Em França o candidato do PS, Hollande, ganhou porque assumiu no seu discurso político- eleitoral a recusa da obsessiva austeridade a que se reduz a política europeia definida por Merkel e Sarkozy e defendeu a necessidade de haver politicas claras de crescimento.
Na Grécia, o PAZOK, que foi o principal executor da política de destruição levada a cabo nos últimos anos sob a direcção da troika, pagou por isso de forma muito clara.
Estas duas situações diferentes, ocorridas no mesmo dia nesta “Europa da União”, muito dizem sobre o papel que a “família política” agrupada no chamado partido socialista europeu, tem tido na política europeia. Esse papel, assente na crescente aceitação, de facto, das teses neoliberais pelos socialistas, criou a base essencial para que fossem desenvolvidas de forma sistemática políticas de concentração de capital, associadas à destruição de direitos.
No plano europeu pode dizer-se que, desde há muitos anos, há um bloco político dominante, que faz a política do chamado partido popular europeu e que tem contado, no essencial, com a colaboração dos dirigentes socialistas no poder, como se viu em Portugal, Espanha e Grécia com toda a clareza.
A penalização do PAZOK, na Grécia, representa a rejeição das políticas realizadas e a não-aceitação da tese de “que não há alternativa” à austeridade, à recessão, ao empobrecimento de quem trabalha, à redução absurda de direitos.
A vitória de Hollande resulta directamente da condenação por ele feita da institucionalização da austeridade, defendida e praticada por Merkel e Sarkozy e aceite, até agora, por todos os dirigentes europeus, incluindo os socialistas. Hollande ganha porque enuncia uma política diferente e melhor daquela que a Europa, com a participação activa dos socialistas, tem feito. Este facto determina que, necessariamente, tenha que haver uma atenta reserva sobre os caminhos concretos que os socialistas franceses, agora no poder, vão percorrer. O que mais tem havido nos últimos anos na Europa, Portugal incluído, é haver um discurso eleitoral promissor, como fez Passos Coelho, seguido, depois, da negação brutal e total das promessas eleitorais. Não obstante isso e atendendo ao facto deste neoliberalismo em vigor estar a empurrar a Europa, cada vez mais, para uma situação económica de dependência da economia alemã e para uma situação social em que aumenta o empobrecimento das populações e cresce o enriquecimento de elites muito restritas, é de admitir que a crescente rejeição dessa situação pelos cidadãos obrigue, de facto, à procura de outros caminhos. Temos que estar atentos e ver se o novo Presidente francês e o seu governo irão contribuir para modificações positivas, como prometeram, ou se irão repetir a trapaça de dar o dito por não dito, habitual no passado recente.
Na Grécia, os dois partidos do poder europeu, Nova Democracia e PAZOK, caíram de uma forma tal que, ambos, tiveram menos de metade dos votos que habitualmente contavam. Isto significa, com clareza, a rejeição desse pacto de agressão que fez regredir e agravou todos os problemas desse país europeu.
Ambos estes actos eleitorais, na França, considerando as duas voltas e na Grécia, mostram uma tendência de crescimento de forças de extrema-direita, mas mostram também uma muito clara tendência de afirmação e crescimento de forças de esquerda que rejeitam a política de destruição e domínio decretada pelo grande capital internacional e executada pelo eixo centrado em Merkel, até agora secundada por Sarkozy e pelas subservientes instituições europeias.
O combate à ascensão das teses xenófobas e racistas da extrema-direita tradicional tem que ser feito, mas implica que se combata e derrote esta governação ultra neo liberal, extrema nos seus efeitos trituradores dos direitos, do bem-estar e do desenvolvimento social e cultural dos povos. Esta política “liberal”extremista, pela injustiça que gera, abre caminho a expressões extremistas favoráveis aos conceitos distorcidos que a extrema-direita histórica já implementou para desgraça da Humanidade.
As actuais dificuldades em formar governo na Grécia, derivadas, quer do facto de a representatividade estar mais repartida, quer do facto da questão de aceitar ou não as imposições externas dividir o parlamento mais ou menos a meio, não deve desencorajar o claro reforço eleitoral, na Grécia e noutros países, das forças progressistas que rejeitam a austeridade como regra e que defendem os avanços civilizacionais plasmados nas Constituições, como é o caso de Portugal.
A vida está a demonstrar que a defesa da democracia é essencial e que, em contexto democrático, a tendência eleitoral que já se esboça é a da derrota dos que, mentindo nas campanhas eleitorais, acedem ao poder para impor este novo extremismo direitista que tem governado, de fora para dentro, os países europeus com mais debilidades económicas e que foram pasto fácil de toda a especulação financeira que se possa imaginar.
Há no entanto uma questão essencial de grande actualidade que tem que ser posta e reflectida. Se é verdade, e é, que os actos eleitorais são essenciais e determinantes nesta Europa que não pode perder a democracia representativa como pedra angular da sua organização política e social, também é verdade que para se chegar a actos eleitorais que definam rupturas completas com as políticas que agora governam, tem que haver uma geral e ampla movimentação social que transforme o descontentamento muito vasto que existe em força política de transformação capaz de se expressar eleitoralmente. Essa movimentação social é também essencial para neutralizar a larga e escandalosa manipulação da opinião, na qual quase todos os grandes meios de comunicação social participam.
O objectivo da luta é este: criar condições sociais sólidas para que possa haver uma ruptura com a brutalidade que se está a fazer e a partir dai consolidar solidamente a democracia valorizando, simultaneamente, as vertentes política, social, económica, cultural e ambiental, que ela deve ter.
