Lucidez e determinação

Lucidez e determinação
Hoje, sensivelmente 15 dias depois do último artigo que aqui publiquei, o ambiente político e a situação política objectiva do País têm significativas alterações.
A grande maioria da sociedade opôs-se ao corte geral de 7% de salários, associado ao desagravamento da TSU para as empresas e muitas centenas de milhares de pessoas vieram para as ruas em grandes manifestações. Multiplicaram-se, por todos os dias e por todo o País, as acções de protesto e de reivindicação.
As divisões penetraram no PSD, maior partido do governo, notando-se que muitas das mais destacadas figuras ditas “liberais” se vieram opor às decisões brutais dos neoliberais que hoje dominam esse partido. A coligação PSD – CDS/PP, no governo, mostrou as suas fragilidades, contradições e ausência de coesão, de forma muito clara. O Conselho de Estado fez uma muito longa reunião, da qual se soube que o governo informou que iria recuar nas medidas referentes à TSU.
Durante esses dias saiu uma sondagem que mostra o PSD a cair a pique, o PS a cair dois pontos, os partidos que defendem o corte com o memorando de entendimento e a troika a subirem de forma clara e o numero de votos brancos e nulos também a subir muito.
O Povo português mostrou, sem margem para equívocos, que já não quer, nem suporta, mais austeridade e que entende ser necessário outro caminho.
Nestes últimos 15 dias, perante o desastre das novas medidas anunciadas, associado à total ausência de efeito das já aplicadas antes, aquilo que é marcante e duradouro é a lucidez das posições populares de rejeição da austeridade sempre e só dirigida para quem vive de rendimentos do trabalho, por conta de outrem, ou por conta própria, de pensões e reformas ou de actividades empresariais de muito pequena, pequena ou média dimensão.
Esta lucidez do Povo português, manifestada, proclamada e assumida por um número crescente de cidadãos, constitui a principal mudança objectiva na situação social e política do País, mas por si só, não imprime qualquer mudança de fundo na orientação política do governo. Já todos vemos, ouvimos e lemos vários pré-anúncios de medidas “alternativas” à TSU e dessa informação podemos retirar que o governo mantém, claramente, a intenção de descer, em geral, os salários na casa dos 7% e agravar vários impostos.
Entretanto nestes 15 dias ganharam força, projeção, dimensão e impacto diversas propostas políticas e sociais, que apontam para a renegociação da divida externa, no que toca a prazos, valores e juros, para a tributação do capital e das grandes operações financeiras, para o combate à fraude fiscal, para a urgente adopção de medidas que visem a expansão da economia e o aproveitamento dos recursos humanos.
Temos que ter a consciência muito clara que não é apenas a nossa vida quotidiana do presente e do próximo futuro que está em causa. Esta ofensiva visa tornar irreversíveis a destruição de muitas conquistas civilizacionais do século XX, visa transformar este País num território totalmente dependente e, como tal, incapaz de assumir as opções que o seu Povo, livremente, decida, visa reconstruir uma sociedade onde predomine a mão-de-obra barata e onde se acentue, ainda mais, a injustiça social.
A lucidez da recusa de mais medidas de austeridade para quem trabalha, tem que ser acompanhada de uma muito firme determinação em manter essa recusa, em exigir outros caminhos, em recusar o apagamento forçado do País, em negar que o nosso futuro esteja associado à injustiça social, à negação da democracia e à ausência de uma perspectiva progressista de solidariedade social.
Temos todos que ter presente que a unidade do Povo é capaz de remover todos os obstáculos que se levantam à construção de uma alternativa justa. Já houve países que renegociaram, negando imposições brutais, as respectivas dividas externas e estão hoje a seguir caminhos, que sendo difíceis, são de clara recuperação da independência, da economia e do dinamismo social.
A lucidez demonstrada, associada a uma determinação esclarecida, irão transformar a grande Manifestação Nacional de 29 de Setembro em mais um passo na direcção da mudança e da derrota deste governo de malfeitores.
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado em 30 de setembro de 2012

jos_decq_mota_webHoje, sensivelmente 15 dias depois do último artigo que aqui publiquei, o ambiente político e a situação política objectiva do País têm significativas alterações.

