Este Presidente da República que temos, é simultaneamente um agente e a imagem da perversão democrática que se vive no país.
Depois da fuga para a frente de um desavindo e apodrecido governo de destruição nacional, atolado em insanáveis contradições personalistas internas e acossado pelo protesto do povo que o despreza (como, aliás, as sondagens vão confirmando), que afinal apenas não desmente a sua sede infinita de poder e o terror perante qualquer hipótese de eleições antecipadas, quem vai Cavaco e Silva consultar em primeiro lugar, quando finalmente se vê empurrado para intervir perante a instabilidade política criada precisamente pelos mesmos que agora, após a última e mais espalhafatosa contenda, se afirmam dispostos a encolher as garras, a ajeitar o cabelo e a sacudir o pó, para retomar o seu caminho? O presidente do Banco de Portugal.
E o conselho do governador do Banco de Portugal ao PR foi curto e conciso: “Temos que vergar perante as pressões externas!”(sic)
Vergar ou não vergar, eis a questão! Mais do que conselho, tratou-se de uma ordem de aquietação ao poder político, na pessoa da sua figura institucional mais representativa em Portugal, perante qualquer veleidade de tal figura ousar exercer esse poder em oposição ou acima dos interesses financeiros em presença, particularmente não aceitando revalidar um governo que, embora reconhecidamente podre, serve perfeitamente como estrito “cumpridor” das ordens externas.
Vergar ou não vergar, eis a questão que separa profundamente o “superior interesse nacional” (expressão que não para de saltar da boca tanto ao Presidente da República como ao instável Governo de incompetentes e troca-tintas agora recauchutado) do superior interesse do capital financeiro que supervisiona o memorando da troika (tal como supervisionará o seguinte, que está para vir da UE, a que já apelidaram de “programa cautelar”) o qual consubstancia uma política devastadora em termos económicos e sociais para Portugal e a esmagadora maioria dos portugueses, segundo atestou e bem o Prof. Eduardo Paz Ferreira no seu livro apresentado na semana passada em Ponta Delgada.
Vergar ou não vergar, eis a questão!
É que se é para vergar perante um ou mais programas, impostos do exterior e que se revelaram manifestamente hostis ao “superior interesse nacional”, afogando Portugal numa dívida impagável que atingiu durante a sua execução cerca de 150% (250 mil milhões de euros) da riqueza criada pelos portugueses num ano, originando o empobrecimento geral, o desemprego massivo e o desmantelamento dos serviços públicos, então serão perfeitamente dispensáveis as figuras institucionais do Presidente da República ou de governos que, tendo por obrigação zelar por esse superior interesse em primeiro lugar, ao invés, se mostram estritamente cumpridores e/ou cúmplices das políticas que o estão clara e violentamente agredindo.
Por isso a continuidade deste vergonhoso governo “desrepublicado” e “desnacionalizado”, aliada à continuidade das atuais políticas, é a qualquer prazo (curto, médio ou longo) infinitamente menos desejável que a realização de eleições gerais antecipadas, por mais sobressaltos que inicialmente a sua convocação possa provocar nos mercados ou nas agências de rating, as quais, após verificarem que as suas armadilhas e a chantagem das suas ameaças não surtiram o efeito desejado, rapidamente, como já o fizeram em outras ocasiões, tentarão adaptar-se às novas circunstâncias…
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 10 de julho de 2013