"Catástrofe" ou "Tempestade", o que é preciso é travá-las!

mario_abrantesEsta semana vamos a votos para as autárquicas mas até parece que é para outras eleições quaisquer. Se assim não fosse, seria totalmente descabido que alguém do mundo exterior ao meu país se viesse intrometer ou mesmo fazer chantagem com o meu potencial voto para o concelho ou para a freguesia onde sou eleitor. E caso o fizesse, só estaria evidentemente a meter o bedelho onde não era chamado, restando-me a mim fazer o que deveria ser feito, isto é, mandá-lo simplesmente à fava, não é assim?

Pois é, mas nas atuais circunstâncias em que este país vive, a lógica é uma batata e passa-se exactamente aquilo que não era suposto passar-se.

O Wall Street Journal, na segunda-feira da semana em que Portugal vai a votos autárquicos, escreve que, “terminadas as eleições na Alemanha, para a zona euro, Portugal surge no topo dos problemas urgentes”. Partindo do pressuposto que, apesar da contestação atual, o PS, se fosse para o governo, faria o mesmo (aqui até sou capaz de concordar, lembrando-me do governo Sócrates ou de François Hollande), publica uma lengalenga em que diz que Portugal está a “cozinhar uma possível tempestade” se o governo de Passos Coelho não reduzir ainda mais o sector público, pagar ainda menos aos seus trabalhadores e se não liberalizar ainda mais o mercado de trabalho, acabando a acentuar que as decisões do Tribunal Constitucional sugerem que há mais interesse em proteger os privilégios (quais “privilégios”, é que não explica) do que exercer responsabilidade sobre a economia em geral…

Por seu lado, e ainda mais direto, Nouriel Roubini, conhecido como o “senhor Catástrofe”, veio na sexta-feira passada falar com a Ministra das Finanças e dizer aos portugueses (numa intromissão externa execrável e sem precedentes) que os mercados é que mandam e, se o governo PSD/CDS não vir as suas posições reforçadas nas eleições autárquicas, ou se houver eventuais novos chumbos do Tribunal Constitucional às reformas estruturais (o nome que dá aos cortes das pensões ou à, felizmente, chumbada requalificação da função pública), então o segundo resgate será inevitável…

Entretanto por cá, simulando alheamento a estes recados, a troika anda a “trabalhar” sobre eles com o governo PSD/CDS, mas ambos se mantém caladinhos que nem ratos…até à próxima segunda-feira pós-eleitoral.

E aí sim, encomendados que foram a outros os recados pré-eleitorais, e caso vejam reforçadas as suas posições eleitorais, serão estes últimos a anunciar, adicionando-lhe um “segundo resgate” ou um “programa cautelar”, as verdadeiras tempestades e catástrofes, isto é, mais cortes na saúde, mais baixas de salários na função pública, a baixa do salário mínimo, mais impostos, os cortes das pensões, e por aí fora sem parar, num rumo iniciado pelo acordo a três partidos com a troika, que o governo PSD/CDS tanto se orgulha de continuar a prosseguir e até a ultrapassar…

Para ajudar a desviar o rumo dessas tempestades e catástrofes, é preciso por isso que os “simpático(a)s” fulano(a)s que concorrem às autárquicas pelo PSD, CDS e mesmo pelo PS, digam-se ou não independentes, digam-se ou não contrários às politicas do governo central (lembram-se de Berta Cabral e por onde anda ela agora?), fiquem um pouco para trás do nosso sentimentalismo eleitoral, e tenhamos mais presente que, o voto no PSD, no CDS e mesmo no PS, ou a abstenção, constituem a forma menos acertada de prevenir os males que essas tempestades ou catástrofes, umas atrás das outras, nos continuarão a provocar por tempo indeterminado…

 

Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 24 de setembro de 2013