A necessidade de “reformas de fundo” (e até de “ruptura”), trazidas a debate público por Passos Coelho, caem como sopa no mel na consciência de quem (embora já não vote, ou nunca tenha votado, por desinteresse), vê objectivamente transferidos para si às carradas, provenientes de direcções várias, os encargos de uma política à qual cada vez é mais alheio e sobre a qual raramente é chamado a pronunciar-se, mas que, atendendo à profundidade e dimensão daqueles, pressente ser profundamente injusta.
De facto esse começa a ser o sentir difuso de mais e mais gente por esse país fora: Reformas de fundo, ou ruptura com o status vigente, para travar as injustiças e as asneiras do poder (encarnado em Sócrates e no seu Governo) precisam-se! Invertam-se as políticas, para cuja execução, não sentindo possuir competência individual, esses cidadãos, enquanto depositários ainda de alguma boa fé no sistema, tendem a delegar em quem seja suposto tê-la, e além disso possa fazê-lo, isto é, possua potencial força eleitoral para tanto. Assim raciocina Passos Coelho, e por isso lhe pareceu oportuno lançar o mote das “reformas de fundo”.
Desde logo se enredou, no entanto, numa 1ª contradição: Perante uma tão grande necessidade de adoptar “reformas” de fundo, ou até mesmo “romper” com a situação actual, para assegurar a sustentabilidade (a sobrevivência?) de Portugal, o que fez Passos Coelho perante a próxima oportunidade de substituir o actual governo, isto é, perante a apresentação de uma moção de censura, cuja aprovação na Assembleia da República só o seu partido poderia vir a garantir? Garantiu qualquer coisa de facto. Adiando a urgência das reformas que proclamara, garantiu a Sócrates e ao PS a sua continuidade no poder! Na possibilidade de agir para evitar o pior, nenhum médico diria a um doente em agonia, que de momento não lhe convinha salvá-lo. E se o fizesse, estaria a dizer uma de duas mentiras, ou que o doente agonizava sem estar agonizante ou que o salvava, quando já não tinha salvação…
E (espremidinho, porque o segredo é a alma perversa deste negócio) vejamos que reformas são afinal mais importantes para Passos Coelho:
A necessidade do Estado definir o que é o serviço público, diz ele. Para quê? Não certamente para lhe devolver a importância que o PS tem vindo a retirar…
A necessidade do Estado reduzir o financiamento das empresas públicas e transferi-lo para as privadas, diz ele. O PS tem feito o quê? Nacionalizações? Só se for a do BPN, com a qual, aliás, Passos Coelho concordou de imediato…
Acabar com o controlo do Estado sobre tudo e todos, diz ele. Mas o que tem feito o Governo Sócrates senão desestatizar aceleradamente a economia, entregando-a ao desbarato ao sector privado, e retirar aos mais desfavorecidos a protecção ou o incentivo constitucionais que ao Estado são devidos?
E sobre o emprego, a produção, a legislação laboral, ou a injustiça dos salários e rendimentos milionários dalguns? Passos Coelho responde, ou com o silêncio cúmplice sobre a política do Governo, ou com o voto conjunto com o PS, como aconteceu a semana passada, quando, na Assembleia da República, ambos se opuseram aos cortes nas sumptuosas remunerações dos gestores públicos, propostos pelos outros partidos.
Fica então a pergunta: Para quem trabalha e produz; para a geração “à rasca”; para os revoltados ou as vítimas das actuais políticas (ditas sistémicas), serão estas as reformas de fundo ou a rotura de que o país efectivamente carece?
Desde logo se enredou, no entanto, numa 1ª contradição: Perante uma tão grande necessidade de adoptar “reformas” de fundo, ou até mesmo “romper” com a situação actual, para assegurar a sustentabilidade (a sobrevivência?) de Portugal, o que fez Passos Coelho perante a próxima oportunidade de substituir o actual governo, isto é, perante a apresentação de uma moção de censura, cuja aprovação na Assembleia da República só o seu partido poderia vir a garantir? Garantiu qualquer coisa de facto. Adiando a urgência das reformas que proclamara, garantiu a Sócrates e ao PS a sua continuidade no poder! Na possibilidade de agir para evitar o pior, nenhum médico diria a um doente em agonia, que de momento não lhe convinha salvá-lo. E se o fizesse, estaria a dizer uma de duas mentiras, ou que o doente agonizava sem estar agonizante ou que o salvava, quando já não tinha salvação…
E (espremidinho, porque o segredo é a alma perversa deste negócio) vejamos que reformas são afinal mais importantes para Passos Coelho:
A necessidade do Estado definir o que é o serviço público, diz ele. Para quê? Não certamente para lhe devolver a importância que o PS tem vindo a retirar…
A necessidade do Estado reduzir o financiamento das empresas públicas e transferi-lo para as privadas, diz ele. O PS tem feito o quê? Nacionalizações? Só se for a do BPN, com a qual, aliás, Passos Coelho concordou de imediato…
Acabar com o controlo do Estado sobre tudo e todos, diz ele. Mas o que tem feito o Governo Sócrates senão desestatizar aceleradamente a economia, entregando-a ao desbarato ao sector privado, e retirar aos mais desfavorecidos a protecção ou o incentivo constitucionais que ao Estado são devidos?
E sobre o emprego, a produção, a legislação laboral, ou a injustiça dos salários e rendimentos milionários dalguns? Passos Coelho responde, ou com o silêncio cúmplice sobre a política do Governo, ou com o voto conjunto com o PS, como aconteceu a semana passada, quando, na Assembleia da República, ambos se opuseram aos cortes nas sumptuosas remunerações dos gestores públicos, propostos pelos outros partidos.
Fica então a pergunta: Para quem trabalha e produz; para a geração “à rasca”; para os revoltados ou as vítimas das actuais políticas (ditas sistémicas), serão estas as reformas de fundo ou a rotura de que o país efectivamente carece?
Mário Abrantes