Após as polémicas (mais outras) declarações de Rui Machete, que me dispenso de reproduzir aqui dada a natureza absolutamente acessória de tais dislates para o futuro do país, quando aquilo com que ele se vê confrontado em termos de governação no seu conjunto é muito mais grave do que isso, dever-nos-ão preocupar por igual as declarações subsequentes de António José Seguro apelando a Passos Coelho para que "ponha juízo nos seus ministros".
Então problema é esse? Falta de juízo dos senhores ministros? A opção é pela resignação subliminar à continuação desta política, desde que os senhores ministros tomem juízo?
Estando absolutamente claro o rumo de desastre nacional que está a ser seguido (mais do que sem juízo, sem vergonha e de forma atabalhoada) peço imensa desculpa mas do que precisam os portugueses é de tudo menos acrescentar juízo aos ministros do governo de Passos e Portas. Precisam isso sim é que o seu governo desampare a loja rapidamente e que lhes seja devolvida a possibilidade de terem voz sobre os destinos do seu país.
Portugal e os portugueses estão confrontados com uma ofensiva poderosa, comandada do exterior, que a um ritmo alucinante, também graças ao aval inicialmente dado à entrada desse cavalo de Trói(k)a e às atuais indecisões e fraqueza de uma certa oposição, está a vender o país a retalho e a atirar a vida dos portugueses para um inferno de sacrifícios sucessivos e sem fim à vista reduzindo-os à condição de simples objetos de extorsão contínua de direitos e rendimentos vitais. Uma ofensiva que lhes está a tirar a casa, o trabalho, a saúde, o pão e a paz.
Perante este quadro e um claro assédio de cumplicidade com ele a que o PS está a ser sujeito, reergue-se, como se ergueu antes na luta pela liberdade contra a ditadura de Salazar e Caetano, uma referência indispensável à resistência popular organizada, à unidade e à luta dos portugueses contra a resignação e a submissão e pela (possível e necessária) alteração do caminho de desfiguração do país e da pátria portuguesa que está a ser percorrido.
Apesar do tapume isolante assente por muitos órgãos da comunicação social à volta do acontecimento, por ocasião da celebração do 100º aniversário do nascimento de Álvaro Cunhal, a praça do Campo Pequeno em Lisboa encheu no passado sábado para reiterar que existe um partido disponível para fazer uma aliança, não com a troika ou com o governo de Passos e Portas, uma aliança não para rever a Constituição Portuguesa ou combinar qualquer programa de desmantelamento do Estado Democrático e de continuidade do garrote da austeridade e do empobrecimento, mas para fazer sim uma aliança com o povo e com os trabalhadores, com movimento sindical e o movimento popular, para combater a resignação e assegurar a (possível e necessária) defesa organizada e sistemática do país e da Democracia face a uma autêntica guerra que lhes foi unilateralmente declarada e que está em curso sob o alto comando do capital financeiro nacional e transnacional.
Não é de juízo que os senhores ministros precisam, do que precisam é da oposição de uma frente alargada (onde pontuarão com certeza muitos socialistas e sociais-democratas) formada por quem se oponha firmemente às suas políticas e ao cumprimento de sucessivos novos programas troikistas de traição nacional, mostrando-lhes pela ação e pela luta que devem sair porque há um país e um povo para além da troika...
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 16 de novembro de 2013