A caracterização distintiva da espécie humana, por oposição às restantes espécies animais, inclui, como se sabe, os seus elevados níveis de racionalidade. A evolução da condição desta espécie, ao contrário das outras, tem-se feito fundamentalmente na base dessa caracterização distintiva. Torna-se espectável portanto, como aliás a história o tem demonstrado com frequência, que a interdependência social desta espécie (a sociedade) se sustente em sistemas de poder e lideranças que busquem precisamente na racionalidade uma forma privilegiada de funcionamento.
Sou forçado a concluir, no entanto, que atravessamos um momento histórico adverso à preservação e desenvolvimento da espécie considerada…
Sou forçado a concluir, no entanto, que atravessamos um momento histórico adverso à preservação e desenvolvimento da espécie considerada…
Mesmo ao nosso lado é a fome que, depois de praticamente banida da vizinhança, regressa silenciosamente, enquanto toneladas de peixe são descarregadas na lixeira.
No âmbito de uma crise interna e externa profundas, em nove ilhas atingidas por restrições e por dificuldades económicas, projecta-se para uma delas o direito de possuir, gastando para isso 15 milhões de euros, não um, mas dois centros de arte contemporânea.
Um partido da oposição que se rebela no Parlamento regional contra a tentativa do governo da República de penalizar o país, e duplamente as suas regiões autónomas através de cortes orçamentais específicos, com um PEC 4, vê a sua rebelião rejeitada pelo partido que detém o poder regional. Acabando de a rejeitar, no minuto seguinte e no mesmo Parlamento, o partido que detém o poder regional submete à apreciação uma proposta de rebelião semelhante à anterior.
No país em causa, dois partidos decidem sucessivamente (PEC 1, PEC 2 e PEC 3) que, quem tem de pagar as dívidas contraídas pelo descontrolo do sistema financeiro, não são quem por via desse descontrolo se apropriou de mais riqueza, mas sim as famílias de quem a produziu, gerando com isso pobreza e desemprego. O país deixa de produzir, as dívidas aumentam e os mais ricos mais enriquecem. Perante a urgência de concretizar uma outra política fiscal, aumentando a tributação sobre os principais detentores da riqueza e sobre os enormes lucros obtidos pelas grandes empresas e grupos económicos, bem como sobre as elevadas remunerações dos seus gestores; alargando a base tributária, combatendo a economia paralela, a fraude e a evasão fiscal, tributando as mais-valias, reduzindo os benefícios fiscais e eliminando os que são usados pela banca e pelo sector financeiro, criando taxas suplementares sobre os grandes lucros, bens de luxo e patrimónios elevados, criando um novo imposto sobre transacções bolsistas e transferências financeiras para off-shores, qual foi a solução proposta pelo governo da República para suportar a dívida crescente, no interesse nacional? Um PEC 4 sobre as vítimas dos três primeiros, ou seja, sobre o que resta das famílias que produzem, e mais os que entretanto, passaram a desempregados, a incapacitados, a pensionistas, a reformados ou a doentes.
Pelo mundo, a terceira ofensiva bélica da nova cristandade sobre os infiéis. Porquê? Porque existem provas irrefutáveis de massacres na Líbia (tal como de armas de destruição maciça no Iraque). Para quê? Para proteger civis numa cidade - Benghazi, largando bombas e mísseis sobre outra cidade bem distante - Tripoli.
E o petróleo, pá?
No âmbito de uma crise interna e externa profundas, em nove ilhas atingidas por restrições e por dificuldades económicas, projecta-se para uma delas o direito de possuir, gastando para isso 15 milhões de euros, não um, mas dois centros de arte contemporânea.
Um partido da oposição que se rebela no Parlamento regional contra a tentativa do governo da República de penalizar o país, e duplamente as suas regiões autónomas através de cortes orçamentais específicos, com um PEC 4, vê a sua rebelião rejeitada pelo partido que detém o poder regional. Acabando de a rejeitar, no minuto seguinte e no mesmo Parlamento, o partido que detém o poder regional submete à apreciação uma proposta de rebelião semelhante à anterior.
No país em causa, dois partidos decidem sucessivamente (PEC 1, PEC 2 e PEC 3) que, quem tem de pagar as dívidas contraídas pelo descontrolo do sistema financeiro, não são quem por via desse descontrolo se apropriou de mais riqueza, mas sim as famílias de quem a produziu, gerando com isso pobreza e desemprego. O país deixa de produzir, as dívidas aumentam e os mais ricos mais enriquecem. Perante a urgência de concretizar uma outra política fiscal, aumentando a tributação sobre os principais detentores da riqueza e sobre os enormes lucros obtidos pelas grandes empresas e grupos económicos, bem como sobre as elevadas remunerações dos seus gestores; alargando a base tributária, combatendo a economia paralela, a fraude e a evasão fiscal, tributando as mais-valias, reduzindo os benefícios fiscais e eliminando os que são usados pela banca e pelo sector financeiro, criando taxas suplementares sobre os grandes lucros, bens de luxo e patrimónios elevados, criando um novo imposto sobre transacções bolsistas e transferências financeiras para off-shores, qual foi a solução proposta pelo governo da República para suportar a dívida crescente, no interesse nacional? Um PEC 4 sobre as vítimas dos três primeiros, ou seja, sobre o que resta das famílias que produzem, e mais os que entretanto, passaram a desempregados, a incapacitados, a pensionistas, a reformados ou a doentes.
Pelo mundo, a terceira ofensiva bélica da nova cristandade sobre os infiéis. Porquê? Porque existem provas irrefutáveis de massacres na Líbia (tal como de armas de destruição maciça no Iraque). Para quê? Para proteger civis numa cidade - Benghazi, largando bombas e mísseis sobre outra cidade bem distante - Tripoli.
E o petróleo, pá?
Mário Abrantes