Mudar…

Mário AbrantesAdmito a subjetividade interpretativa, mas, no comício de 3 dias que encheu (até fartar) os jornais, a rádio e a televisão do passado fim-de-semana, pareceu-me no essencial ouvir da boca do PSD dos Açores e da sua atual responsável principal qualquer coisa deste género:
“Passos! Admiramos e homenageamos aqui o trabalho patriótico a que deitaste mãos no governo da República (e que conduziu Portugal à terceira maior recessão mundial, depois do Sudão e da Grécia, digo eu). Sejas tu a nossa troika, para eu poder governar os Açores com algumas boas intenções de boca, mas para que todos os açorianos compreendam que terei de aplicar sem falhar o teu programa de austeridade regional…”

 

E o que me pareceu a resposta do elogiado:
“Berta! Vê lá se ganhas isto. Só falta mudar os Açores para que o PSD possa finalmente estender a todo o território português e ilhas adjacentes a interrupção da Democracia de que falou há tempos a minha inspiradora - Ferreira Leite. Em troca, não sei bem como se poderá resolver o assunto, mas prometo-te que vou pensar no exagerado custo das passagens aéreas…”
De tanta vontade de mudar, repisada em palavras e em escrita publicitária, não consegui no entanto ouvir nada da boca de quem se acha a primeira protagonista dessa mudança, sobre a devolução dos subsídios de férias e de Natal de 2012 aos expropriados pelo governo regional! E fiquei até com a suspeita de que a intenção da futura governante, caso fosse eleita, seria ir ainda mais longe e repetir aquela expropriação nos Açores, pela sua própria mão, por tantos anos quantos aqueles em que, caso continue a governar, a mão de Passos Coelho (que antes achava isso “um disparate”) o decidir fazer aos trabalhadores e pensionistas da administração central e autárquica…
Passos Coelho veio também aos Açores reafirmar a necessidade de libertar o Estado dos pedintes e parasitas que (mesmo descontando para isso toda a sua vida, digo eu) não fazem outra coisa senão viver à sombra dele, para ter saúde, educação, justiça, segurança e direitos sociais. É preciso, dizia, “libertar a sociedade civil da tutela do Estado, privilegiando e premiando os mais capazes e os mais ambiciosos!”.
Logo o PSD dos Açores, com Costa Neves na frente, conclamou em euforia a “descoberta” de que é preciso fazer dos Açores “uma Região Económica” e, ao mesmo tempo “dar uma oportunidade a todas as ilhas”…
E lá me assaltou mais um juízo subjetivo. Isto vai ser então como o Titanic: Da 1ª classe salvam-se 60% dos passageiros e da 3ª classe salvam-se 25%. Ou seja, no futuro dos Açores, em nome da “Região Económica”, todas as ilhas têm direito à corrida, só que umas, porque são mais capazes e ambiciosas, são apoiadas e financiadas, e as outras…que se afundem!
E termino com o: “É preciso cortar nos políticos a tempo inteiro!” (líder do PSD dos Açores à parte, claro). Em nome da ética política e das finanças públicas, eu já não pedia mais senão que 3 dias de semana de pré-campanha eleitoral regional na Graciosa, mais dois no Corvo ou nas Flores e por aí fora, fossem descontáveis no ordenado de um candidato que, em simultâneo, permanece em funções como presidente de uma câmara em S. Miguel…
“Ah! Mas sempre foi assim”. E o que está mal não se muda, pergunto eu? E pergunto mais: de que mudanças para os Açores estiveram afinal os filiados e amigos do PSD a falar no seu comício do Coliseu, ou melhor, no seu “congresso virado para o exterior”?

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 22 de abril de 2012