Governar por cortes e a decretar impostos, não tem qualquer engenho ou arte política. Não custa nada, a não ser os ordenados e as alcavalas que usufrui quem assim (dispensavelmente) governa. É fácil, é barato e dá milhões…
Cortar em 8 meses nas transferências sociais do Estado, isto é, na educação, saúde e segurança social, mais de mil e novecentos milhões de euros e cortar cerca de 10% nas remunerações da função pública, poderá chamar-se a isto: “eliminar as gorduras do Estado”? Aumentar em 900 milhões os impostos deste ano, à custa do IVA sobre o gás e a electricidade e à custa dos cortes no subsídio de Natal; cobrar outros tantos milhões pela incidência do IVA sobre bens de 1ª necessidade; pelas restrições às isenções de IRS na saúde e educação e pelo aumento do IMI, isto é coragem política para combater o défice? Reduzir pagamentos de feriados e horas extra, cortar nos subsídios de desemprego e indemnizações por despedimento sem justa causa, isto é incentivar a actividade produtiva?
Não, rotundamente não! Haverá outros interesses certamente em causa, mas nunca por nunca estas efectivas e concretas medidas até agora tomadas pelo Governo de Passos Coelho, atracado a Paulo Portas, dignificam quem governa, porque (além de demasiado fáceis de aplicar) criam recessão na economia, criam desemprego continuado e já puseram em risco de pobreza dois milhões de portugueses.
E, depois deste início brilhante de obra política, sustentada no já pesado espólio deixado pelo sócratino governo anterior, os energúmenos atrevem-se a anunciar que “o pior ainda está para vir”, e é já em 2012!
Álvaro Dâmaso, sendo insuspeito e recorrendo a outro economista igualmente insuspeito - Paul Krugman, encarrega-se de interpretar com rigor estes básicos e desatinados programas de austeridade, comparando-os com a prática medieval de curar doenças com sangrias, cujo efeito era debilitar ainda mais o doente, acabando por matá-lo. E vai mais longe no diagnóstico, o antigo responsável do PSD/Açores, quando culpa o endeusamento do mercado, a especulação financeira e as grandes fortunas pela situação crítica que enfrentamos. Precisamente aqueles que, quando muito só de raspão (para disfarçar), os irresponsáveis e fanáticos que nos governam atingem com as suas políticas.
E esta simplicidade bacoca da governação portuguesa actual também se repercute obviamente nas Autonomias. Pela boca do líder do PSD/Porto ficamos a saber que, em nome da “coesão territorial e social”, as regiões autónomas deveriam estar sujeitas aos “mesmos sacrifícios” que o resto do país e a pagar exactamente os mesmos impostos e…portagens!
Segundo este senhor, 9 ilhas dispersas e longínquas, por um lado, e o continente, pelo outro, constituem uma realidade territorial coesa. Salários em média 10% mais baixos e custo de vida médio mais elevado, são igualdades. Passagens aéreas obrigatórias e auto-estradas alternativas, não se distinguem entre si. Importações e exportações especificamente encarecidas pelos custos do transporte, são diferenças tendenciosas e desprezíveis.
E, para desanuviar responsabilidades incómodas naturalmente para o PSD e o CDS nos Açores, poder-se-ia pensar no líder do PSD/Porto como um “outsider”. Mas não, as diatribes de Miguel Relvas, sobre a RTP Açores, permitem-nos concluir da total irresponsabilidade e facciosismo “yuppie” que domina toda esta governação PSD/CDS.
Mandar assim é fácil, difícil se vai tornando, cada vez mais, aceitar e obedecer…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado a 29 de Setembro de 2011