A grande maioria da sociedade opôs-se ao corte geral de 7% de salários, associado ao desagravamento da TSU para as empresas e muitas centenas de milhares de pessoas vieram para as ruas em grandes manifestações. Multiplicaram-se, por todos os dias e por todo o País, as acções de protesto e de reivindicação.

As divisões penetraram no PSD, maior partido do governo, notando-se que muitas das mais destacadas figuras ditas “liberais” se vieram opor às decisões brutais dos neoliberais que hoje dominam esse partido. A coligação PSD – CDS/PP, no governo, mostrou as suas fragilidades, contradições e ausência de coesão, de forma muito clara. O Conselho de Estado fez uma muito longa reunião, da qual se soube que o governo informou que iria recuar nas medidas referentes à TSU.

 

Durante esses dias saiu uma sondagem que mostra o PSD a cair a pique, o PS a cair dois pontos, os partidos que defendem o corte com o memorando de entendimento e a troika a subirem de forma clara e o numero de votos brancos e nulos também a subir muito.
O Povo português mostrou, sem margem para equívocos, que já não quer, nem suporta, mais austeridade e que entende ser necessário outro caminho.

 

Nestes últimos 15 dias, perante o desastre das novas medidas anunciadas, associado à total ausência de efeito das já aplicadas antes, aquilo que é marcante e duradouro é a lucidez das posições populares de rejeição da austeridade sempre e só dirigida para quem vive de rendimentos do trabalho, por conta de outrem, ou por conta própria, de pensões e reformas ou de actividades empresariais de muito pequena, pequena ou média dimensão.

 

Esta lucidez do Povo português, manifestada, proclamada e assumida por um número crescente de cidadãos, constitui a principal mudança objectiva na situação social e política do País, mas por si só, não imprime qualquer mudança de fundo na orientação política do governo. Já todos vemos, ouvimos e lemos vários pré-anúncios de medidas “alternativas” à TSU e dessa informação podemos retirar que o governo mantém, claramente, a intenção de descer, em geral, os salários na casa dos 7% e agravar vários impostos.
Entretanto nestes 15 dias ganharam força, projeção, dimensão e impacto diversas propostas políticas e sociais, que apontam para a renegociação da divida externa, no que toca a prazos, valores e juros, para a tributação do capital e das grandes operações financeiras, para o combate à fraude fiscal, para a urgente adopção de medidas que visem a expansão da economia e o aproveitamento dos recursos humanos.

 

 

Temos que ter a consciência muito clara que não é apenas a nossa vida quotidiana do presente e do próximo futuro que está em causa. Esta ofensiva visa tornar irreversíveis a destruição de muitas conquistas civilizacionais do século XX, visa transformar este País num território totalmente dependente e, como tal, incapaz de assumir as opções que o seu Povo, livremente, decida, visa reconstruir uma sociedade onde predomine a mão-de-obra barata e onde se acentue, ainda mais, a injustiça social.
A lucidez da recusa de mais medidas de austeridade para quem trabalha, tem que ser acompanhada de uma muito firme determinação em manter essa recusa, em exigir outros caminhos, em recusar o apagamento forçado do País, em negar que o nosso futuro esteja associado à injustiça social, à negação da democracia e à ausência de uma perspectiva progressista de solidariedade social.

 

 

Temos todos que ter presente que a unidade do Povo é capaz de remover todos os obstáculos que se levantam à construção de uma alternativa justa. Já houve países que renegociaram, negando imposições brutais, as respectivas dividas externas e estão hoje a seguir caminhos, que sendo difíceis, são de clara recuperação da independência, da economia e do dinamismo social.
A lucidez demonstrada, associada a uma determinação esclarecida, irão transformar a grande Manifestação Nacional de 29 de Setembro em mais um passo na direcção da mudança e da derrota deste governo de malfeitores.

 

 

Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado em 30 de setembro de 2012