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado a 14 de Maio de 2012
Na Grécia, o PAZOK, que foi o principal executor da política de destruição levada a cabo nos últimos anos sob a direcção da troika, pagou por isso de forma muito clara.
Estas duas situações diferentes, ocorridas no mesmo dia nesta “Europa da União”, muito dizem sobre o papel que a “família política” agrupada no chamado partido socialista europeu, tem tido na política europeia. Esse papel, assente na crescente aceitação, de facto, das teses neoliberais pelos socialistas, criou a base essencial para que fossem desenvolvidas de forma sistemática políticas de concentração de capital, associadas à destruição de direitos.
No plano europeu pode dizer-se que, desde há muitos anos, há um bloco político dominante, que faz a política do chamado partido popular europeu e que tem contado, no essencial, com a colaboração dos dirigentes socialistas no poder, como se viu em Portugal, Espanha e Grécia com toda a clareza.
A penalização do PAZOK, na Grécia, representa a rejeição das políticas realizadas e a não-aceitação da tese de “que não há alternativa” à austeridade, à recessão, ao empobrecimento de quem trabalha, à redução absurda de direitos.
A vitória de Hollande resulta directamente da condenação por ele feita da institucionalização da austeridade, defendida e praticada por Merkel e Sarkozy e aceite, até agora, por todos os dirigentes europeus, incluindo os socialistas. Hollande ganha porque enuncia uma política diferente e melhor daquela que a Europa, com a participação activa dos socialistas, tem feito. Este facto determina que, necessariamente, tenha que haver uma atenta reserva sobre os caminhos concretos que os socialistas franceses, agora no poder, vão percorrer. O que mais tem havido nos últimos anos na Europa, Portugal incluído, é haver um discurso eleitoral promissor, como fez Passos Coelho, seguido, depois, da negação brutal e total das promessas eleitorais. Não obstante isso e atendendo ao facto deste neoliberalismo em vigor estar a empurrar a Europa, cada vez mais, para uma situação económica de dependência da economia alemã e para uma situação social em que aumenta o empobrecimento das populações e cresce o enriquecimento de elites muito restritas, é de admitir que a crescente rejeição dessa situação pelos cidadãos obrigue, de facto, à procura de outros caminhos. Temos que estar atentos e ver se o novo Presidente francês e o seu governo irão contribuir para modificações positivas, como prometeram, ou se irão repetir a trapaça de dar o dito por não dito, habitual no passado recente.
Na Grécia, os dois partidos do poder europeu, Nova Democracia e PAZOK, caíram de uma forma tal que, ambos, tiveram menos de metade dos votos que habitualmente contavam. Isto significa, com clareza, a rejeição desse pacto de agressão que fez regredir e agravou todos os problemas desse país europeu.
Ambos estes actos eleitorais, na França, considerando as duas voltas e na Grécia, mostram uma tendência de crescimento de forças de extrema-direita, mas mostram também uma muito clara tendência de afirmação e crescimento de forças de esquerda que rejeitam a política de destruição e domínio decretada pelo grande capital internacional e executada pelo eixo centrado em Merkel, até agora secundada por Sarkozy e pelas subservientes instituições europeias.
O combate à ascensão das teses xenófobas e racistas da extrema-direita tradicional tem que ser feito, mas implica que se combata e derrote esta governação ultra neo liberal, extrema nos seus efeitos trituradores dos direitos, do bem-estar e do desenvolvimento social e cultural dos povos. Esta política “liberal”extremista, pela injustiça que gera, abre caminho a expressões extremistas favoráveis aos conceitos distorcidos que a extrema-direita histórica já implementou para desgraça da Humanidade.
As actuais dificuldades em formar governo na Grécia, derivadas, quer do facto de a representatividade estar mais repartida, quer do facto da questão de aceitar ou não as imposições externas dividir o parlamento mais ou menos a meio, não deve desencorajar o claro reforço eleitoral, na Grécia e noutros países, das forças progressistas que rejeitam a austeridade como regra e que defendem os avanços civilizacionais plasmados nas Constituições, como é o caso de Portugal.
A vida está a demonstrar que a defesa da democracia é essencial e que, em contexto democrático, a tendência eleitoral que já se esboça é a da derrota dos que, mentindo nas campanhas eleitorais, acedem ao poder para impor este novo extremismo direitista que tem governado, de fora para dentro, os países europeus com mais debilidades económicas e que foram pasto fácil de toda a especulação financeira que se possa imaginar.
Há no entanto uma questão essencial de grande actualidade que tem que ser posta e reflectida. Se é verdade, e é, que os actos eleitorais são essenciais e determinantes nesta Europa que não pode perder a democracia representativa como pedra angular da sua organização política e social, também é verdade que para se chegar a actos eleitorais que definam rupturas completas com as políticas que agora governam, tem que haver uma geral e ampla movimentação social que transforme o descontentamento muito vasto que existe em força política de transformação capaz de se expressar eleitoralmente. Essa movimentação social é também essencial para neutralizar a larga e escandalosa manipulação da opinião, na qual quase todos os grandes meios de comunicação social participam.
O objectivo da luta é este: criar condições sociais sólidas para que possa haver uma ruptura com a brutalidade que se está a fazer e a partir dai consolidar solidamente a democracia valorizando, simultaneamente, as vertentes política, social, económica, cultural e ambiental, que ela deve ter.
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado a 14 de Maio de 2012