Revoltante…

mario_abrantesEx-Banco Micaelense, ex-Banco Comercial dos Açores, banco público regional pós-25 de Abril, amigo das empresas produtivas açorianas e do desenvolvimento regional no período de implantação e consolidação da Autonomia. Um sustentáculo económico que se mostrou eficaz durante vários anos para o exercício de políticas favoráveis ao crescimento e ao emprego no arquipélago.
Às ordens de Guterres (PS), na República, e de Mota Amaral (PSD), nos Açores, com o decreto-lei 91/95, de 9 de Maio de 1995, o BCA começou no entanto a ser privatizado a retalho, e em Fevereiro de 2003, foi totalmente alienado (através da venda dos 15% restantes de capital público regional), com o PS a governar os Açores.
A partir daí, com a sua apropriação pelo BANIF, aquele que foi um poderoso instrumento financeiro de intervenção no desenvolvimento económico específico dos Açores, esqueceu a terra onde nasceu e que antes serviu, e, sempre acompanhado de rescisões ditas de mútuo acordo, foi dispensando pessoal, foi deixando de investir no setor produtivo, e os seus centros de decisão foram sendo deslocalizados para o Continente, deixando a economia regional órfã e debilitada.
Privatizado, fugiu para o mercado global e para a especulação financeira, onde já se encontravam os seus congéneres a arquitetar a crise que nos vem sufocando desde 2008, e regressa agora, em nome da mesma crise que ajudou a criar, para um “despedimento” massivo de mais meia centena de trabalhadores açorianos, alguns deles com muitos anos de casa.
Valorizo sem dúvida todos os esforços que, neste caso, partidos e governo regional afirmaram estar a tentar fazer no sentido de travar esta situação e evitar os despedimentos (apesar de, quando das anteriores rescisões e talvez por não haver eleições à porta, alguns não se terem manifestado tão preocupados como agora), mas é bom não esquecer que dois dos partidos que se disseram empenhados nesses esforços, o PSD e o PS, foram precisamente os ordenantes e executores da privatização do BCA, responsáveis portanto por se ter chegado à atual violência sobre os trabalhadores sem que agora, enquanto poder político, disponham de armas eficazes para objetivamente a impedir…
Os mesmos partidos, que fizeram recentemente aprovar, pelo seu voto favorável na Assembleia da República, enquanto apoiantes do governo, no caso do PSD e CDS, ou pela abstenção, no caso do PS, a iníqua legislação laboral de facilitação dos despedimentos que permite ao BANIF fazer aquilo que está a fazer.
Os mesmos partidos que, apesar de declarado inconstitucional e apesar de terem poderes para o fazer na Região, não manifestam qualquer vontade de devolver os subsídios de férias e de Natal ilegitimamente expropriados em 2012 aos trabalhadores e pensionistas da administração regional.
Quem primeiro semeia o desemprego e os cortes salariais, para depois, repentinamente, se apiedar dos trabalhadores que deles são vítimas, não merece nem a confiança política destes nem tão pouco o seu voto.
Parece-me elementar…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 12 de julho de 2012