Como tem acontecido com o BES, existem situações que, por cumplicidade política, interesses pessoais ou missão subliminar de correia de transmissão do poder político e económico visando manipular a plateia de encaixe a que se dirigem (o zé povinho...), esforçados comentadores como Marques Mendes, Marcelo Rebelo de Sousa ou, através do seu silêncio, também neste caso Miguel Sousa Tavares, se afoitam em deturpar ou esconder, violando a regra democrática básica de salvaguarda da independência perante os poderes político e económico das entidades que prosseguem atividades de comunicação social. E também nesta vertente, como na política e económica, os culpados vão passando sem se molhar por entre as gotas da chuva, já que a Entidade Reguladora para a Comunicação Social aparenta ter pouco interesse em tocar no assunto...
Ora, com o BES, a evidência da gravidade dos factos que em catadupa vêm envolvendo a situação putrefacta do setor financeiro em Portugal e da maioria dos agentes nele envolvidos, obriga esses esforçados comentadores a desdizerem hoje o que disseram ontem, e, como a memória ainda não encurtou tanto assim, leva ao menos essa gente a ir perdendo algum crédito...
Mas existem outros silêncios pouco saudáveis em termos de informação como aquele que se abateu sobre a tragédia do avião malaio desde que começou a existir a possibilidade de a sua explosão ter sido afinal provocada por disparos de caças ucranianos. Ou como aquele que se abateu sobre a Síria e o desastroso apoio dos EUA a grupos terroristas (e assassinos confessos que degolam jornalistas) contra o governo de Assad.
E o silêncio absoluto sobre a outra face do senhor Jean Claude Junker o substituto de Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, designado no Parlamento Europeu pelo PPE (o partido onde está o PSD e o CDS portugueses), com o apoio dos deputados do PS e ainda do deputado Marinho Pinto (a madalena política arrependida a almejar candidatar-se a outros cargos em catadupa).
Foi toda uma manobra subterrânea internacional para impor este nome, a qual passou em boa parte pelo Congresso do PPE realizado em março passado na Irlanda, onde quaisquer outras alternativas possíveis foram abafadas dentro da própria área política do senhor Junker.
Um senhor que ao fim de 18 anos (de 1995 até 2013) como primeiro-ministro do Grão Ducado do Luxemburgo, optou por renunciar ao cargo na sequência de uma sucessão de denúncias sobre o seu alegado envolvimento operacional com a organização "Gládio" dos Serviços Secretos da Nato, uma organização que alguns dizem já não existir, mas que, em cooperação estreita com a secreta luxemburguesa, montou ficheiros com dados pessoais abrangendo 2/3 dos seus compatriotas, participou em operações de espionagem e chantagem, e inclusivamente esteve ligada a ataques bombistas naquele país.
Não foi certamente inocente a imposição deste nome para a Presidência da Comissão Europeia. Dele e das suas ligações à "Gládio" fica desde logo a péssima imagem (não sei se envergonha quem o apoiou), mas, além disso, é de esperar no futuro pela sua tentativa de reforçar a amarração da UE aos interesses dos EUA, facilitando a sua penetração nos mercados dos estados-membros, através da acentuação da perda das respectivas soberanias...
Depois do pacóvio Barroso (como lhe chama Batista Bastos), nada de novo portanto no destino espúrio, enviesado e sem ética desta UE!
Artigo de opinião de Mário Abrantes, publicado em 30 de agosto de 2014