Fazer Abril em 1974 foi necessário para salvar Portugal de uma ditadura opressiva, violenta e obscurantista que enaltecia a pobreza, enquanto protegia as famílias opulentas e os monopólios (ou oligopólios) económicos a elas ligados, atentava contra a dignidade humana, perseguia, prendia, torturava e assassinava os oposicionistas, proibia os partidos políticos e o voto das mulheres ou dos analfabetos na farsa suas eleições, oprimia os povos das colónias e mantinha uma guerra sem saída contra eles, desde 1961, a qual estava a destruir física e espiritualmente toda a geração jovem de então, contabilizando-se entre os militares portugueses, até ao golpe revolucionário do 25 de Abril, 8.300 mortos e 14.000 deficientes físicos...
Fazer Abril em 1974 foi necessário para salvar Portugal e proporcionar o desenvolvimento, promovendo a emancipação do seu Povo através da instauração da Democracia no conjunto das suas componentes intrínsecas (política, económica, social e cultural). As liberdades, os partidos políticos, os sindicatos, os direitos das mulheres e das minorias, a participação e a co-gestão empresarial, o fim dos latifúndios, a produção e o emprego, mas também a saúde e a educação universais, a habitação, o salário mínimo e as reformas.
Muito embora isso até já aconteça nalguns casos, sem dúvida que, de forma geral, não regressámos, em 2012, ao 24 de Abril de 1974. Mas, agora sob a bandeira da democracia formal e da “bandeira à lapela” do poder político vigente estamos, como dizem os militares de Abril: “a regressar à condição de protetorado, sem capacidade autónoma de decisão, protegendo os privilégios, desvalorizando o trabalho e aumentando a pobreza e a exclusão social. A Constituição Portuguesa está a ser rompida e a dignidade dos portugueses a ser vilipendiada”. Pouco escapa à fúria revanchista, ao ajuste de contas dos novos herdeiros de um Portugal sem Abril.
E, sem Abril, na época atual, Portugal nem é livre, nem é democrático… nem é português.
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 27 de Abril de 2012