A despropósito... Já que vêm aí eleições antecipadas

mario_abrantesEstiveram por aí no mês passado, a coberto de um dito "Fórum do Turismo" promovido pela Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada, uns senhores promotores das companhias aéreas low cost, o diretor da Easy Jet e um senhor Professor Doutor qualquer coisa, apresentado como especialista na área de transportes, a defenderem a privatização da SATA enquanto dá lucro e a dizerem, entre outras tolices gananciosas, que a Região lhes devia conceder a rota Ponta Delgada/Lisboa porque era um modelo de negócio rentável e porque as empresas são melhor geridas pelos privados que pelo Estado. Tudo isto para "ajudar" o desenvolvimento turístico dos Açores...
Ora o chavão deste tipo de gente, de que a gestão privada é sempre melhor que a pública desmente-se facilmente pelos próprios, quando apenas pretendem privatizar o que o Estado ou a Região, gerindo pior ou não, já rentabilizaram e puseram a dar lucro. Grande vantagem, não é? Assim também eu...Para provar a veracidade de um tal chavão, seria antes necessário ver esta gente demonstrar interesse em agarrar empresas que na mão do Estado ou da Região (por má gestão?) gerassem prejuízo, não será assim?
É como o outro: "A descer, todos os santos ajudam". Interessante seria que ajudassem a subir, não acha caro Leitor?
E o senhor Professor Doutor qualquer coisa, disse ainda, com naturalidade, quando entrevistado no telejornal: "Entreguem-nos a rota Ponta Delgada/Lisboa, para nós rentabilizarmos, e pegamos também no resto (voos inter-ilhas incluídos) se a Região financiar os custos dessas operações"...Está-se mesmo a ver qual a essência da vontade destes iluminados!
Por mais mal gerida que seja a SATA, e não faltam razões de queixa, a essência hiper-estratégica da companhia para a Região aconselha vivamente a sua permanência em mãos públicas para cumprir o serviço que presta aos açorianos e aos Açores, não por interesse mas por obrigação, nada disso impedindo que seja discutida e cuidada a sua gestão, bem como a intervenção política no sentido do indispensável abaixamento do custo das passagens.
Como se dizia, por exemplo, em relação ao BCA (e aí está hoje bem visível o erro de palmatória que foi a privatização daquele banco), o mesmo se pode dizer, por razões intuitivas, em relação à EDA.
Curiosa é a incongruência (politica e ideologicamente descredibilizante para ambos), de um governo PS que defende a manutenção da SATA em mãos públicas, enquanto hesita clara e perigosamente no que diz respeito à EDA...E do maior partido da oposição, o PSD, que defende claramente a manutenção da EDA em mãos públicas, e, simultaneamente, está por detrás de todas as manobras e pressões para privatizar a SATA e entregar a rota PontaDelgada/Lisboa às ganas oportunistas da Easy Jet ou da Ryanair...
E aqui é que vem o motivo para o título desta crónica:
O PS tem maioria absoluta na ALRAA, podendo com ela, potencialmente, impor neste mandato, a privatização da EDA, e o PSD, se viesse a obter essa maioria no próximo, poderia por sua vez impor a privatização da SATA, ficando os Açores a perder as duas.
Uma pequena quantidade de votos, não perdidos para a abstenção ou para o voto nulo ou branco, mas em partidos coerentes com a defesa destas empresas em mãos públicas, retiraria a maioria absoluta aos dois e seria suficiente para garantir que os Açores não perdessem nem uma nem outra...
Será que é necessário dizer algo mais sobre este exemplo tão claro da utilidade de um voto, ou sobre os inconvenientes das maiorias absolutas?
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 3 de julho de 2013

A DESPROPÓSITO…Já que vêm aí eleições antecipadas

Estiveram por aí no mês passado, a coberto de um dito “Fórum do Turismo” promovido pela Câmara de Comércio e Indústria de Ponta Delgada, uns senhores promotores das companhias aéreas low cost, o diretor da Easy Jet e um senhor Professor Doutor qualquer coisa, apresentado como especialista na área de transportes, a defenderem a privatização da SATA enquanto dá lucro e a dizerem, entre outras tolices gananciosas, que a Região lhes devia conceder a rota Ponta Delgada/Lisboa porque era um modelo de negócio rentável e porque as empresas são melhor geridas pelos privados que pelo Estado. Tudo isto para “ajudar” o desenvolvimento turístico dos Açores…

Ora o chavão deste tipo de gente, de que a gestão privada é sempre melhor que a pública desmente-se facilmente pelos próprios, quando apenas pretendem privatizar o que o Estado ou a Região, gerindo pior ou não, já rentabilizaram e puseram a dar lucro. Grande vantagem, não é? Assim também eu…Para provar a veracidade de um tal chavão, seria antes necessário ver esta gente demonstrar interesse em agarrar empresas que na mão do Estado ou da Região (por má gestão?) gerassem prejuízo, não será assim?

É como o outro: “A descer, todos os santos ajudam”. Interessante seria que ajudassem a subir, não acha caro Leitor?

E o senhor Professor Doutor qualquer coisa, disse ainda, com naturalidade, quando entrevistado no telejornal: “Entreguem-nos a rota Ponta Delgada/Lisboa, para nós rentabilizarmos, e pegamos também no resto (voos inter-ilhas incluídos) se a Região financiar os custos dessas operações”…Está-se mesmo a ver qual a essência da vontade destes iluminados!

Por mais mal gerida que seja a SATA, e não faltam razões de queixa, a essência hiper-estratégica da companhia para a Região aconselha vivamente a sua permanência em mãos públicas para cumprir o serviço que presta aos açorianos e aos Açores, não por interesse mas por obrigação, nada disso impedindo que seja discutida e cuidada a sua gestão, bem como a intervenção política no sentido do indispensável abaixamento do custo das passagens.

Como se dizia, por exemplo, em relação ao BCA (e aí está hoje bem visível o erro de palmatória que foi a privatização daquele banco), o mesmo se pode dizer, por razões intuitivas, em relação à EDA.

Curiosa é a incongruência (politica e ideologicamente descredibilizante para ambos), de um governo PS que defende a manutenção da SATA em mãos públicas, enquanto hesita clara e perigosamente no que diz respeito à EDA…E do maior partido da oposição, o PSD, que defende claramente a manutenção da EDA em mãos públicas, e, simultaneamente, está por detrás de todas as manobras e pressões para privatizar a SATA e entregar a rota PontaDelgada/Lisboa às ganas oportunistas da Easy Jet ou da Ryanair…

E aqui é que vem o motivo para o título desta crónica:

O PS tem maioria absoluta na ALRAA, podendo com ela, potencialmente, impor neste mandato, a privatização da EDA, e o PSD, se viesse a obter essa maioria no próximo, poderia por sua vez impor a privatização da SATA, ficando os Açores a perder as duas.

Uma pequena quantidade de votos, não perdidos para a abstenção ou para o voto nulo ou branco, mas em partidos coerentes com a defesa destas empresas em mãos públicas, retiraria a maioria absoluta aos dois e seria suficiente para garantir que os Açores não perdessem nem uma nem outra…

Será que é necessário dizer algo mais sobre este exemplo tão claro da utilidade de um voto, ou sobre os inconvenientes das maiorias absolutas?