Os trabalhadores

mario_abrantesNum estudo científico apresentado em livro, coordenado pela historiadora Raquel Varela, intitulado “Quem paga o Estado Social em Portugal”, usando dados que têm a ver com os impostos que recaem sobre o trabalho e subtraindo a esse valor os gastos sociais do Estado, conclui-se que, na esmagadora maioria dos casos, os trabalhadores nos últimos 20 anos pagaram mais do que receberam do Estado, em diverso tipo de serviços.

Segundo este estudo, conclui-se que não foram os trabalhadores os responsáveis por quaisquer dívidas contraídas pelo Estado ao longo dos últimos 20 anos. Antes pelo contrário até ajudaram a pagar uma boa parte delas, que foram contraídas por gente de rosto difuso, alguma da qual encontrando-se certamente hoje entre aqueles que proclamam aos quatro ventos que andámos todos(?) a viver acima das nossa possibilidades…

A título de exemplos, o estudo refere ainda que mais de metade do que os portugueses pagaram para o serviço nacional de saúde foi transferido para as mãos da gestão privada, e que, enquanto os trabalhadores receberam de rendimento o equivalente a 50% do PIB, pagaram 75% dos impostos que entraram no Estado, durante este período.

Se não foram os trabalhadores que geraram a dívida pública, que hoje aliás serve de pretexto insistente para injustamente os penalizar cada vez mais fortemente nos seus rendimentos, para onde foi então todo o superavit gerado por eles durante 20 anos? Quem são os responsáveis por este monstruoso buraco financeiro criado ao longo do tempo? Onde estão os culpados e os abutres que dele se alimentaram senão ao redor de um poder que tinha capacidade para manusear as finanças do Estado?

“Não fui eu!”, diz Passos Coelho. Senão foi ele, e se o seu interesse fossem Portugal e os portugueses, não seriam de esperar do Governo tantos ou mais esforços para descobrir, condenar e obrigar a pagar aos culpados e a auditar a dívida pública, quantos os que tem despendido, e tenciona redobrar, a cortar na saúde, na educação e na segurança social?

Mas foi ele (PSD). E sabe-o tão bem quanto os seus (igualmente culpados) parceiros do PS e do CDS que têm governado Portugal nas últimas décadas. Desmascara-se o governo de Passos Coelho e Paulo Portas quando esquece a elementar necessidade da reestruturação da dívida e a sua renegociação com os credores, e, ao invés, se lembra de encetar mais uma grande manobra destrutiva, qual golpe de estado, com o objetivo de liquidar a componente social do Estado e de romper a Constituição Portuguesa, a que o 1º Ministro chamou candidamente de “Refundação do Memorando”…

Só assim se compreende que, obrigado a desmascarar-se, após revelar o cruel agudizar da austeridade previsto na proposta de OE para 2013, Passos Coelho, de falhanço em falhanço que já ele próprio adivinha, tenha revelado o “Plano B” para o caso do desastre (mais que previsível, dizemos nós) no seu cumprimento: Mais um subsídio confiscado aos trabalhadores! Veem? Tão simples não é?

Aos trabalhadores e ao povo não resta senão defenderem-se com todas as armas que têm, seja na rua, seja nos locais de trabalho, seja através dos seus representantes nas instituições democráticas…sem vergar, até que os seus confessos e assumidos inimigos sejam afastados de um poder que usurparam com o fito cada vez mais evidente de beneficiar a finança interna e externa e os agiotas da dívida, a troco de um país destroçado e a saldo...

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 2 de novembro de 2012