A crise

jos_decq_mota_webO anúncio das brutais medidas de austeridade que o governo PSD/CDS-PP quer impor, abriu uma larguíssima onda de contestação social, demonstrada pelas grandes manifestações de sábado passado e por milhares de acções quotidianas de luta e abriu também uma crise política que poderá ter reflexos institucionais.
A comunicação ao País do 1ºMinistro e a conferência de imprensa do Ministro das Finanças funcionaram, em muitos sentidos, como a gasolina que se deita sobre palha seca. Um Povo já sobrecarregado por toda a sorte de medidas de austeridade não pode, nem quer, aceitar estas novas e brutais imposições, que se traduzem em novas e enormes reduções salariais. Os defensores de outras políticas, democráticas e de expansão da economia, lançam as suas propostas e propõem o rompimento com as políticas neoliberais que hoje dominam. Mesmo alguns que defendem a intervenção estrangeira, através da troika, vêm a terreiro dizer que a proposta do governo de aumento de 7% da TSU para quem trabalha, a par da redução da mesma TSU para as empresas em mais de 5%, não é aceitável.
Penso que o governo não percebe o País e se convenceu, estupidamente, que pode continuar a gerar o empobrecimento geral e o desemprego, sem grande reacção dos cidadãos. Penso mesmo que o governo pensa que pode promover escandalosas e directas transferências do trabalho para o capital, sem que tal iniquidade gere revolta. Acontece, porém, que o governo se enganou e está, agora confrontado com um poderoso movimento popular de rejeição desta política e está também cada vez mais enredado nas próprias contradições e lutas ideológicas intestinas na sua área de apoio.
Mais importantes do que essas contradições e manobras intestinas é o aprofundamento da luta e da mobilização popular e, nesse sentido, ganha enorme destaque a grande manifestação nacional promovida pela CGTP no próximo dia 29/9.


Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado em 17 de setembro de 2012