
Penso que há três condições básicas que são essenciais para que alguém possa exercer bem as funções de Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores (ALRAA):
Ter a noção clara de que a ALRAA é o principal órgão do nosso sistema político específico e que lhe compete legislar e fiscalizar o Governo Regional. Este conceito, quando bem assumido, anula a perversão, muito frequente quando existem maiorias absolutas, que consiste em olhar para o Parlamento como sendo um organismo que existe para fazer o que o Governo manda.
Ter a noção clara de que, independentemente do número e percentagens de deputados de cada partido, a ALRAA é um órgão de composição plural, de propositura plural e de debate plural. Esta realidade, quando bem percebida, anula a perversão que por vezes se desenha e que desagua em atitudes não isentas.
Ter a noção clara de que compete ao Presidente da ALRAA representar o primeiro Órgão da Autonomia e, nesse quadro, representar a Região Autónoma dos Açores. Esta função, quando bem desenvolvida, anula a perversão que muitas vezes se esboça e que consiste na governamentalização da representação política, na desvalorização da natureza parlamentar do sistema autonómico e, consequentemente, na subalternização do Parlamento Regional face ao Governo Regional.
Quando é eleito um novo Presidente da ALRAA inclino-me sempre a procurar avaliar, por aquilo que julgo conhecer, se, sim ou não, essa personalidade tem condições políticas pessoais para respeitar, valorizar, defender e agir dentro dessas três condições atrás enunciadas e que resultam da letra e do espírito da Constituição da Republica Portuguesa e do Estatuto da Região Autónoma dos Açores.
A nova Presidente da ALRAA é uma jovem Deputada, com uma muito pequena experiencia parlamentar e com uma experiencia política recente, desenvolvida no âmbito do sector empresarial público regional e no âmbito do poder local. Serão muitos os que pensam que essa pequena experiencia política anterior seria impeditiva de uma eleição para este cargo. Para mim a questão principal está em saber se a nova Presidente irá exercer o cargo para que foi eleita no rigoroso quadro conceptual atrás resumido. Por aquilo que conheço da pessoa em questão penso que esse conjunto de conceitos constituirá a linha de orientação principal da sua actuação como Presidente da ALRAA. Quanto à falta de experiência penso claramente que tudo se aprende quando se tem capacidade e vontade e esses são atributos que não faltam à nova Presidente da ALRAA.
O discurso do novo Presidente do Governo, na tomada de posse, aborda com rigor e firmeza a questão crucial do relacionamento da Região com a Republica, o que considero positivo e muito importante neste momento.
Entretanto é preciso lembrar que a nova organização do GR concede um enorme poder ao Vice-Presidente, que concentra nas suas mãos as finanças, planeamento, administração pública, emprego e competitividade empresarial, criação de emprego, dinamização da actividade económica, fomento das exportações e da inovação, capital de risco e promoção do investimento privado. Isto é, o Vice-Presidente, que transita do anterior Governo, concentra agora as competências que já tinha, com as competências políticas mais marcantes da antiga Secretaria da Economia.
É preciso também lembrar que o novo GR é totalmente preenchido por quadros oriundos ou residentes nas duas ilhas maiores, que sendo as que, naturalmente, dispõem de mais quadros, não anula o facto de eles existirem também em outras ilhas. Será que na área do PS só existem personalidades com perfil governativo na Terceira e em S. Miguel? Ou será que a área do PS, excluindo do Governo quadros de outras ilhas, quer dizer aos açorianos que o poder executivo regional é mesmo só exercido na Terceira e S. Miguel?
No novo GR estão num mesmo saco todos os sectores produtivos, que saem desvalorizados, pese embora a sua enorme importância económica e social e estão claramente secundarizados a área ambiental e o sector das infraestruturas públicas.
Este Governo novo é uma experiencia que, na minha opinião, parece ter mais pontos fracos do que pontos fortes.
Artigo de opinião de José Decq Mota, publicado em 11 de novembro de 2012