Da forma e do conteúdo

Da forma e do conteúdo
Demonstrando existir um compromisso firme entre as políticas defendidas pelo Governo da República e as políticas defendidas pelo PSD nos Açores, Marques Mendes, que já por várias vezes, metendo o bedelho onde não era chamado, insultou publicamente a autonomia regional, veio participar na campanha eleitoral do seu partido para as regionais de Outubro.
Veio dizer que o culpado da austeridade imposta pelo seu governo era o governo anterior, por ter conduzido o país à bancarrota, ao mesmo tempo que as estatísticas mostravam que a dívida pública, pela mão do governo do seu partido, coligado com o CDS (e apesar da austeridade imposta aos portugueses supostamente ter por objetivo diminuí-la), continuava no mesmo caminho do governo anterior, isto é, a subir, chegando já aos 116% do PIB…
Veio dizer que o Primeiro-Ministro Passos Coelho é que é bom porque não está surdo, nem cego nem mudo aos protestos das pessoas, enquanto Passos Coelho dizia em simultâneo só aceitar o recuo do seu governo em relação ao esbulho dos rendimentos do trabalho através da TSU, não por causa dos protestos populares (a ralé) mas porque “os empresários não estavam de acordo”…
Ora, este outro discurso, por mais que a cambalhota da TSU se devesse efetivamente ao magnífico protesto popular de dia 15 de Setembro, teve por justificação óbvia a ideia persistente de Passos Coelho e da troika, ao contrário do que Marques Mendes insinuou aos gritos no seu comício dos Açores, de obter exatamente o mesmo resultado modificando apenas a forma de lá chegar. Se não é pela TSU, será pelo aumento dos impostos (lá está o CDS outra vez encalacrado), através da redefinição dos escalões do IRS, que o mesmo esbulho aos rendimentos do trabalho se fará! Quanto ao resto (os rendimentos do capital) nada garantiu, apenas lhe saiu da boca um talvez a um impostozinho sobre o património ou coisa do género…
E, estamos certos, dada a natureza do atual poder político em Portugal, que nunca irá além disso.
Imposto sobre as transações de valores mobiliários?
Novo escalão do IRC para as grandes empresas?
Sobretaxa de 10% sobre os dividendos distribuídos?
Combate efetivo à evasão fiscal?
Qual quê! Apenas propostas para ignorar, colocadas em cima da mesa da concertação social pela CGTP-in.
Quem não vai certamente ignorar estas propostas será a “ralé” (no caso do ministro Miguel Macedo, seriam as “cigarras”) que sairá novamente à rua neste sábado.
O caminho certo para novas políticas de efetiva recuperação económica, de reposição da justiça social e de repartição equitativa dos sacrifícios, não passa por manobras e mudanças apenas formais (cada vez mais desconchavadas, diga-se) de políticas e de medidas de austeridade. Não passa pelo atual Governo da República e pelos dois partidos que o suportam, nem pelo compromisso assinado por três com a troika.
Essa ilusão, os portugueses descontentes que em cada vez maior número saem juntos à rua para protestar, estão a perdê-la…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 30 de setembro de 2012

mario_abrantesDemonstrando existir um compromisso firme entre as políticas defendidas pelo Governo da República e as políticas defendidas pelo PSD nos Açores, Marques Mendes, que já por várias vezes, metendo o bedelho onde não era chamado, insultou publicamente a autonomia regional, veio participar na campanha eleitoral do seu partido para as regionais de Outubro.

Veio dizer que o culpado da austeridade imposta pelo seu governo era o governo anterior, por ter conduzido o país à bancarrota, ao mesmo tempo que as estatísticas mostravam que a dívida pública, pela mão do governo do seu partido, coligado com o CDS (e apesar da austeridade imposta aos portugueses supostamente ter por objetivo diminuí-la), continuava no mesmo caminho do governo anterior, isto é, a subir, chegando já aos 116% do PIB…

Veio dizer que o Primeiro-Ministro Passos Coelho é que é bom porque não está surdo, nem cego nem mudo aos protestos das pessoas, enquanto Passos Coelho dizia em simultâneo só aceitar o recuo do seu governo em relação ao esbulho dos rendimentos do trabalho através da TSU, não por causa dos protestos populares (a ralé) mas porque “os empresários não estavam de acordo”…

Ora, este outro discurso, por mais que a cambalhota da TSU se devesse efetivamente ao magnífico protesto popular de dia 15 de Setembro, teve por justificação óbvia a ideia persistente de Passos Coelho e da troika, ao contrário do que Marques Mendes insinuou aos gritos no seu comício dos Açores, de obter exatamente o mesmo resultado modificando apenas a forma de lá chegar. Se não é pela TSU, será pelo aumento dos impostos (lá está o CDS outra vez encalacrado), através da redefinição dos escalões do IRS, que o mesmo esbulho aos rendimentos do trabalho se fará! Quanto ao resto (os rendimentos do capital) nada garantiu, apenas lhe saiu da boca um talvez a um impostozinho sobre o património ou coisa do género…

E, estamos certos, dada a natureza do atual poder político em Portugal, que nunca irá além disso.

Imposto sobre as transações de valores mobiliários?

Novo escalão do IRC para as grandes empresas?

Sobretaxa de 10% sobre os dividendos distribuídos?

Combate efetivo à evasão fiscal?

Qual quê! Apenas propostas para ignorar, colocadas em cima da mesa da concertação social pela CGTP-in.

Quem não vai certamente ignorar estas propostas será a “ralé” (no caso do ministro Miguel Macedo, seriam as “cigarras”) que sairá novamente à rua neste sábado.

O caminho certo para novas políticas de efetiva recuperação económica, de reposição da justiça social e de repartição equitativa dos sacrifícios, não passa por manobras e mudanças apenas formais (cada vez mais desconchavadas, diga-se) de políticas e de medidas de austeridade. Não passa pelo atual Governo da República e pelos dois partidos que o suportam, nem pelo compromisso assinado por três com a troika.

Essa ilusão, os portugueses descontentes que em cada vez maior número saem juntos à rua para protestar, estão a perdê-la…

 

 


Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 30 de setembro de 2012