António (a quem chamavam de “Praia” e que era também Borges Coutinho):
Quando me encontrei contigo pela primeira vez, já os tempos duros da ditadura fascista, tal como os subsequentes da revolução que a derrubou, iam mais brandos, e o ardor das lutas e da fraternidade combatente fora entretanto passado por mim, sem ti!
Não te podia sentir a falta, portanto. Mas a falta que fazes agora, depois de te ires, essa sinto-a e prolongo-a aos tempos em que a vida tinha apenas determinado que nos viéssemos a conhecer no futuro.
Quando me encontrei contigo pela primeira vez, já os tempos duros da ditadura fascista, tal como os subsequentes da revolução que a derrubou, iam mais brandos, e o ardor das lutas e da fraternidade combatente fora entretanto passado por mim, sem ti!
Não te podia sentir a falta, portanto. Mas a falta que fazes agora, depois de te ires, essa sinto-a e prolongo-a aos tempos em que a vida tinha apenas determinado que nos viéssemos a conhecer no futuro.
Tornámo-nos amigos…
Lembro-me, acho que foi ontem mesmo, de te ver (irreverente, como sempre, apesar dos anos) sentado sobre o selim da lambreta, pelas ruas de Ponta Delgada, e, surpreendido, comentava para comigo ao observar-te: “Este homem tem sete vidas…”. E tiveste!
Depois da sétima, resta-me o prazer imenso de te recordar.
Nasceste bafejado pela vida e do lado de lá da barricada, mas nem por isso deixaste de optar de acordo com a consciência, sobretudo da consciência humanista e social que adquiriras, submetendo às ideias a tua conduta, por mais que ambas fossem (e foram mesmo) pessoal e individualmente prejudiciais à tua condição original.
Por isso, não por desonestidade, por aldrabice, corrupção ou banditismo, ganhaste inimigos, alguns figadais, sobretudo porque não perdoaram em ti aquilo que entendiam supostamente como traição aos teus (e aos seus) interesses de classe…tanto antes, como depois da revolução.
E, assim, à tua volta se foram semeando, e foram germinando, nestas ilhas tal como no continente, as sementes do futuro que nasceram em Abril de 74.
Antes, os algozes do regime derrubado ensaiaram demover-te dessa “traição”. Não o conseguindo, e vendo-te como um irreverente e abnegado suporte da candidatura do General sem Medo, passaram a perseguir-te e levaram-te à prisão em 1961. Por essa altura, tinha eu onze anos de idade e apenas começara a ser massacrado, lá para os lados do Continente, com palavras como “Angola é nossa”, “terroristas” e “traidores da pátria”...
Já depois da revolução, perante as circunstâncias, e demonstrado o teu bom senso e desapego pelo poder, demitiste-te do cargo de Governador Civil para o qual a revolução te chamara, não sem antes o teres exercido com especial preocupação pela implantação da democracia nascente e pela melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos da terra, e sem depois teres deixado de pugnar com as ideias, do lado anti-separatista, prescindindo conscientemente da arma da sua potencial imposição autoritária, por via do poder institucional de que antes estiveras munido.
Também por isso, a Ordem da Liberdade!
E foi como um homem livre que partiste…
Lembro-me, acho que foi ontem mesmo, de te ver (irreverente, como sempre, apesar dos anos) sentado sobre o selim da lambreta, pelas ruas de Ponta Delgada, e, surpreendido, comentava para comigo ao observar-te: “Este homem tem sete vidas…”. E tiveste!
Depois da sétima, resta-me o prazer imenso de te recordar.
Nasceste bafejado pela vida e do lado de lá da barricada, mas nem por isso deixaste de optar de acordo com a consciência, sobretudo da consciência humanista e social que adquiriras, submetendo às ideias a tua conduta, por mais que ambas fossem (e foram mesmo) pessoal e individualmente prejudiciais à tua condição original.
Por isso, não por desonestidade, por aldrabice, corrupção ou banditismo, ganhaste inimigos, alguns figadais, sobretudo porque não perdoaram em ti aquilo que entendiam supostamente como traição aos teus (e aos seus) interesses de classe…tanto antes, como depois da revolução.
E, assim, à tua volta se foram semeando, e foram germinando, nestas ilhas tal como no continente, as sementes do futuro que nasceram em Abril de 74.
Antes, os algozes do regime derrubado ensaiaram demover-te dessa “traição”. Não o conseguindo, e vendo-te como um irreverente e abnegado suporte da candidatura do General sem Medo, passaram a perseguir-te e levaram-te à prisão em 1961. Por essa altura, tinha eu onze anos de idade e apenas começara a ser massacrado, lá para os lados do Continente, com palavras como “Angola é nossa”, “terroristas” e “traidores da pátria”...
Já depois da revolução, perante as circunstâncias, e demonstrado o teu bom senso e desapego pelo poder, demitiste-te do cargo de Governador Civil para o qual a revolução te chamara, não sem antes o teres exercido com especial preocupação pela implantação da democracia nascente e pela melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos da terra, e sem depois teres deixado de pugnar com as ideias, do lado anti-separatista, prescindindo conscientemente da arma da sua potencial imposição autoritária, por via do poder institucional de que antes estiveras munido.
Também por isso, a Ordem da Liberdade!
E foi como um homem livre que partiste…
Mário Abrantes