Pelos vistos, ultimamente, não passa uma semana em que esta gente não trompique nos próprios pés. Não sei se por causa da época de bruxedo em que a democracia parece andar envolvida, se bloqueados pela falta de luz ao fim do túnel, se por ralharem sem razão numa casa onde os papás (ex-desavindos) já se entenderam para tirar o pão…
Cumulativamente com a data do corte da República nos abonos de família a 8 575 crianças e jovens açorianos e o corte nas comparticipações dos medicamentos, Miguel Correia, o Secretário Regional da Saúde, informou os açorianos que, por sugestão das próprias administrações hospitalares, o Governo resolveu, a partir de 1 de Novembro, cortar o horário de atendimento das urgências pediátricas. De imediato o corpo hospitalar desmentiu o governante dizendo de viva voz que nunca acordara tal desiderato. Alguém estava a mentir portanto!
César, contornando convenientemente a questão, resolveu célere o assunto deitando mais gasolina para o lume. Com ar ameaçador e as sílabas marteladas avisou, para quem o quisesse ouvir, que “não há sectores intocáveis!” E eu que o ouvi, pensei: Estou de acordo! Tal como para outras áreas, para a administração política da saúde pública, não há sectores intocáveis, isto, claro, na mira de melhorar a qualidade da prestação dos serviços (supunha eu...). Ora, segundo o corpo hospitalar e ao contrário do que afirmou o Secretário Regional, não é este o caso. Além disso o que parece também, é existir aqui uma manifesta falta de diálogo com os agentes da saúde pública, sendo essa falta substituída por indisfarçáveis e lamentáveis tiques de autoritarismo da parte do Governo.
Para quem afirma publicamente reconhecer os efeitos sociais nefastos das medidas previstas do orçamento de Estado, cozinhadas entre PS e PSD, além de ficar mal não subscrever tal crítica quando ela é apresentada no Parlamento Regional, mais mal fica ainda acrescentar, por sua lavra e para consumo específico dos açorianos, outras medidas com efeitos potencialmente perniciosos!
Entretanto, do outro lado das famílias desavindas, na passada 2ª feira, a líder do PSD atirava-se de cabeça ao Governo Regional, numa reunião com a Associação de Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, afirmando com toda a convicção do mundo que “importa não ter apenas verbas inscritas no Orçamento. Importa sim lançar as obras, executá-las…”!
Três dias antes, na reunião do Conselho Municipal de Educação, a Presidente da Câmara de Ponta Delgada, mostrando ao Governo como se deve fazer, anunciava que a autarquia tem “concluídos ou em fase de conclusão projectos de requalificação e ampliação de seis escolas de Ponta Delgada…”. Ora, das escolas então citadas, vem ao caso uma, a do Ramalho, que tem as verbas de requalificação inscritas no Orçamento do Município pelo menos desde Janeiro de 2009. Nesse mesmo mês, a Câmara anunciava que se preparava para intervir na sua beneficiação/ampliação com obras no valor de 800.000 euros. Estamos em finais de Outubro de 2010 e a única verdade testemunhável sobre estas obras é que elas permanecem…inscritas no Orçamento!
Serei eu que estou baralhado e, por bruxaria da época, a escola ficou pronta e eu fiquei cego? Ou a líder do PSD e a Presidente da Câmara de Ponta Delgada deixaram de ser a mesma pessoa?
Mário Abrantes