqui já não me fico. “Querem ir buscar o bolo aos que têm migalhas, tirando umas migalhas aos que têm o bolo!” (Essa foi boa, Jerónimo…)
A chamada classe média (coisa que ainda não entendi bem do que se trata) mas que o CDS e o PSD muito gostam de invocar, já se poderia dar por satisfeita: Rendimentos mínimos, subsídios sociais de desemprego e outros dinheiros mal gastos com os pobres, que o “Estado Social” estaria a debitar indevidamente às suas algibeiras, estão a ser suprimidos uns a seguir aos outros pela mão do Governo PS. O pior é que, após tais medidas, nem sinal de melhoras para a dita classe…e mais um buraco de 4 mil e quinhentos milhões que os “médios” vão ter de tapar, segundo o Ministro das Finanças (ou a OCDE? Ou os alemães? Já não sei bem…), com mais impostos!
“Mais impostos além dos que já tinha combinado com o PS, não!”, reclama o PSD. “Cortes selvagens na despesa do Estado, sim!”, atalha Silva Lopes em seu socorro. “O Bloco Central (PS/PSD) está condenado a renascer!” dizem o Jorge Miranda, o Mira Amaral, o Miguel Beleza e o…Presidente da República!
É um concerto alarmista e ensurdecedor, para onde a Assembleia da República é a última a ser chamada, apesar de ser lá que se discutem os orçamentos de Estado! É o capital a querer antecipar-se à Lei (a abafar a Democracia, portanto).
Mas o interesse do país e dos portugueses é outro. CERTAS despesas do Estado devem mesmo ser reduzidas, não pelo recurso a cortes selvagens, da lavra dos economistas guardiães do bolo, mas visando a eficiência da administração. CERTOS impostos devem mesmo ser aumentados ou criados: Sobre o luxo, as grandes fortunas, os jogos de bolsa e o património, mas não os que penalizam ainda mais a produção e o consumo, os rendimentos do trabalho ou as reformas.
A título de exemplo, um só imposto bastaria para tapar o buraco do Sr. Ministro: a taxação dos bancos que emprestam dinheiro ao Estado Português a 6 %, e vão buscá-lo ao Banco Central Europeu a 1%!
Mário Abrantes